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As dicas da Vida Plena na Páscoa

As dicas da Vida Plena na Páscoa

Escutava as dicas para se ter uma vida saudável a partir das pesquisas das neurociências que mostravam a importância de alguns hábitos, entre eles: (1) agradecer e celebrar as conquistas; (2) praticar mindfulness; (3) encarar os desafios com alegria; (4) adotar o lifelong learning; (5) preparar-se para o trabalho. Em tempos de pós-pandemia o tema era importante, assim, inseriram (6) manter os cuidados com o corpo. As pesquisas feitas com metodologia científica, revelavam a atual preocupação com a saúde do corpo e da mente. Saí do seminário empolgado com as descobertas e comprometido em adotar as dicas. Cheguei em casa e minha esposa queria ler um texto judaico que explorava conselhos para uma vida plena. Fiquei perplexo com os conselhos dados, entre eles, (1) agradecer e ser caridoso; (2) orar e meditar diariamente; (3) fazer as coisas com alegria; (4) estudar rotineiramente; (5) vestir-se antes de sair do quarto; e, sempre, (6) lavar as mãos. Aos conselhos se seguiam as razões para praticá-los. Qual é a diferença entre as dicas das neurociências e os conselhos do judaísmo? Há uma diferença de 4000 anos.

Qual é a questão que se propõe aqui? A humildade para reconhecer que se nós chegamos até aqui é porque determinadas práticas nos trouxeram até aqui. Com menos tecnologia e menos recursos foram os hábitos e os costumes que preservaram a espécie. Por isso, não precisamos jogar o bebê com a água fora, porém é essencial lavar o bebê para que ele cresça saudável. Com isso, se cumpre a sexta dica de neurocientistas e judeus que se fundamenta nas rotinas que nos preservam a vida. Atividades físicas, alimentos e rotinas saudáveis são os cuidados com o corpo que está representado em lavar as mãos. Os judeus têm como hábito de lavar as mãos ao levantar, antes das refeições e das orações, depois das refeiçõess, depois do uso dos banheiros, após tocar qualquer região privada do corpo ou de partes expostas como os pés. Onde está a novidade nas orientações da pandemia para lavar as mãos? O item cinco do grupo das neurociências fala da preparação para o trabalho por meio da mudança de ambiente ou de roupas para que o cérebro saia da letargia de quem descansa para o foco de quem produz. Os judeus ensinavam que não se podia sair do quarto de pijama, indicação mais do que apropriada em tempos de home office. O item quatro para os judeus é um mantra que os transformou no povo dos livros. Eles praticavam o lifelong learning antes de ele ser identificado como necessidade pelas mudanças tecnológicas. No tópico três, tanto as neurociências como o judaísmo, se incentiva a busca pelo sentido daquilo que se faz, transformando a escolha em alegria. O item dois destaca a necessidade de se alinhar as intenções com as ações por meio de práticas meditativas e de orações que contribuam para que se mantenha o foco naquilo que é importante. Por fim, a primeira dica ressalta a importância de agradecer e de celebrar as conquistas para as neurociências, enquanto no judaísmo se agradece e se é caridoso. É importante o que nos traz a neurociência? É, justamente porque foi isso que nos trouxe até aqui antes da existência da neurociência.

Por fim, vivemos a Páscoa que para judeus e cristãos tem o sentido de passagem. Para os judeus a passagem fala da libertação da escravidão terrena, enquanto para os cristãos representa a transcendência das amarras corpo. Todos precisamos dos cuidados indicados pelas neurociências para manter o corpo e a mente saudáveis, historicamente praticados pelos judeus. Entretanto, o cuidado com a dimensão espiritual nos dá o verdadeiro sentido de (1) agradecer e ser caridoso; (2) orar e meditar; (3) fazer com alegria; (4) estudar; (5) preparar-se para a vida; e (6) lavar as mãos para também limpar o espírito. A humildade faz a diferença, por isso, valorize a sua tradição familiar, religiosa e espiritual. Com esses cuidados, nunca morreremos.

Feliz Páscoa!

Moacir Rauber

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Só o tutorial não basta!

Só o tutorial não basta!

Escutava as instruções do coordenador do retiro. Era um retiro de silencia, mas no final do dia tinha um momento de interação. Ele falava da importância dos exercícios mentais, conduzia dinâmicas de meditação e explorava técnicas para que cada um pudesse assumir o controle da própria mente. Reforçava que a mente nos mente e pode nos levar para lugares que não queremos ir. O coordenador ressaltava a importância de fazer as leituras orientadas e os exercícios programados para o dia seguinte, sob pena de apenas conhecer o conteúdo sem nos beneficiarmos da atividade. Por fim, ele disse:

– Muitas pessoas conhecem os tutoriais das aulas virtuais de atividades físicas, mas não fazem o exercício. De nada serve. A analogia se aplica para a mente…

