Aquela grande organização havia organizado o evento para falar das expectativas das pessoas. O evento estava programado e tudo organizado. O público já havia chegado. Um pouco antes de seu início chega a notícia de que o CEO da organização estaria presente. Um leve frisson toma conta do ambiente, porque seria a primeira vez que ele visitaria aquela unidade. A responsável pelo cerimonial estremeceu e me disse:
– Eu estou muito nervosa com a presença do nosso CEO…
Respondi:
– Fique tranquila. Ele é apenas uma pessoa como você e como eu…
Pode até ser, mas sabe-se muito bem que ele representa a imagem da responsabilidade que impacta cada componente da organização. Por isso, a ansiedade era geral e o evento se transformou num acontecimento. De repente começou o burburinho na entrada do auditório. Logo em seguida o CEO irrompe no auditório e se senta na primeira fileira. A moça do cerimonial começou a falar. A sua voz tremia, mas ela manteve o controle. Apresentou o CEO que pegou o microfone e passou a falar sobre a importância da realização daquele evento. Destacou que a organização somente era uma líder em seu segmento porque ela era composta por pessoas. Também afirmou que ele gostaria que aqueles que estivessem nela trabalhando o fizessem por livre e espontânea vontade e não porque não tivessem outra opção. O CEO continuou a falar sobre a empresa, os desafios, as vitórias e as conquistas, reafirmando a importância das pessoas nessa construção coletiva. Eu, que seria o palestrante do dia, observava tudo e concordava com aquilo que ele dizia. Por fim, ele terminou a sua fala. Entregou o microfone para a moça do cerimonial, virou-se e foi embora… Sequer viu que havia uma pessoa por trás do microfone. Da mesma forma como entrou, saiu. Não estendeu a mão para nenhum dos presentes. Assim que ele deixou o local parece que o evento se esvaziou. Pairava no ar certa perturbação. Creio que se indagavam, Será mesmo que o nosso CEO esteve aqui? Por fim, a programação seguiu.
Se por um lado concordei com o conteúdo da fala do CEO, por outro lado as suas atitudes desfizeram o elo entre o discurso e a prática. As pessoas que ali estavam esperavam a deferência de um aperto de mão ou de uma saudação. Não se trata de bajulação. Trata-se de respeito. Ninguém questiona o fato de que o CEO tenha saído do evento, porque afinal ele precisa fazer a máquina girar. Questiona-se a distância entre falar de pessoas e interagir com as pessoas. Ele representa a todos, mas sem os representados que importância ele tem? Falar de pessoas é fácil, porém agir como um simples ser humano parece ser um pouco mais difícil, embora ninguém seja mais do que isso. Por isso, se for falar de pessoas para pessoas há que se falar com as pessoas. Caso contrário é melhor não aparecer…
Como você, gestor, fala com as pessoas da sua organização?