A expansão da consciência 2
A minha amiga estava em frente ao portão e não encontrava as chaves para abri-lo. Foi assim que eu a vi chegar pela manhã depois de um ritual de expansão da consciência. Saudei-a. Ela respondeu com o olhar perdido. Ela se dirigiu para o loft onde estava hospedada. Voltei a vê-la no final da tarde, quando ela me explicou sobre a experiência:
– É incrível! Eu saí do meu corpo e pude ver outras dimensões da vida!!!
Expandir a consciência sem esforço, sem dedicação e sem empenho, para mim, não fazia sentido (https://facetas.com.br/2023/05/12/a-expansao-da-consciencia/). Ela comentava sobre o ritual ancestral praticado pelos xamãs em que a ingestão de uma bebida os levava a uma conexão plena com o universo. Durante o ritual o xamã conseguia ampliar a consciência sobre a interdependência entre todos os seres vivos do nosso planeta numa junção perfeita, fazendo com que houvesse uma integração espiritual para além do que os nossos sentidos podem perceber. Era encantadora a forma como ela descrevia os passos dados na busca por essa simbiose do corpo, da mente e do espírito. Era isso que a levava a participar do ritual. Escutava com genuíno interesse, porém concordava somente em parte. Expandir a consciência é uma busca de muitos. O caminho trilhado para alcançar é que faz a diferença. Você acredita que há um atalho para expandir a consciência? Entendo que não, porque o caminho demanda movimento que pede esforço, dedicação e empenho. Estes, exigem renúncia. Renunciar a que? Cada um dos xamãs ancestrais renunciou a uma parte de sua vida para desenvolver as habilidades de ser xamã. Segundo as crenças indígenas o xamã é um sacerdote que tem as capacidades de se conectar com o mundo dos espíritos para encontrar soluções para os problemas de uma comunidade. O mundo era melhor com a sua contribuição. Esse xamã, normalmente, tinha a sua vocação reconhecida quando criança, o que o levava por um caminho de consagração e estudos de anos. Não havia atalho. Essa criança, para ser xamã, renunciava a formar família (quase sempre), às brincadeiras e aos jogos que as demais crianças faziam. Além disso, o papel de um xamã exigia dedicação para aprender os segredos da natureza; requeria esforço para manejar as ervas medicinais; impunha empenho para exibir a aura de respeito que dele se esperava. Hoje, os xamãs urbanos querem expandir a consciência, mas não estão dispostos a renunciar a nada. Um sacerdote, um monge, um cientista, um atleta ou um santo expandem a consciência por meio de renúncias. O sacerdote e o monge renunciam a família para expandir a consciência espiritual e de coletividade; o cientista renuncia as festas para ampliar o seu conhecimento investigativo; o atleta renuncia a dormir até mais tarde para aumentar a sua capacidade física e mental; e o santo, a que renuncia? O santo renuncia aquilo que é impuro, mau e profano que o afasta de sua busca pela plenitude sagrada. E você, a que vai renunciar para expandir a consciência?
Por fim, entendo que sem renúncia não há expansão. Constata-se que as grandes mentes, além de esforço, empenho e dedicação, renunciaram. “Quem busca atalho passa trabalho” é um ditado popular com muita sabedoria. Não há mérito em expandir a consciência sem estar consciente. Por isso, penso que qualquer processo que recorra a estímulos externos para expansão da consciência, como uma bebida, um remédio, uma droga ou mesmo os recursos tecnológicos como a IA, traz como resultado a expansão da não consciência. Tem como resultado a inconsciência!
Desse modo, desejo que a minha amiga escolha renunciar à falta de vontade e volte estudar; que abdique da boemia e passe a trabalhar; que abandone o comodismo e comece a contribuir para que o mundo seja um lugar melhor com a sua presença. Isso, para mim, é expansão da consciência!
Exemplos de expansão da consciência:
A dedicação de Francisco de Assis.
O empenho de Albert Einstein.
O esforço de Schindler.
Moacir Rauber
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