Entramos no restaurante e fomos até a nossa mesa. Dois casais, uma garrafa de vinho e muita conversa pela frente. Num momento em que o ritmo da conversa diminuiu passei a observar a mesa ao nosso lado. Eram três casais. De um lado, os homens, dois jovens e, entre eles, um senhorzinho bem idoso. Diretamente a sua frente as mulheres, duas jovens e uma senhorinha bem idosa. Parecia que os avós haviam levado os netos com as suas namoradas ao restaurante. Os dois idosos se entreolhavam e conversavam baixinho entre si. Aproximavam-se sobre a mesa para não interferir nas conversas dos jovens que ocupavam as extremidades da mesa. Os jovens, tanto os homens como as mulheres, portavam os seus smartphones dos quais não tiravam os olhos nem os dedos. A conversa deles era virtual. Estavam fisicamente no restaurante, mas não estavam presentes. Conversavam com pessoas que não estavam no restaurante. E os avós, isolados, conversavam entre si.
É facilmente justificável por ser um tempo de grandes mudanças que situações como essa sejam registradas. Porém, falar em mudança é algo comum há muito tempo. Tanto é que os gregos afirmavam que nunca se vê a mesma árvore, a mesma rua, a mesma pessoa ou a mesma oportunidade, porque no instante em que se observa aquilo que se vê, ele já não é o mesmo. Mas todos continuam sua existência, reinventando-se. Nós, mais do que ninguém, deveríamos saber e viver bem com isso. Ampliar as perspectivas por meio do uso da tecnologia que os povos antigos não tinham. Desenvolver nossas capacidades por meio das diferentes formas de aprendizagem disponíveis. Incrementar nossos talentos pela liberdade que se tem em definir aquilo que se quer fazer. Mas aceitar o fenômeno da mudança não se dá tão somente pelo uso constante, fanático e até dependente da tecnologia. Sempre que participo de eventos observo as pessoas, de diferentes faixas etárias e profissões, e invariavelmente elas estão lá, cada vez mais usando freneticamente os seus smartphones ou outros equipamentos tecnológicos de forma, aparentemente natural e dependente. Aquele momento no restaurante mostrava bem isso. Os jovens usavam a tecnologia para não mudar. Eles usavam os recursos benéficos de uma tecnologia que abre as portas de diferentes mundos para se isolar em meio as pessoas. Eles usavam a tecnologia para não mudar com aquilo que os avós poderiam oferecer, porque a mudança de que eu falo é aquela que não se vê. É a mudança que mais facilmente ocorre no contato com o outro, inclusive e principalmente com os mais velhos. No meu entendimento, o fato de alguém usar todos os recursos tecnológicos existentes não é garantia de que viva bem com as mudanças, que tenha a mente aberta ou esteja em real sintonia com aquilo que ocorre a nossa volta. Muitas vezes, aquele que ainda usa uma caneta, um lápis e uma borracha tem a mente flexível. A tecnologia deveria servir para nos conectar com os outros quando estamos sozinhos, porém ela tem sido utilizada nos isolar em meio a multidão.
Use a tecnologia para ampliar, incrementar e provocar as mudanças mentais que nos aproximam das pessoas. Converse com o seu avô, com o tio, com o parceiro ou com quem estiver na sua presença. Quando se está na presença de alguém esteja você presente também. Por outro lado, quando estiver sozinho, use a tecnologia para estar na presença de alguém. Só assim para a tecnologia cumprir o seu papel de desenvolver o ser humano.
Como você usa a tecnologia?
Créditos de imagem: Rastro Selvagem
Moacir Rauber
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