Lá estava o peru confortavelmente instalado no seu espaço. Desde que nascera até o presente instante as suas lembranças eram maravilhosas. Nunca lhe havia faltado água ou comida, além de sempre receber um afago do seu benfeitor. Era uma vida maravilhosa. E lá vinha o seu benfeitor todo sorridente como sempre. O peru viu um objeto reluzente em sua mão direita sem desconfiar do que se tratava. Aquele que ele considerava o seu melhor amigo se aproximou e o peru todo feliz ficou onde sempre ficava. Esperava pela comida ou pelo carinho, mas desta feita nada disso aconteceu. O seu tão querido benfeitor o agarrou pelo pescoço e lhe cortou a cabeça. Era Natal e o peru não sabia que ele seria o prato principal.
Ao ler o livro Cisne Negro, de Nassim Nicholas Taleb, encontram-se muitas ilustrações sobre a capacidade de previsão do homem, entre elas a história do peru, que retrata de forma fácil e didática como são feitas as previsões. Basicamente a capacidade e a forma de previsão do ser humano pode ser comparada a do peru, que se norteia pelo passado para seguir imaginando que está numa posição tranquila e confortável com relação ao futuro. Desse modo, ele segue recebendo a comida todos os dias, crente que essa realidade vai se repetir pelo todo sempre, uma vez que não há nenhum indício no passado que o leve a pensar num futuro diferente. Da mesma forma os especialistas em diferentes áreas fazem suas previsões sem maiores conhecimentos sobre o entorno do que o peru.
Simplesmente o ser humano não consegue abarcar todas as variáveis que influenciam o futuro, assim como o peru não conseguia entender o homem que o alimentava. Quantas previsões de autoridades nas áreas sociais feitas nos últimos anos não se concretizaram? Quantas previsões feitas por grandes executivos sobre a tendência do mercado simplesmente tomaram um rumo completamente diferente? Quantas invenções previstas não aconteceram e a maioria nunca imaginada simplesmente surgiu? Por fim, as previsões dos economistas e dos especialistas em diferentes áreas são baseadas em fatos passados que não necessariamente se repetirão no futuro. Basta reler as páginas das orientações dadas nos últimos meses pelos especialistas em bolsa de valores ou sobre o dólar para se perceber que as suas capacidades de previsão não são melhores do que a do peru. Baseando-se no milho que recebiam com seus ganhos na bolsa ou com a variação cambial acreditavam que tudo seguiria sempre assim, sem nenhum atropelo.
Por isso, visite, relembre, rememore e aprenda com o seu passado. Porém, não queira recriar o passado. Lembre-se que nós mudamos, os outros mudam e os cenários também. Se a história é cíclica os personagens não são. De repente, chega o “Natal” e os perus são comidos. Não seja você o próximo peru…
Vale a pena ler o livro O Cisne Negro, O Impacto do Altamente Improvável de Nicholas Nassim Taleb!!!