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A intolerância é o desrespeito na prática

O assento do corredor do lado direito fora requisitado pelo pessoal de bordo da aeronave, porque um dos assentos destinados à tripulação estava com problemas. Era por força da legislação. Na sequência entra um jovem com seus vinte e poucos anos usando uma tala de proteção na parte inferior da perna, indicando uma lesão não muito grave. Caminhava com cuidado para não apoiar o pé, mas se deslocava bem. O seu número do bilhete indicava o número da poltrona agora destinado ao pessoal de bordo. Uma das comissárias lhe explicou o motivo. El disse, Tudo bem. Posso me sentar na janela? Ela disse:  Você poderia se sentar no assento do meio que sei que está vago? Creio que o assento da janela está ocupado… Ele não respondeu, mas dirigiu-se ao assento na janela. Alguns minutos depois chega a moça do assento da janela, também com seus vinte e poucos anos. Ela mostra o bilhete ao rapaz. Ele apontou para a tala, falou que estava acomodado e que seria difícil para ele se deslocar. Não era verdade. Em seguida o rapaz virou a cara para a janela do avião. A moça ficou momentaneamente sem saber o que fazer. Por fim, resignou-se e se sentou no assento da fileira do meio que não era o seu. O que aconteceu?

Na semana passada relatei o exemplo do avô que viajava para comemorar o seu aniversário de casamento como um exemplo de tolerância na prática.  No mesmo voo, do outro lado do corredor, o que presenciei foi o seu oposto: a intolerância é o desrespeito na prática. Como assim?

O respeito e o desrespeito andam lado a lado. A tolerância e a intolerância da mesma forma.

As normas de convívio e a legislação que a humanidade criou, cria e seguirá criando têm alguns objetivos estabelecidos, entre eles o de regular a coexistência harmônica entre os que compõem a sociedade. Ser tolerante é respeitar tais normas, a legislação e os códigos de conduta, escritos e não escritos.

O rapaz foi tolerante ao respeitar a legislação que estabeleceu a norma de que o seu assento fora requisitado pela tripulação por uma questão operacional. Entretanto, no momento seguinte ele demonstrou como a intolerância e o desrespeito afetam a vida das outras pessoas. Ele não respeitou o direito adquirido da moça que havia comprado o bilhete da janela e foi intolerante ao se vitimizar com a sua condição física. Com isso, ele gerou infortúnio para a moça que se acomodou com a intolerância e o desrespeito do rapaz. Durante o restante do voo pude perceber a tensão entre os dois que permaneceram sentados lado a lado. Numa situação de respeito às normas e de tolerância, o rapaz teria voltado para o seu assento, a moça teria desfrutado do espaço que era dela e eles poderiam ter estabelecido uma amizade.

Esse é o nosso mundo.

O respeito e o desrespeito, assim como a tolerância e intolerância estão presentes no mesmo ambiente e, muitas vezes, se manifestam numa mesma pessoa.

O exemplo entre os dois jovens não tem a intenção de caracterizar um ou outro grupo etário como intolerantes e desrespeitosos.

Encontrar o equilíbrio para ser tolerante sem aceitar ser desrespeitado e aprender a respeitar para não ser intolerante é um desafio real de todos os seres humanos.

Nas organizações a intolerância e o desrespeito devem dar lugar a tolerância e ao respeito para se criar um ambiente de confiança de produtividade e de boas relações.

Enfim,

…não respeitar as regras, as normas e as condutas estabelecidas, estando elas escritas ou não, é ser intolerante com a grande maioria que concordou com o que foi pactuado. O bom senso resgata a tolerância e o respeito.

Moacir Rauber

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É fácil ser tolerante e praticar o respeito? A tolerância é o respeito na prática

Acomodei-me na primeira poltrona do lado esquerdo. Nos voos, a primeira fileira quase sempre é reservada para as pessoas com deficiência, com mobilidade reduzida ou crianças que viajam desacompanhadas. Em seguida entraram os demais passageiros e, ao meu lado, sentou-se um senhor que estava nos seus oitenta anos. Educadamente me cumprimentou e começamos a conversar. Disse ele que estava indo de férias para comemorar os 55 anos de casado. Pareceu-me estranho, porque não via a sua esposa. Ele explicou que ela tinha voltado à casa para buscar outro documento, porque ao chegar no aeroporto ela havia apresentado o documento errado. Agora, eles corriam o risco de não viajarem juntos. Apesar da situação, que para muitos seria catastrófica, aquele senhor conversava com o pessoal de bordo de forma tranquila. Ele estava ao telefone com a esposa e o pessoal de bordo queria saber, Aonde exatamente ela estava? No check-in¸ respondeu o ancião. Olha, tenho ainda três minutos para fechar a porta. O senhorzinho estava tenso e disse, Sim, eu sei. É o seu trabalho. Em seguida veio o comunicado final. Temos que fechar a porta. A sua esposa terá que ir amanhã. Lamento muito. Ele aceitou o veredito com respeito e tolerância. Na sua expressão facial a tristeza, entretanto para a esposa que estava no telefone dizia, Amor, não tem problema. Amanhã você vai. Nosso aniversário será depois de amanhã e aí estaremos juntos outra vez. Não chore, dizia ele. Emocionei-me com ele.

