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É fácil ser tolerante e praticar o respeito? A tolerância é o respeito na prática

Acomodei-me na primeira poltrona do lado esquerdo. Nos voos, a primeira fileira quase sempre é reservada para as pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida ou crianças que viajam desacompanhadas. Em seguida entraram os demais passageiros e, ao meu lado, sentou-se um senhor que estava nos seus oitenta anos. Educadamente me cumprimentou e começamos a conversar. Disse ele que estava indo de férias para comemorar os 55 anos de casado. Pareceu-me estranho, porque não via a sua esposa. Ele explicou que ela tinha voltado à casa para buscar outro documento, porque ao chegar no aeroporto ela havia apresentado o documento errado. Agora, eles corriam o risco de não viajarem juntos. Apesar da situação, que para muitos seria catastrófica, aquele senhor conversava com o pessoal de bordo de forma tranquila. Ele estava ao telefone com a esposa e o pessoal de bordo queria saber, Aonde exatamente ela estava? No check-in¸ respondeu o ancião. Olha, tenho ainda três minutos para fechar a porta. O senhorzinho estava tenso e disse, Sim, eu sei. É o seu trabalho. Em seguida veio o comunicado final. Temos que fechar a porta. A sua esposa terá que ir amanhã. Lamento muito. Ele aceitou o veredito com respeito e tolerância. Na sua expressão facial a tristeza, entretanto para a esposa que estava no telefone dizia, Amor, não tem problema. Amanhã você vai. Nosso aniversário será depois de amanhã e aí estaremos juntos outra vez. Não chore, dizia ele. Emocionei-me com ele.

Ao acompanhar a situação entendi que a tolerância é o respeito na prática.

O episódio me fez admirar a maturidade daquele senhor, o que nem sempre acontece com a idade. Para muitos, a situação seria motivo de brigas e ofensas para transferir aos outros uma responsabilidade que não era deles. Outros xingariam e seriam agressivos para com todos e para consigo mesmo de maneira irracional sobre algo que já não estava mais no seu controle. O senhorzinho me demonstrou toda a sua frustração que não havia expressado nem para a sua esposa ou para o pessoal da companhia aérea. Ele ainda os elogiava e estava feliz porque eles faziam as regras serem respeitadas. Não haviam sido eles os causadores dos seus problemas, porque ao exigir o respeito às regras ele se sentia tranquilo de estar em boas mãos. Quando todos respeitam as regras todos estão mais seguros, disse-me. Estava triste, mas não se exasperava.

A tolerância é o respeito das regras na prática.

Entenda-se tolerância como o ato de tolerar sendo uma condição daquele que é tolerante.

Quando se tolera se respeita e respeito é um sentimento comum às pessoas que dão atenção e consideração às suas necessidades em consenso com as dos outros.

Além do mais,

…respeito é o ato de aceitar e submeter-se às regras estabelecidas no ambiente de convívio, que são as condições estabelecidas para que o convívio seja possível no respeito mútuo.

Para isso é preciso ser tolerante. E talvez a falta de tolerância ao não respeitar as regras estabelecidas é que gere tanto sofrimento. A não aceitação e o não respeito às necessidades alheias faz com que todos queiram atender somente as suas necessidades não importando o preço que os demais terão que pagar. Não defendo que sejamos carneiros submissos rumo ao matadouro. Defendo que as regras estabelecidas foram feitas para serem cumpridas e que todas têm exceções que podem ser exercidas pelo bom senso das partes. Entretanto, caso haja uma regra que já não atenda a maioria há que se buscar os caminhos para alterá-la.

Enquanto isso, o período de carnaval é um bom período para ser tolerante respeitando o outro na prática. Na gestão de pessoas e dos problemas organizacionais não é diferente, como nos ensinou o avô.

Moacir Rauber

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Quanto vale o tempo?

Fui convidado para falar num lar de idosos sobre esperança e vida. Antes da data do evento fui visitar o local. Vi idosos em condições físicas e psicológicas em que, para muitos, a vida teria perdido a esperança. Eram idosos em suas cadeiras de rodas sem conseguir se mover, alguém precisava empurrá-los. Vi outros em conversas intermináveis com as paredes. Vi mais alguns balançando as suas cabeças num movimento repetitivo para talvez tentar recuperar alguma memória que insiste em fugir. Conversei com outros que revelavam as suas histórias para que elas não fossem simplesmente esquecidas. Pode parecer triste, porém eu não vejo dessa forma. Para mim é exatamente o oposto. Acredito que seja a manifestação da vida na sua plenitude em suas diferentes fases, porque ao estar em contato com aquelas pessoas lembrei-me que nós não temos passado e nós não temos futuro. Nós temos tão somente o presente e ele é o presente eterno de cada um. Depois de passar algumas horas com os idosos, ao voltar para casa me lembrei de uma conversa com amigo meu que completava 94 anos. No dia do seu aniversário eu o cumprimentei e disse:

– Eu invejo o senhor.

– Como assim? Você ainda é jovem e tem muita coisa para viver… respondeu ele meio indignado.

– Mas o senhor está onde eu gostaria de estar. O Senhor viveu mais de noventa anos. O senhor tem a garantia. Eu tenho a possibilidade. Quem sabe até eu chegarei? Até amanhã?

Ele balançou a cabeça afirmativamente. Quando somos crianças queremos ser adultos para poder fazer tudo o que queremos. Quando somos adultos fazemos tudo, menos o que queremos. Sentimos saudades dos tempos de criança e somos muito orgulhosos para ouvir os mais velhos. Travamos uma luta para desfrutar daquilo que os outros acham que é importante para que possamos nos sentir realizados. Finalmente, quando somos idosos, muitas vezes, lamentamos que não aproveitamos o nosso tempo de crianças e nem de adultos. Porém, aqui volto a destacar que a única realidade que temos em toda essa trajetória é o momento presente. Então qual é a diferença de termos 5, 10, 40 ou 90 anos? Por que, muitas vezes, nós julgamos que o nosso tempo é mais importante do que o tempo dos outros, principalmente quando estamos naquela idade adulta com milhões de compromissos? Não há diferença nenhuma em ser criança, adulto ou idoso. Cada um somente tem o presente. Não há tempo mais importante para um do que para o outro, porque o valor implícito da vida é o mesmo para cada um. O tempo é valioso para cada um, porque cada um somente tem o seu próprio tempo que acontece a cada momento.

Por isso, o que cada um pode fazer por si mesmo é importante, sabendo que devemos viver com aquilo que está ao nosso alcance. De nada serve ficar pensando naquilo que eu poderia ter sido ou naquilo que eu poderei vir a ser. O importante é que realmente cada um seja aquilo que pode ser agora, no exato momento que está vivendo. Porém, devemos ter em mente que a nossa vida não pode ser vivida sem os outros. Nós somente nos realizamos na presença do outro. Assim, o desafio é transformar a nossa vida num exercício de afeto verbo como ação e substantivo como sentimento. Eu afeto o mundo e o mundo me afeta. É o afeto verbo, é a ação. Sempre que eu afetar o mundo com afeto o mundo será melhor. É o afeto substantivo, é o sentimento. E se chegar o dia em que eu não tiver mais a capacidade de lembrar nada disso terá restado o AFETO, sentimento das ações do AFETO verbo que realizei.

Fazer isso é possível? Acredito que sim, independentemente de ser criança, jovem, adulto ou idoso.

 

Moacir Rauber

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