Naquele dia decidi que não lutaria contra a discriminação, o preconceito, a corrupção ou qualquer outra injustiça.
A minha luta seria a favor!
Depois de quatro anos indo todos os dias para a universidade, finalmente chegou o dia da formatura. Tinha sido um grande orgulho para mim, como usuário de cadeira de rodas, ter conseguido frequentar autonomamente a universidade. Agora a comissão de formatura estava escolhendo o local onde seria realizada a entrega dos diplomas. Optaram pelo local mais bonito e mais tradicional da cidade. Porém, tinha uma questão: o local não era acessível. A comissão se reuniu e me convidou. Obviamente, coloquei-me contra a escolha e sugeri a mudança de local. Não fazia sentido frequentar a universidade autonomamente durante todo o curso e no dia da entrega do diploma escolher um local não acessível. Teria que ser carregado por outras pessoas para retirar o meu diploma. Seria um retrocesso. Três representantes da comissão concordaram que era importante mudar de local para marcar um posicionamento de acessibilidade e de inclusão. Entretanto, teve uma pessoa que queria permanecer com o local tradicionalmente usado, argumentando que não seria justo que por causa de uma pessoa o brilho da sua formatura e das demais pessoas fosse diminuído. Foi um choque para mim. Que tipo de brilho seria esse se para que ele acontecesse alguém deveria ser apagado, discriminado? E mais, a pessoa que se posicionou contra a mudança de local era de um curso que trabalharia com questões sociais, sendo uma de suas pautas a luta contra a discriminação social. Naquele dia decidi que não lutaria contra a discriminação, o preconceito, a corrupção ou qualquer outra injustiça. A minha lutar seria a favor!
Explico. Trata-se de um ponto de vista. Particularmente acredito que a nossa luta como pessoas deveria dar mais ênfase naquilo que se quer, o que automaticamente elimina aquilo que não se quer. Quando se fala tanto em diminuir a discriminação, o foco deveria ser o de incentivar a inclusão/integração. Quando se aponta tanto a necessidade de lutar contra o preconceito, a direção apontada deveria ser o aumento da tolerância. Quando se dá tanto destaque ao combate à corrupção, o foco talvez devesse ser o estímulo à honestidade. Acredito que muita energia tem sido despendida no combate da eliminação daquilo que não se quer, porém defendo que se deveria direcionar a luta para aquilo que se quer. Por isso, a luta a favor me parece muito mais lógica e produtiva. No exemplo citado, a pessoa que depois de formada teria como missão o combate à discriminação e ao preconceito não percebeu a oportunidade diante de seus olhos. Ao concordar em mudar de um local glamouroso para um local acessível ela estaria lutando a favor daquilo que ela prometia defender pelo curso que ela estava concluindo. A escolha pela mudança de local seria a prática da integração/inclusão e da tolerância o que seria um ato de honestidade entre a teoria e a prática do compromisso com a defesa de um mundo mais justo.
Entendo perfeitamente que ações de mitigação da discriminação, do preconceito e da corrupção sejam necessárias. Porém, acredito que o maior combate aos fatores negativos se dá pelo estímulo aos comportamentos positivos. Desse modo, no dia em que me coloquei contra a escolha de um local não acessível para realizar uma formatura pública eu lutei a favor. Sim, eu lutei a favor da integração/inclusão, da tolerância e da honestidade entre a teoria e a prática para que tenhamos um mundo mais justo. Defendo que todos possam brilhar e que ninguém precise ser apagado por isso.
Qual é a sua luta?
Moacir Rauber
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