Ao acompanhar a situação entendi que a tolerância é o respeito na prática.

O episódio me fez admirar a maturidade daquele senhor, o que nem sempre acontece com a idade. Para muitos, a situação seria motivo de brigas e ofensas para transferir aos outros uma responsabilidade que não era deles. Outros xingariam e seriam agressivos para com todos e para consigo mesmo de maneira irracional sobre algo que já não estava mais no seu controle. O senhorzinho me demonstrou toda a sua frustração que não havia expressado nem para a sua esposa ou para o pessoal da companhia aérea. Ele ainda os elogiava e estava feliz porque eles faziam as regras serem respeitadas. Não haviam sido eles os causadores dos seus problemas, porque ao exigir o respeito às regras ele se sentia tranquilo de estar em boas mãos. Quando todos respeitam as regras todos estão mais seguros, disse-me. Estava triste, mas não se exasperava.

A tolerância é o respeito das regras na prática.

Entenda-se tolerância como o ato de tolerar sendo uma condição daquele que é tolerante.

Quando se tolera se respeita e respeito é um sentimento comum às pessoas que dão atenção e consideração às suas necessidades em consenso com as dos outros.

Além do mais,

…respeito é o ato de aceitar e submeter-se às regras estabelecidas no ambiente de convívio, que são as condições estabelecidas para que o convívio seja possível no respeito mútuo.

Para isso é preciso ser tolerante. E talvez a falta de tolerância ao não respeitar as regras estabelecidas é que gere tanto sofrimento. A não aceitação e o não respeito às necessidades alheias faz com que todos queiram atender somente as suas necessidades não importando o preço que os demais terão que pagar. Não defendo que sejamos carneiros submissos rumo ao matadouro. Defendo que as regras estabelecidas foram feitas para serem cumpridas e que todas têm exceções que podem ser exercidas pelo bom senso das partes. Entretanto, caso haja uma regra que já não atenda a maioria há que se buscar os caminhos para alterá-la.

Enquanto isso, o período de carnaval é um bom período para ser tolerante respeitando o outro na prática. Na gestão de pessoas e dos problemas organizacionais não é diferente, como nos ensinou o avô.

Moacir Rauber

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Qual é a diferença entre falar e viver um conceito?

Aquela seria mais uma das tantas reuniões virtuais que a empresa organizava com os colaboradores distribuídos nos cinco continentes. A diferença é que ela seria estratégica para o sucesso dos negócios da empresa, abordando um projeto que a manteria pelos próximos anos. Por isso, mais do que nunca, a comunicação deveria ser perfeita. Cada colaborador no seu computador, assim como o diretor geral que coordenaria a reunião. Todos foram orientados para que desligassem o seu microfone para que não houvesse nenhuma interferência de ruídos. As reuniões virtuais são interessantes. Todos conseguem se ver e ouvir, mas é possível escolher quem querem ver e ouvir. Neste caso, todos se veriam, mas ouviriam apenas o diretor. A reunião começou. O diretor saudou os participantes e logo entrou no tema da pauta. Ele estava empolgado e destacou que, muito além dos resultados financeiros que o novo projeto traria, deveria existir respeito entre os membros da equipe e que todos pudessem aprender com os erros cometidos ao longo da jornada com a humildade de quem tem a mente aberta. A expressão dos rostos de alguns colaboradores demonstrava irritação. O diretor não entendia o porquê. A questão é que havia um ruído de fundo que dificultava o entendimento daquilo que era falado. O pessoal de TI (Tecnologia da Informação), por meio de mensagens escritas, pedia para que as pessoas desligassem os seus microfones para evitar a cacofonia e recebiam como resposta que os microfones estavam desligados. Porém, o ruído continuava. O diretor, que não percebera o problema técnico, continuava focado no tema da reunião com toda a energia que o momento exigia. O pessoal de TI desesperado. Finalmente, comunicaram o problema ao diretor, que prontamente pediu desculpas a todos e falou que interromperia a reunião. Entretanto, um microfone na sala do diretor continuou aberto e todos continuaram a ouvi-lo. Ele esbravejava:

– Que m… que está acontecendo? Não falei que tudo deveria estar perfeito, seus idiotas… e seguiu ofendendo o pessoal de TI.

