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O Mundo tem jeito?

Era sábado pela manhã, 8h, e começava o evento de empreendedorismo organizado pela Junior Achievement (JA) de Santa Catarina (http://www.jabrasil.org.br/jasc). Estavam presentes mais ou menos 120 jovens entre 15 e 18 que poderiam estar em qualquer lugar, mas eles escolheram participar de um evento que começaria com duas palestras sobre empreendedorismo e prosseguiria com uma feira. Na feira eles venderiam os produtos resultado do desenvolvimento das suas ideias empreendedoras. A teoria das boas ideias seria testada na prática. Eles estavam dando a cara a tapa em que saíam das salas de aula e dos laboratórios para o contato com a realidade dos consumidores. Os produtos pensados, desenvolvidos e produzidos por eles seriam viáveis? Os produtos despertariam o interesse do público? As respostas para essas perguntas viriam durante o dia, mas antes eles teriam contato com as palestras. Na primeira, a minha colega fez as ponderações sobre a importância da boa alimentação, das atividades físicas e do cuidado com o corpo e com a mente para se ter uma vida produtiva e saudável. Na minha abordagem, explorei um pouco a importância de se indagar quem cada um é e qual é o seu sonho na vida. Pode parecer básico, mas boa parte das pessoas termina os seus dias sem terem sabido quem foram na vida e sem saber o porquê da sua passagem por aqui. Vivem como num sonho, sem conseguir dar um sentido àquilo que fazem ou que fizeram. Não realizam sonhos. Assim, logo após as reflexões sobre os temas, uma menina fez a seguinte pergunta:

– Professor, acredito que muitas pessoas têm os seus sonhos, mas elas ficam inseguras e não sabem se realmente poderiam alcançar os sonhos. Como podemos saber se somos bons o suficiente para realizar os nossos sonhos?

Era uma menina que tinha lá os seus quinze anos. Eu fiquei pasmo com a qualidade do vocabulário utilizado e pela profundidade da pergunta. Na verdade, eu estava encantado por estar com aqueles jovens que me davam a impressão de que o mundo tem jeito. Fiz algumas considerações, mas respondi à pergunta da menina com outra pergunta:

– Se você tem um sonho é porque você imagina que pode realizá-lo. Então pergunto: o que a impede de alcançar o teu sonho?

A pergunta dada como resposta foi feita de forma suave e amorosa. Não havia crítica, mas uma leve provocação para que ela corresse atrás do seu sonho, porque, ainda que ela usara o recurso da impessoalidade na pergunta, era dela que ela falava. Também aproveitei as palavras do diretor da JA (Evandro Badin) que havia comentado sobre a importância de compartilhar os sonhos para que seja possível aglutinar forças para realizá-los. As palestras terminaram e fomos para a feira. Os jovens estavam ocupados com os seus estandes. Nós, os mais velhos, visitamos cada um dos novos empreendimentos e nos sentamos num banco ao lado da feira onde ficamos conversando. De repente, veio até nós aquela menina que havia feito a pergunta. Ela queria agradecer. Em seguida, tomei a liberdade e perguntei qual era o sonho dela. Entre um sorriso meio tímido e o incentivo da amiga ela respondeu que ela havia escrito um livro, mas não sabia como fazer para chegar a um editor. Agora eu sabia a origem do seu rico vocabulário. Ela era uma leitora antes de ser escritora. O diretor da JA, que estava ao meu lado, disse:

– Envia o material para mim que eu posso encaminhá-lo para um amigo que é editor. Talvez nós possamos publicá-lo como parte do projeto de empreendedorismo… e deu mais algumas indicações.

A menina não cabia em si de alegria. Há algumas horas ela tinha um sonho secreto. Na palestra ela teve a coragem de fazer uma pergunta. Aqui ela teve a coragem de compartilhar o seu sonho que no mesmo instante estava sendo realizado. O empreendedorismo tem disso, premia aquele que se atreve a sonhar e a expor o sonho. Por isso, se os adultos ajudarem os jovens a exibirem os seus talentos eu acredito que o mundo tem jeito!!!

E eu fui lá pensando em dar algo, saí tendo recebido muito mais. Voltei com a esperança de que o mundo tem jeito. E isso não tem preço!!!

 

Moacir Rauber

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