Estou com medo…
Há um ano presenciei uma cena comovente. Vi uma jovem atleta de treze anos na tentativa de aprender a remar. Depois das aulas teóricas e práticas acompanhadas chegava o grande dia para remar sozinha. Ela usou o colete salva-vidas, preparou-se no canoe, um barco escola e começou a dar algumas remadas bem leves. A insegurança lhe era visível. As remadas eram um pouco descompassadas, mas mesmo assim ela atingiu o meio do rio. De repente ela parou, levantou os olhos e se apercebeu da distância que a separava da terra firme. Quis fazer o barco dar meia volta, mas atrapalhou-se com os remos. Nesse momento ela abaixou a cabeça, soltou os remos e dizia:
– Não vou conseguir, não vou conseguir…
Teve um ataque de pânico. A instrutora a partir da margem procurava tranquilizá-la, porém nada do que ela dizia surtia efeito. A jovem atleta voltava a repetir:
– Não vou conseguir, não vou conseguir. Estou com medo!
Não havia nada de mal que pudesse lhe acontecer. A jovem atleta tinha conhecimento teórico e prático o suficiente para realizar a tarefa proposta. Ela usava o colete salva-vidas e o barco era completamente seguro sem risco de virar ou afundar. A instrutora a acompanhava da margem a não mais de dez metros de distância. Mas era visível que a menina estava apavorada. O medo a havia paralisado. Por fim, a instrutora entrou na lancha e rebocou o barco juntamente com a atleta até a margem. Ao colocar os pés em terra firme, a menina passou a chorar convulsivamente. Uma longa sessão de conversas, abraços e carinho da instrutora. Naquela noite tivemos a palestra intitulada Superação, a marca do Ser Humano. Na palestra foram explorados temas relacionados às emoções, entre elas o medo. Num dos momentos foi dito que o medo pode transformar as pessoas em verdadeiros paraplégicos mentais, que são aquelas pessoas que andam, mas não se movem. Elas ficam paralisadas e deixam de fazer o que querem e o que gostariam por não saber gerir o medo. Havia o receio de que aquela atleta realmente desistisse da atividade, porque desistir é uma opção e quase sempre a mais fácil.
Assim, este ano quando retornei ao mesmo clube de remo logo nos lembramos do incidente do ano anterior. Ao conversar com a instrutora sobre a jovem atleta que havia tido um ataque de pânico ela me disse:
– Ela é uma atleta incrível! Está conseguindo resultados impressionantes. Perdeu completamente o medo da água, desenvolveu uma boa técnica de remada e está muito bem física e emocionalmente. Transformou-se numa líder autêntica!
Fiquei imensamente feliz com a novidade. Aquela jovem atleta havia vencido o medo. A afirmação de que o medo pode transformar as pessoas em paraplégicos mentais talvez tenha repercutido na sua mente, fazendo com que ela se movesse.
Medo todos tem, a diferença está naquilo que cada uma faz ou deixa de fazer apesar dele.