Era o aniversário de um amigo. Os presentes estavam na casa dos 40 e 50 anos. Todos já tinham passado por algum casamento frustrado, por algumas experiências dolorosas e lembravam de muitos dos equívocos cometidos. Assim como é normal na vida de qualquer um que tinha se arriscado a viver e buscar a felicidade. Porém, na vida o erro faz parte. As divagações e as histórias se sucediam. Foi nesse momento que um dos presentes comentou que havia cometido um erro quando tinha quinze anos.
Ela disse:
– Casei-me com quinze anos, depois que fiquei grávida… e contou a sua história.
Certamente o fato de ela ter se casado e ter tido uma filha aos quinze anos de idade pode ter sido considerado um erro por muitos e, talvez, por ela mesma. Eu não queria ter ouvido tudo o que ela ouviu dos outros, como os comentários e julgamentos, tendo sempre um dedo apontado na sua direção. Não queria ter tido todos os diálogos internos que ela teve consigo mesma. Entretanto, ela também falou do orgulho e do prazer de ter uma filha com mais de trinta anos de idade antes mesmo dos seus cinquenta anos. Uma filha que foi criada com carinho, com dedicação e com amor que valeu e vale cada momento difícil vivido por ela. Uma filha insubstituível! Para aquela mãe, assim como para a maioria das mães e dos pais, não há nada no mundo que possa substituir o que um filho representa.
Foi então que um amigo fez o comentário:
– É verdade. “Um erro também traz felicidade! (by Gica)”
Ficamos em silêncio. Um comentário aparentemente simples, mas que trazia em si uma profundidade tocante. O comentário se referia ao exemplo da nossa amiga, mas certamente o Gica falava a partir de si mesmo, assim como cada um sempre fala da própria perspectiva. Na memória, devem ter lhe ocorrido algumas escolhas que poderiam representar erros no passado, mas que hoje são fontes de dádivas, de bênçãos e de alegrias. Por isso, escolhas, aparentemente, equivocadas podem trazer felicidade. E essa percepção esteve na alma de todos os presentes, pelo silêncio que indicava o momento de reflexão. Acredito que cada um olhou para dentro de si, para trás e para o presente e pode identificar escolhas, decisões e juízos sobre eventos difíceis do passado que hoje são fontes de felicidade. Também eu naquele momento voltei para o meu passado e lembrei de inúmeras escolhas que fiz e que foram dolorosas, mas sem as quais eu não seria eu nos dias de hoje. Foram erros no passado e que hoje são fonte de inspiração, de motivação e de felicidade que formam a minha identidade.
Desse modo, acreditar que uma escolha ou uma opção feita, ainda que de maneira equivocada, também pode nos trazer felicidade, retira-nos um peso das costas. Afinal, as decisões que tomamos no momento em que as tomamos usam os dados e as informações que temos para que sejam feitas as melhores escolhas. Assim, a ideia de que sempre temos que tomar a decisão correta é que é um conceito equivocado. A única certeza que temos é a de que escolhemos o que escolhemos para que seja o mais adequado. Certo ou errado? Difícil de saber, mas se elas forem tomadas em conformidade com os valores que são importantes para cada um, um dia a felicidade virá. E no futuro, mesmo que não tenha sido a melhor escolha no passado, ainda assim poderemos ser felizes com isso.
A felicidade vem dos acertos ou dos erros? De onde ela vem tanto faz, porque ser feliz é a verdadeira escolha!
Moacir Rauber
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