A fala do diretor para com o pessoal de TI foi muito diferente do respeito, da aprendizagem com os erros e da humildade que ele recém havia recomendado para todos. Os membros da TI, audivelmente, constrangidos tentavam se justificar. Finalmente, identificaram o problema. Perceberam um segundo computador na mesa do diretor com o microfone aberto, origem da cacofonia.

Trinta minutos depois, a reunião recomeçou:

– Estamos de volta. Obrigado ao pessoal de TI. Eu amo vocês! E continuou a pauta sem relatar a origem do problema ou se desculpar pelo próprio erro.

O que se pode aprender da situação? Mais uma vez que falar de um conceito não é o mesmo do que viver um conceito. O diretor falou de respeito, de aprendizagem e de humildade e teve a oportunidade de viver os conceitos num único evento. Ao receber a informação de que algo estava errado, interromper a reunião foi o correto. Destaca-se, porém, que o tratamento dispensado aos colaboradores de TI não teve nada de respeitoso, não foi um processo de aprendizagem e revelou alguém pouco humilde. Entendo que o diretor aprendeu pouco com o evento, mas com certeza ensinou muito. Respeito? Ele falou de respeito, mas não o viveu. Aprendizagem? Ele a considerou, mas não a exerceu. Humildade? Ele não a expressou e não a praticou. Na retomada da reunião ele poderia ter reconhecido o erro e deveria ter pedido desculpas ao pessoal de TI. Assim, ele teria demonstrado o respeito sobre o qual falara e teria praticado a aprendizagem com os erros que indicara por meio do exercício da humildade. Ao final, ele ensinou que falar de um conceito é muito diferente do que viver o conceito que se defende.

 

Moacir Rauber

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Quem abre as portas?

Chegamos na associação comercial daquela cidade. Estava acompanhado de meu editor e amigo. Dirigimo-nos até a sala da Secretária Executiva. Passei pela porta e a vi. Pareceu-me um rosto familiar. Ela olhava fixamente para o meu amigo, que também a olhava. Ele franziu a testa. Eu fiquei um pouco perdido, porque senti algo diferente no ambiente. O que está acontecendo aqui?, indaguei-me. Foi logo depois que veio a surpresa. Ela saiu detrás de sua mesa, abriu os braços e abraçou carinhosamente o meu amigo. Emocionada, disse:
– Professor, seja bem-vindo. Quanto tempo que não o vejo!!!

O meu amigo logo a reconheceu:
– Que coisa boa encontrá-la aqui!!!

Ambos continuaram a conversa por um bom tempo resgatando lembranças. O meu amigo havia sido Coordenador e Professor daquela Secretária Executiva no período da faculdade. Foram quatro anos de relacionamento intenso. Eu apenas os observava. A cena era muito bonita. Trouxe-me a mente a confirmação de que respeito dá lucro no curto, no médio e no longo prazo.

Eles haviam se conhecido e convivido na universidade, ela como aluna, ele como professor e coordenador de curso. Foi uma agradável surpresa. Poderia não ser assim. Para muitos que já passaram pelas universidades as lembranças de seus superiores hierárquicos, sejam eles professores ou coordenadores, nem sempre é tão boa. São tantos os profissionais que usam a autoridade das funções para garantir prerrogativas e benesses pessoais, pouco se importando com quem está do outro lado. São pessoas que ainda não entenderam que tudo que existe fora da natureza é feito por pessoas e para as pessoas. E o mínimo que uma pessoa merece é respeito.

Por outro lado, o meu amigo sempre entendeu que ser o coordenador não era fonte de prerrogativas e regalias, mas que lhe gerava responsabilidades. Assim, ele soube exercer a autoridade que as funções lhe cobravam respeitando a liturgia do cargo e, principalmente, respeitando as pessoas. Ele sabia que as pessoas que estavam sob sua gestão mereciam o respeito que ele também queria. Finalmente, o meu amigo sempre entendeu que estar numa posição ou noutra era circunstancial. Hoje sou gestor, amanhã posso ser gerido. E não há ninguém que, cedo ou tarde, não esteja numa ou noutra posição.


Passados dez anos desde o momento em que conviveram, ambos tinham boas lembranças do relacionamento. O meu amigo professor e coordenador, ao respeitar as pessoas, obteve lucro no curto prazo ao trabalhar num ambiente agradável. Ele também obteve lucro no médio prazo ao formar pessoas melhores. E o lucro no longo prazo se confirmava agora, na minha frente. Uma visita comercial seria agendada. O produto que o meu amigo ofereceria deveria ser bom, como realmente era. Porém, a porta teria que ser aberta. Naquele dia, a pessoa que estava detrás da mesa que poderia lhe abrir ou fechar as portas era alguém do passado que se sentira respeitado. Respeite a si mesmo ao respeitar os outros. Não roube a si mesmo nem aos outros, respeite. 

O respeito abre portas!