Voar ou caminhar: o que é melhor?
A metáfora do ovo de águia que foi chocado por uma galinha e assim nasceu, viveu e morreu foi muito utilizada em treinamentos corporativos. O pano de fundo da reflexão explora o não descobrimento, o não desenvolvimento e o não aproveitamento das reais capacidades de se voar alto. No final da metáfora, descreve-se a cena da águia que ciscava e cacarejava como galinha, admirando a águia que voava majestosamente pelos céus. Ela não havia tomado consciência de quem era e quais seriam as suas naturais habilidades. Na analogia com as pessoas, estimula-se a que elas possam sonhar e acreditar nas suas potencialidades, para com isso fazer mais alcançando a plenitude de suas vidas.
Por outro lado, imaginemos a metáfora invertida. Um ovo de galinha, acidentalmente, vai parar num ninho de águia. A águia cuida dos ovos até que eles descasquem. Os filhotes de águia nascem e entre eles um pintinho. Parece-lhes estranho, entretanto, a águia mãe e os seus filhotes tratam o pintinho de modo igual. As penas crescem e os filhotes de águia se agitam com a proximidade de alçar seu primeiro voo. O pintinho, que se acredita águia, repete os mesmos movimentos. Ele está no alto das montanhas no ninho das águias. Às vezes, quando olha daquela altura e não vê nada lhe parece estranho, mas se é assim para ele também o é para os seus irmãos. É chegado o dia para que os filhotes de águia deem o seu primeiro voo. A mãe zelosa incentiva um a um a que se lancem no abismo com a certeza de que irão voar. Ela olha para o pintinho e, instintivamente, o deixa por último. Não consegue identificar, mas há algo diferente nele. O primeiro filhote se lança no abismo. Cai e continua caindo. Parece que vai se chocar contra as paredes do precipício. No limite para não se estatelar contra as pedras o milagre da natureza se manifesta em sua plenitude. O filhote começa a bater as asas, um pouco desajeitadamente no início, até que alça o seu primeiro voo como águia que é. O segundo filhote repete o feito. Por fim, é chegada a vez do pintinho. Todos o incentivam. A sua própria autoconfiança o estimula, porque afinal ele é uma águia assim como a sua mãe e os seus irmãos. Ele está na borda do precipício. Estica as suas asas num movimento de aquecimento, assim como o fizeram seus irmãos. O pintinho tem a impressão de que as suas asas são mais curtas, mas agora não é hora para dúvidas. A mãe, com certo temor, o incentiva. Os irmãos, na maior empolgação, o encorajam. E o pintinho, sem saber da sua real natureza, se lança. Lá vai ele até o limite e começa a bater suas asas… O final não precisa ser contado. A mãe se lamenta. Os irmãos se entristecem. E a vida segue sem o pintinho que acreditava ser águia.
Não se trata de desestimular a que as pessoas não queiram voar. A questão vai um pouco além da analogia de que todos tenham que sonhar alto. Acredito que o foco deva ser naquilo que cada um queira fazer e ser dentro da sua natureza. A pretensão é desmistificar o tamanho dos sonhos e valorizar aquilo que é importante para cada um. Quem disse que voar é mais importante que caminhar? Por que caminhar seria melhor do que nadar, por exemplo? Isso tudo depende da sua natureza. Depende: quem é você? O que você quer? Qual é a sua personalidade? Depois escolha fazer aquilo que você quer fazer. Voar, caminhar ou nadar não importa. As analogias são interessantes para destacar competências e as possibilidades, mas cabe a cada um ter a consciência de que somos humanos. Dessa forma, é fundamental você fazer as escolhas alinhadas com a sua natureza, porque a felicidade está conectada com ela. Evoluir sem desrespeitar a sua natureza é um desafio individual. Nem melhor nem pior.
Moacir Rauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com