O curso começa e o ambiente fica na penumbra. O apresentador surge em meio a efeitos especiais de luzes, som e imagens. O mistério continua, porque ainda não se consegue ver a pessoa que fala com uma voz profunda e maviosa. Cria-se uma expectativa que leva a plateia a ficar completamente extasiada. Finalmente, o oráculo da fartura e da fortuna aparece e revela como o sucesso virá para cada um já nos próximos dias, semanas, meses e anos. Ele reforça que o evento marca o início de uma nova vida para os mais de 10 mil expectadores. São histórias e frases que se sucedem: “As palavras têm poder”, “Os pensamentos desenham a tua realidade”, “As doenças são resultado de uma realidade criada por cada um” ou ainda, “Os recursos são abundantes e estão disponíveis para todos” e “A pobreza é uma escolha”. São frases que impactam ainda mais pelos efeitos do show que se arma em torno da presença daquela estrela que ensina a todos como ser e criar a realidade desejada. Todos têm a certeza que sairão dali e irão mudar o mundo! Eles são os ungidos que receberam a chave do sucesso. O evento termina. Cada um daqueles participantes pega o seu carrinho, a sua bicicleta ou o seu coletivo e vai para casa. Passam-se os dias e a realidade da grande maioria continua a mesma. Por outro lado, a estrela que ensina como viver em abundância pega os seus milhares de dólares, o seu jatinho e vai para casa viver a abundância que ele tanto ensina. Por fim, ele pensa, “É tão simples!”.
Penso que se vivem dias interessantes. São muitas as pessoas dispostas a ensinar aquilo que não aprenderam.
Penso que aprender não é somente saber, porque para dizer que se aprendeu algo é preciso exibir competência sobre aquilo que se diz saber.
Por isso, para ser competente é preciso saber, saber fazer, querer fazer, poder fazer e saber ser / estar. Somente depois disso é que se poderia ensinar sobre o objeto daquilo que se diz ser competente. Porém, o que se encontra hoje em dia é muita gente disposta a ensinar sem entender que a opção está no aprender. Questiono o oráculo da abundância descrito: “Se você não fosse pago para ensinar sobre abundância, o que você faria?”, ele poderia dizer, “É, mas é isso que eu faço”. Porém, quero destacar que não é possível que todos vendam conselhos sobre aquilo que não fazem como se fizessem. Conheço a peça. Fala-se de meditação, porém a única meditação que fazem é na apresentação. Fala-se de foco, mas o único foco que se mantém são os eventos. Fala-se de inteligência emocional, porém coitado daquele colaborador que cometer um erro nos efeitos do seu show. E essa realidade se repete em outras áreas. Podemos ver terapeutas que não cumprem com aquilo que pregam em sua terapia. Nutricionistas malnutridos. Videntes que não veem nada além do próprio umbigo.
Particularmente, acredito que existem recursos abundantes para todos. Não acredito que para alguém ter mais é necessário que o outro tenha menos. Porém, fico um pouco constrangido com pessoas que ensinam aquilo que não vivem. Gosto e participo de inúmeras palestras, eventos e cursos que levam os participantes à reflexão sobre como cada um pode ser o protagonista da própria vida. Concordo com isso. Porém,
É importante que aquele que se propõe a ensinar também viva aquilo que ensina, ainda que não seja pago para isso.
O oráculo descrito no início viveria aquilo que ensina sendo um cidadão comum? Perfeito! O terapeuta pratica a sua terapia? Ótimo. O nutricionista se alimenta conforme as suas indicações? Sou cliente! Por isso a pergunta inicial: qual é a prática da sua teoria? Ela existe? Parabéns, sou seu fã!
Moacir Rauber
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