Olhe como otimista e como pessimista. Observe como ativo e como preguiçoso. Pense como um conservador e como um liberal. Aja como um prático e como um criativo. Certamente todos eles vão lhe revelar oportunidades…
A agenda estava lotada. Os dias pareciam cada vez mais curtos, embora as vinte e quatro horas continuavam sendo as mesmas. Apesar disso, ele sabia que precisava fazer alguma atividade física para compensar as longas horas de trabalho no escritório. Ele era o dono de uma indústria metalúrgica e o trabalho praticamente fora todo automatizado. Quando voltava no tempo ele se lembrava de que no passado não havia a necessidade de pensar em fazer uma atividade física fora do horário de trabalho, porque o trabalho era a atividade física. Era ele que, em sua juventude, movimentava a matéria prima de um lado para o outro. Era por meio da força humana que as cargas eram carregadas e descarregadas. Agora nada disso era necessário. Todo o trabalho que exigia esforço físico, como movimentar cargas, estava automatizado. A linha de produção estava repleta de robôs e precisava somente de um supervisor. Diferentemente do passado, o seu trabalho agora era redigir contratos, atender os clientes e despachar as encomendas. Tudo informatizado. Inclusive, para se chegar ao escritório havia o elevador. Por isso, só lhe restava se inscrever numa academia para se exercitar fora do horário de trabalho. Porém, como achar tempo para isso? A ironia estava no fato de que na academia, muito provavelmente, ele caminharia numa das máquinas produzidas na sua indústria: as esteiras. Somos estranhos ou não?
Por um lado, desenvolvemo-nos intelectualmente de tal forma que a tecnologia existente permite que os produtos sejam manuseados sem a presença humana e que as rotinas de trabalho sejam automatizadas para não exigir esforço físico, o que nos deixa mais e mais sedentários. São profissões de trabalhos braçais que desaparecem sendo substituídas por máquinas. Isso é o resultado do desenvolvimento tecnológico que tem como base a preguiça. É isso mesmo, a preguiça é mãe da criatividade. Pessoas altamente qualificadas viajam, observam e analisam os hábitos e os costumes das pessoas para identificar uma oportunidade de eliminar o esforço físico. São equipes inteiras de pessoas que passam o dia pensando em como fazer para que não se precise fazer mais atividades físicas. A roda foi inventada para facilitar a nossa vida. O elevador foi criado pela mesma razão. Com isso nós nos facilitamos a vida!
Por outro lado, toda essa tecnologia aplicada para a minimização do esforço físico criou uma geração de obesos. Isso exige que outras pessoas altamente qualificadas e intelectualmente preparadas para observar e analisar os hábitos e os costumes das pessoas possam identificar uma oportunidade de inserir atividades que demandem esforço físico. No trabalho, são equipes inteiras de pessoas que passam o dia observando o ambiente para diminuir o esforço pensando um ambiente ergonomicamente mais adequado e pensando em como fazer para que as pessoas se envolvam em alguma atividade física saudável. Para isso, implementamos o programas de Qualidade de Vida no Trabalho. Para o lazer, equipes de cientistas comportamentais, físicos, engenheiros, profissionais de marketing e médicos trabalham para incentivar a que as pessoas deixem o sedentarismo para ter uma vida melhor. Como resultado, desenvolvemos tecnologia, produtos e criamos novas técnicas para que as mesmas pessoas que tiveram suas atividades automatizadas continuem a fazer esforço físico, tirando-as do sedentarismo. Uma esteira, por exemplo.
Esse é o nosso mundo. Existem oportunidades em criar máquinas para eliminar o esforço físico. Existem oportunidades para incentivar que se pratique alguma atividade física. Por isso, é importante olhar o mundo a partir de diferentes ângulos. Olhe como otimista e como pessimista. Observe como ativo e como preguiçoso. Pense como um conservador e como um liberal. Aja como um prático e como um criativo. Certamente todos eles vão lhe revelar oportunidades, porque de uma ou outra forma eles vão consumir algo e a oportunidade pode estar na opinião ou no mercado que cada um deles representa. Enfim, o que não dá para fazer é reclamar de falta de oportunidades. Afinal, somos seres humanos. Somos seres estranhos, não somos?
E o tempo para andar na esteira? Bom, daí é contigo.