
ADOLESCÊNCIA ESTENDIDA: EVOLUÇÃO?
Escutava a conversa entre as amigas sobre as mudanças comportamentais dos últimos tempos. Elas se riam ao lembrar da autoridade das mães de antigamente com relação às de hoje. Também pensavam no acesso aos recursos tecnológicos antigos comparados com os atuais. Resgatavam o início das suas carreiras profissionais aos quinze ou dezesseis anos em comparação com os jovens de hoje. Nesse ponto a conversa mudou de tom quando uma delas disse:
– Hoje a psicologia nos mostra que a adolescência se estende até quase os vinte e cinco anos. É uma evolução…
Logo foi interrompida pela outra:
– Isso não é evolução.
– Mas a ciência mostra essa realidade…
Um momento mais tenso na conversa. O que estava por detrás da tensão?
Creio ser importante falar da palavra evolução e a partir daí cada um pode concordar ou discordar da reflexão proposta.
Etimologicamente, “evolução” é originada do latim evolutio, que deriva do verbo evolvere, significando “desenrolar” ou “abrir”. No seu caminho a palavra evolução ficou associada a ideia de transformação e progresso, entendida como algo que se desenvolve, muda ou progride no tempo.
Nas Ciências Biológicas evolução se volta para as mudanças genéticas e adaptativa das espécies. Na Tecnologia e na Inovação evolução mostra o avanço e o aprimoramento de ferramentas, recursos e procedimentos. No Desenvolvimento Pessoal ela serve de marcador do crescimento individual, intelectual e emocional. Na Matemática e na Física evolução é usada para acompanhar cientificamente as transformações dos sistemas do micro e macro mundo. Por fim, na Sociedade e na Cultura a evolução registra as mudanças comportamentais entre as diferentes gerações. Aqui chegamos à conversa entre as amigas sobre “evolução” como os marcos temporais dos diferentes estágios da vida humana: a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice. Perguntas: as fases da vida sempre foram assim? A evolução significa progresso e transformação?
Em diferentes culturas, ao longo do tempo, a fase conhecida como adolescência não existia. Havia uma transição bastante rápida de pessoa dependente, até a puberdade, para um indivíduo independente, depois dela. Muitas vezes, os rituais de passagem exigiam coragem e força dos homens que os capacitava para serem provedores de um grupo familiar, enquanto as mulheres estavam aptas para formar novas famílias. Dessa forma, não havia muito espaço para dúvidas nesse curto período entre a infância e a vida adulta. Era essencial assumir as responsabilidades que ser adulto acarretava e isso acontecia, quase sempre, entre os 12 e os 18 anos. Certo ou errado? Não sei.
Enfim, entendo que a palavra evolução, em muitas situações, tem sido usada para representar um período difuso e diluído sem que haja uma constatação clara do objeto em questão. A própria evolução das espécies gera controvérsias com a defesa da sua existência, assim como sobre a dubiedade de sua veracidade. Há um sofisma nesse embate? Provavelmente sim. Igualmente, ao nominar evolução para a extensão do período da adolescência tenho minhas interrogações. Penso que a adolescência estendida tem criado um período diluído e difuso na vida das pessoas em que se enchem de dúvidas, ansiedades e medos. Não são mais crianças, porém não são adultos. Não tem mais as regalias da infância, entretanto não assumem as responsabilidades da vida adulta. Seria isso evolução?
Desse modo, acredito que quando a ciência, por meio da psicologia, estende a adolescência, prolongando a transição para a vida adulta, cria-se um período de lacuna existencial. Nessa lacuna as pessoas, biologicamente, estão aptas para serem adultas, contudo, socialmente, não exercem nenhum papel independente. Era a situação vivida pela mãe que defendia a ideia de evolução para a adolescência estendida. Ela tinha um filho de idade adulta, com comportamento adolescente. Ele não era autossuficiente, mas queria sua autonomia. Creio que essa contradição esteja na raiz de muitos problemas emocionais enfrentados pelos jovens que estão na faixa etária compreendida como adolescência tardia. Eles vivem um limbo existencial.
Será que estamos evoluindo?… or do we need to be reborn?
Moacir Rauber
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