Faz sentido. Ler os melhores livros sobre os benefícios da meditação ou da atenção plena e não praticar é similar a assistir aos tutoriais das academias de educação física sem fazer o exercício. Depois do tutorial é preciso fazer a atividade. Porém, muitas vezes, a preguiça vence e a pessoa fica no tutorial. A nossa mente, igualmente, precisa por em prática o conhecimento adquirido nas leituras, nos seminários e nos retiros para incorporar hábitos e comportamentos desejados. A reflexão do coordenador seguia no ritmo do retiro e ele se aprofundava em temas para que cada um se responsabilizasse pelas suas escolhas. Estar no ambiente que estávamos, com o dia todo voltado para as leituras e a meditação, fazia com que fosse relativamente fácil manter uma rotina com as suas práticas. Ainda assim, quase todos caíamos na tentação de não seguir o programa do silêncio e de não fazer todas as atividades propostas. Faltava-nos a disciplina para exercer a escolha feita. Portanto, imagine o tamanho do desafio de levar a prática proposta para o dia a dia. Como faríamos os nossos exercícios de meditação no mundo real? O que fazer para incluir uma prática de mindfulness nas 24h que cada um tem, as quais, muitas vezes, não bastam para as atividades correntes? Caso pensemos no antônimo da preguiça chegamos ao workaholic, o sujeito que não se cansa de sempre fazer mais. Notadamente a proposta dos retiros, da meditação e da atenção plena não é essa. Os extremos não são o caminho. Se de um lado está a preguiça e de outro lado o excesso de trabalho, entre eles nós encontramos a diligência, o equilíbrio. A diligência se refere a fazer aquilo que se escolheu fazer com cuidado, interesse e zelo por si e pelos outros, com a urgência e a presteza necessárias. Para ser diligente é preciso discernimento, a capacidade de avaliar as situações com o bom senso e a clareza necessárias para fazer uma boa escolha. Manter-se em movimento ao renegar a preguiça sem comprometer a sua busca de equilíbrio  e harmonia pelo excesso de atividade. É o equilíbrio que leva a pessoa à harmonia. Provavelmente, ao incluir um período de meditação ou de prática de mindfulness no seu dia a dia será necessário deixar algo para trás. Inicialmente poderá parecer difícil fazer a escolha, porém com a prática o menos será mais. Menos estresse e mais resultados. Menos trabalho e mais produtividade. Menos horas e mais conteúdo. Menos aflição e mais fruição.

Por fim, o coordenador disse que a preguiça é parte da natureza humana. Por isso, lembrei-me de um conselho de um empreendedor que dizia: “Preste atenção no preguiçoso. Quando ele procura um atalho vai ter mais trabalho. Muitas vezes, porém, ele usa a sua inteligência para propor uma solução que economiza recursos e esforços!”. Eis o ponto. Ficar somente no tutorial não basta. Depois da ideia é fundamental a atividade. É preciso ter o discernimento para agir com diligência e fazer o que deve ser feito.

Moacir Rauber

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As descobertas da Psicologia Positiva e da Neurociência?

O curso era sobre as impressionantes descobertas da psicologia positiva e da neurociência. A facilitadora dizia:

– Vou falar agora sobre algumas descobertas para você ser mais feliz, mais engajado e ter relacionamentos mais saudáveis…

A facilitadora, uma psiquiatra, começava discorrendo sobre o mapeamento do córtex cerebral, com a identificação de mais de trezentas áreas dentro dele. São inúmeras as possibilidades de uso desse mapeamento, como a detecção e a correção de problemas de aprendizagem. Para mim, essas são realmente descobertas. Depois a psiquiatra passou a dar exemplos de ações do dia a dia, citando-as também como descobertas das modernas ciências. Ela disse, por exemplo, que viver em estado de gratidão é extremamente positivo para qualquer pessoa. Segundo a neurociência, a pessoa que é grata por coisas simples, como a água que lavou o seu corpo no banho, a janela que pode abrir ao acordar, a roupa que veste durante o dia e assim por diante, é mais feliz. Outra descoberta da neurociência e da psicologia positiva é a importância de ser bom, porque só assim para se ter bons relacionamentos e ser beneficiado pela própria bondade. Por fim, a psiquiatra neurocientista e adepta da psicologia positiva afirmava que as novas descobertas fundamentadas numa rigorosa metodologia científica descobriram que o caminho mais fácil para exercer a gratidão e praticar a bondade é a meditação. A meditação faz com que cada praticante consiga manter o foco naquilo que é importante num movimento de atenção plena, sendo assim muito mais produtivo. E todos nós ficamos admirados com todas as descobertas da neurociência e da psicologia positiva. Confesso que ouvi sobre essas descobertas muitas vezes e quero dizer que concordo com os benefícios citados, porém tenho ressalvas com relação a serem elas descobertas da neurociência ou da psicologia positiva. Por que as ressalvas?

Ao se analisar as culturas mais antigas, praticamente todas elas tinham formas de meditação como uma maneira de voltar o foco para si mesmo, valorizando a sua relação de interdependência com os outros. Podiam ser diferentes rituais, mas com objetivos semelhantes. Eles buscavam entender e valorizar o seu próprio papel na teia social da qual faziam parte. Qual era o sentido da sua atividade? Qual era a importância da própria vida para si mesmo e para os outros? E eles conseguiam dar sentido àquilo que faziam, porque o que faziam era importante para si e para os outros. Nós, depois de algumas centenas de anos negando a importância das emoções e da espiritualidade em nome de uma ciência infalível nos apropriamos de práticas milenares e dizemos que são nossas descobertas. Ainda assim as usamos de forma superficial e sequer nos preocupamos em indagar: produtividade para que?

Portanto, quero dizer que talvez falte um pouco de humildade para aquilo que nós conceituamos como ciência e para aqueles que se definem como cientistas e neurocientistas para admitir que a adoção de práticas meditativas não é uma descoberta, mas sim uma redescoberta. Nunca se precisou de ciência ou de neurociência para saber que se podem diminuir as frequências cerebrais num estado meditativo. Trata-se de percorrer um caminho que já havíamos trilhado na busca por um reencontro com o sentido da vida. Enfim, acredito nos benefícios da prática diária da meditação que contribui para que cada um possa dar foco naquilo que lhe parecer mais importante. Porém, destaco a importância de se indagar: qual a finalidade de ser mais produtivo? Qual é o sentido daquilo que se faz na vida que se tem? O mundo é melhor por que você existe?

Crédito: Rastro Selvagem

Moacir Rauber

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