Lembre-se, você vai morrer…
Havia um grupo de eremitas franceses, os Paulianos, que viviam reclusos dedicados à oração e ao silêncio. No dia a dia, ao se encontrarem no decurso de suas atividades ordinárias podiam fazer uma única saudação:
– Memento Mori!
A tradução da saudação pode ser “lembre-se, você vai morrer” ou próximo a isso. Ainda que pareça uma saudação tétrica, ela traz uma verdade irrefutável, até o momento. Contudo, muito mais do que um recado lúgubre se trata de um convite para aproveitar a vida com a consciência de sua finitude, dando-nos a devida dimensão da importância de vivê-la em sua plenitude. Os romanos igualmente tinham a morte presente. Os generais romanos quando voltavam a Roma após uma campanha vitoriosa, eram saudados numa festa inigualável que poderia fazê-los crer que eram deuses. Desse modo, um grupo de soldados era destacado para sussurrar repetidamente de maneira audível para o general ovacionado, “lembre-se, você é mortal”. Por isso, memento mori é um convite para o memento vivere, viver o presente sem se esquecer que não se tem garantido nenhum dia mais de vida.
Tendo em mente a inevitabilidade da morte: (1) o que você faria em vida nas suas relações próximas? A consciência da finitude da vida nos dá a real importância do presente, tirando a relevância daquilo que não é. A pessoa com quem você vive está ranzinza? Lembre-se, ela também está a caminho do inevitável. O seu filho não limpou o quarto como você queria? Faça o que for melhor para o outro e para você sem que isso se transforme num problema. Os amigos não te convidaram para a última festa? Convide-os você. Ter presente a finitude da vida nas relações fará de você uma pessoa mais afável, respeitosa, cuidadosa e feliz. (2) Como você atuaria na sua organização como líder, gestor ou outro papel? Ter em mente a finitude da vida pode proporcionar a dimensão da nossa pequenez sem diminuir a importância do papel que exercemos e do impacto na vida das outras pessoas. Sair para o trabalho com essa lembrança fará de você um líder mais humano sem ser condescendente; e um gestor mais efetivo sem ser tirano, porque todos, igual a você, estão no mesmo caminho. (3) Qual seria a sua atuação social? Ao ver as notícias do mundo político, econômico e social se percebe que são poucas as pessoas que estão conscientes da sua mortalidade. Observam-se políticos numa luta insana por migalhas de um poder que não existe. Não há imperador ou general romano e não haverá rei ou presidente do mundo que ficará aqui para sempre. Porém, as decisões tomadas por políticos afetam a vida de outras pessoas para o bem ou para o mal. Testemunhamos artistas e empresários que competem entre si na busca pelos holofotes da visibilidade. Muitos, seriam capazes de matar para figurar na lista dos mais influentes. Influentes no quê? Enfim, não importa o seu papel no mundo, importa a sua escolha. Qual é a sua escolha na vida, uma vez que a morte já está garantida?
Os frades se recordavam mutuamente da inevitabilidade da morte. O general tinha os soldados para o relembrar dessa realidade. E você, quais as estratégias para ter isso em mente? O equilíbrio entre o memento mori e o memento vivere nos brinda a consciência de que o tempo que passou é parte da morte que está por vir. Sêneca dizia “a maioria dos homens minguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer” ressaltando a importância de estar preparado para morrer. Tomás de Kempis nos avisava para viver de uma maneira que “na hora da morte te possas antes alegrar que temer”. Ajoelhar-se diante do desconhecido pode ser um bom começo.
Enfim, não leve a vida tão a sério, porque você não vai sair vivo dela. Assim, viva uma vida mortal e esteja preparado para uma morte vital (Santo Agostinho). Lembre-se, você vai morrer… é um convite para viver!!!
Moacir Rauber
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