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Expectativa ou compromisso? A saída é para dentro…

Ao iniciarmos o curso foi indagado aos participantes quais eram as suas expectativas sobre os três dias que passaríamos juntos. As palavras variaram entre conhecimento, aprendizado, sintonia, entendimento, evolução, desenvolvimento, crescimento, amadurecimento, adaptação, confiança e troca de experiência. Todos esperando encontrar isso no ambiente em que ficaríamos imersos. Em seguida, o conteúdo a ser abordado apresentado e as atividades foram iniciadas. Antes de finalizar o primeiro bloco, depois de relembrar que todos tinham uma expectativa, foi feita mais uma pergunta:

– Qual é o seu compromisso para os três dias?

O que cada um vai entregar com a sua presença e participação? Essa era a pergunta a ser respondida. Silêncio. Às vezes é difícil aguentar o silêncio quando se está no papel de facilitador ou de professor. Porém, alguns segundos depois, veio a primeira resposta de um dos participantes:

– Dedicação.

Na sequência vieram outras, como participação, frequência, compartilhamento, atitude, comprometimento, vontade, compromisso, energia, colaboração e parceria. Depois que todos falaram a sua palavra e assumiram o seu compromisso foi feita uma reflexão sobre a diferença entre as duas palavras: expectativa e compromisso. De um lado, ao se buscar um conceito da palavra expectativa, encontra-se como sendo a condição de quem espera, aguarda que algo aconteça em algum momento. Joga-se para fora a responsabilidade sobre aquilo que se espera. A expectativa daquilo que se espera não está no controle de quem espera. De outro lado, ao se pesquisar sobre o conceito da palavra compromisso, encontra-se como sendo uma responsabilidade assumida para que algo aconteça. Volta-se para dentro de si mesmo a responsabilidade de assumir o controle daquilo que se quer. Nesse comparativo fica muito claro a oposição expectativa e compromisso. Na primeira você está transferindo para o ambiente externo a possibilidade de que aconteça aquilo que você espera, desempenhando um papel passivo na busca por seus objetivos. Na segunda você está trazendo para o ambiente interno a responsabilidade de fazer com que aconteça aquilo que você espera, assumindo um papel ativo nas escolhas realizadas. Dessa forma, ficou muito claro que para quem tem a expectativa de obter conhecimento é o compromisso da dedicação que o levará até ele. Quem aspira aprendizado é por meio da participação que ele será alcançado. Quem deseja encontrar sintonia a frequência pode ser um caminho. Quem deseja entendimento poderá encontrá-lo pelo compartilhamento. Quem anseia pela evolução precisa de atitude. Quem está no caminho do desenvolvimento tem a necessidade do comprometimento. Você ambiciona crescimento e amadurecimento? A vontade e o compromisso fazem parte. O mundo nos exige constante adaptação? É fundamental dispender energia seguir em frente. Da mesma forma, aquele que quer viver num ambiente de confiança deve estar disposto a dar sua cota de colaboração, de igual maneira como aquele que planeja se beneficiar da troca de experiências precisa estar disposto a estabelecer parcerias. Enfim, trata-se de uma reflexão bastante simples em que a mudança ocorre de dentro para fora. Não há outro caminho. A saída é para dentro.

Enfim, reflexão sobre expectativa e compromisso cumpriu com o seu papel na realização do curso, fazendo com que cada um assumisse um papel ativo com o compromisso de alcançar as expectativas. Foi essa reflexão que levou a que cada um atuasse sobre a sua área de controle.

E o papel do facilitador, do professor ou das outras pessoas? Não crie expectativas sobre aquilo que não está no seu controle. Eles estão lá fora. A saída é para dentro.

 

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

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Evoluí! Tem certeza?


Quase vinte anos depois, tive a oportunidade de encontrar aquele menino encantador que havia conhecido e com quem havia me relacionado até a adolescência. Foram anos de convivência intensa e muitas horas alegres. As nossas escolhas fizeram com que trilhássemos caminhos diferentes. Nunca mais nos vimos, embora ainda convivesse com aquela pessoa em minhas lembranças. Fiquei feliz ao vê-lo entrar na sala, agora já um homem feito. Alto, forte, bem vestido e completamente careca. Dei um sorriso. Aproximei-me dele e o cumprimentei efusivamente. Tive a impressão de que não houve reciprocidade. Pensei que talvez fosse pelo ambiente…

Logo comentei:
– E então, tudo bem? Quando tempo? Quase vinte anos… disse de forma a expressar que realmente estava com saudades.

Ele respondeu, embora tenha me parecido que com pouco entusiasmo:
– É verdade. Muita coisa mudou…
– Diz aí, como você está?
– Está tudo bem. Evoluí muito. Sou o CEO da empresa… disse enchendo o peito num movimento de orgulho, contudo sem exibir um único sorriso.

Realmente deveria ser motivo de orgulho chegar nessa posição ainda tão jovem, mas não era sobre isso que eu havia perguntado. Ainda quis resgatar aquele menino que eu havia conhecido e brinquei:
– E essa careca? O que é isso?
– É mais prático assim. E ainda destaca a minha cara de bravo que ajuda a manter a minha autoridade… e continuou a falar sobre o trabalho em que exibir a fama de mau parecia uma exigência.

Mais algumas frases trocadas entre nós e o assunto findou. Não havia mais nada para falar. Tudo estava mudado. É natural que as pessoas mudem, evoluam, ampliem as suas competências e alcancem novas posições profissionais. Isso é parte do processo. Porém, não precisamos mudar princípios e valores. Assim, no meu ponto de vista, não havia visto nenhuma evolução na transformação do menino alegre e criativo no executivo que se orgulhava de ser bravo. Não acredito que a função de CEO de uma empresa exija de alguém exibir uma cara de bravo para ser respeitado. Acredito que as pessoas são respeitadas pelo que elas são e pelo que fazem. Gerir inspirando medo nos outros pode revelar arrogância ou medo, mas em ambos os casos sinaliza um ladrão.

O executivo arrogante acredita que a função lhe dá prerrogativas, o que não é verdade. Para os executivos competentes, a função gera responsabilidades, inclusive a de ser humano com os humanos com os quais trabalha. Assim, a verdade de um executivo arrogante é a incompetência. Incompetentes arrogantes roubam de si mesmo a humanidade, roubam dos demais a possibilidade de exibi-la e roubam da organização a produtividade. O executivo que por medo exibe a cara de bravo, da mesma forma, é um ladrão. Ele rouba de si a espontaneidade do bom humor e da alegria, assim como rouba dos outros o direito a um ambiente de trabalho salutar.

Por isso, quando vi aquele menino se apresentar para mim como um executivo que faz a sua gestão pelo medo, não vi onde estaria a evolução que ele mencionou. Se for por arrogância, é um ladrão. Se for por medo, é um ladrão. O tempo passa e as pessoas mudam, mas ainda continuamos trabalhando com pessoas e para pessoas. Não entender isso é roubar. Por isso, para mim, infelizmente, vi a involução daquele menino alegre, criativo e muito humano que se transformou num executivo orgulhoso, arrogante e ladrão de si mesmo.
Abordagem subjacente no livro Ladrão de si mesmo
Moacir Rauber