Não fiz a tarefa!
O curso trataria de temas que me importavam, seria realizado num local próximo de casa e era acessível financeiramente. Além do mais, dava tempo para ajustar as datas. Tudo certo! A pessoa faz a inscrição e os dias passam. Algumas mensagens indicam atividades prévias necessárias, “Ahh ainda tem tempo!”, pensa. Dias depois outra mensagem reforça a importância da tarefa e sugere algumas leituras. “Tem uma semana… Tranquilo!” é o pensamento ao ler a mensagem. O tempo, porém, é implacável. Ele passa. O dia para iniciar o curso chega e a pessoa não fez a tarefa pedida nem a leitura sugerida:
– Não fiz a tarefa nem as leituras…
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. O senso comum diz “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” como um alerta para que não deixemos a preguiça se sobrepor à vontade. “Todo trabalho árduo traz proveito, mas o só falar leva à pobreza” está em Provérbios (14:23) como um convite ao trabalho que enaltece aquele que trabalha com reflexos positivos ao seu redor. Na Inteligência Positiva (Shirzad Chamine) se acredita que o nosso sábio interior é sequestrado pelos nossos sabotadores sempre que nós atuamos de forma não positiva para nós mesmos. Fala-se de um sabotador principal (o Crítico/Juiz) acompanhado de outros sabotadores (o Insistente, o Prestativo, o Controlador, o Hiper realizador, o Esquivo, o Hiper vigilante, o Hiper racional, o Inquieto ou a Vítima). Eles anulam as nossas melhores intenções ao sequestrar a nossa parte sábia. Os sequestradores impedem que atuemos com sabedoria ao criar desculpas, pretextos, justificativas e mentiras para não fazer. Terminamos por não fazer as tarefas. Como mudar isso? Tomar consciência dessas características permite o exercício do livre arbítrio para mudar e fazer o que escolhemos.
A situação das tarefas representa algo cotidiano vivido por muitos (eu inclusive), conhecido como procrastinação, às vezes, preguiça. Nela, o tempo, um aliado, se transforma em inimigo. Aqui introduzimos a Comunicação Não-Violenta (Marshall Rosenberg) como um recurso para ajudar a tomar consciência do que é fato ou a interpretação dele. Antes de mais nada, faça uma pausa para se conectar com a realidade: quanto tempo tenho e necessito para fazer as atividades que escolhi fazer? A pausa nos ajuda a tomar consciência e a colocar as atividades dentro de uma delimitação clara de tempo. O tempo passa a ser algo que posso medir para que de forma consciente escolha o que, quando e como fazer. Assumo os compromissos comigo com a data é o horário estipulados. É o exercício da liberdade de cumprir com aquilo que escolhi fazer, resgatando o sábio do poder dos sabotadores. É bom lembrar que foi a pessoa que escolheu se inscrever no curso. Ela sabia das condições. Dessa forma, cumprir com os requisitos do curso para conclui-lo exige que a pessoa inverta a ordem dada pelos sabotadores e volte a ser sábio ao exercer o seu livre arbítrio.
Outro ponto importante: a Pausa nos permite identificar o sabotador. Qual era o sabotador na procrastinação das tarefas? Entendo ser o Esquivo. Ele busca evitar o esforço e os conflitos e se volta para atividades prazerosas. Fazer a inscrição foi agradável. Manter o foco e realizar as atividades exige dedicação, por isso o sabotador diz “ainda tem tempo. O Esquivo se alia ao Inquieto e passa a buscar outra atividade prazerosa para uma nova experiência, deixando a anterior para trás. Juntamente com o regente dos sabotadores, o Crítico, ele se justifica dizendo que as “atividades eram muito chatas”. Desse modo, identificar os sabotadores é um ponto essencial para resgatar o sábio. A Pausa para se autoavaliar pode fazer a diferença.
Por fim, “Deus prometeu perdão ao seu arrependimento, mas não prometeu amanhã à sua procrastinação”, disse Santo Agostinho. O que mais se está procrastinando? Onde mais a procrastinação está se sobrepondo à vontade?
Confesso, muitas vezes não fiz as tarefas…
Moacir Rauber
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