A Rede Globo tem, insistentemente, apelado para os seus telespectadores que expressem num vídeo de 15 segundos o seu desejo para o Brasil que querem no futuro. Nas redes sociais muitas pessoas criticam a iniciativa. No meu ponto de vista, acredito ser importante a reflexão que a campanha está provocando, principalmente nas críticas daqueles que fazem um vídeo e também daqueles que não fazem. Estou entre aqueles que não farão o vídeo, mas também estou entre aqueles que refletem sobre a pergunta: que Brasil eu quero para o futuro? Para mim, a resposta é simples:
Quero um Brasil em que o Estado exista para servir as pessoas e não que as pessoas existam apenas para servir o Estado.
O simples da resposta não quer dizer que ela seja simplista e nem que seja de fácil execução. Um primeiro desafio seria que cada brasileiro em idade ativa pudesse carregar o peso de sua própria existência, além de produzir um excedente para com isso ajudar a carregar o peso de alguém que talvez já não consiga mais carregar a si mesmo. É simples? É. É fácil? Não. Quando falamos da iniciativa privada essa é uma necessidade de sobrevivência de cada organização. Caso não seja assim ela desaparece. A pessoa permanece na organização enquanto a presença dela se justifica pelos resultados que ela gera. Ela precisa produzir mais do que custa. Pode parecer uma visão utilitarista, mas não é. Somente com o excedente daqueles que estão bem é que se pode manter aqueles que precisam de ajuda. Entretanto, quando entramos na esfera das pessoas que trabalham para o Estado (união, estados e municípios) a realidade muda. Não há a preocupação de que a pessoa que ocupa uma função de servidor público realmente entregue mais para a sociedade do que aquilo que ela custa para a sociedade. São incontáveis as situações em que as pessoas que ocupam funções públicas no executivo, legislativo e judiciário em âmbito municipal, estadual ou federal, simplesmente se preocupam em usufruir das vantagens da função. Muitas vezes, legislam em causa própria. Criam diárias, auxílios, luxos e bizarrices que custam fortunas sem que isso represente um mínimo de retorno para a sociedade que os financia. Por que um servidor com salário superior a R$ 30.000,00 precisa de auxílio moradia? Por que um deputado precisa ter um carro disponível pago pelo contribuinte? Não há sentido, porque nada disso dá retorno a quem os paga, a sociedade. Esses servidores públicos, antes de pensar em aumentar os seus próprios salários e benefícios, deveriam se perguntar: os benefícios do meu trabalho é igual ou superior àquilo que eu custo para a sociedade? Por exemplo, o trabalho de um deputado que custa mais de R$ 100.000,00 por mês proporciona isso de benefícios para a sociedade? Um juiz que custa mais de R$ 50.000,00? Um funcionário que custa mais de R$ 40.000,00? Não apenas cada servidor público deveria se questionar sobre isso, mas principalmente os cidadãos que pagam a conta.
É óbvio que uma sociedade que se organiza em torno de um município, de um estado e de um país precisa de servidores públicos. Também concordo que os servidores públicos devam ser remunerados de forma justa e que tenham boas condições de trabalho. Porém, isso deve ser de acordo com aquilo que a sociedade pode oferecer e, principalmente, em conformidade com aquilo que eles podem dar de retorno para a sociedade. Por isso, eu quero um Brasil no futuro em que os servidores públicos sirvam o público, os cidadãos, e não o contrário. Isso porque se os servidores públicos não servem os cidadãos, não devem estar no Estado, uma vez que só existe Estado porque existem os cidadãos. Um cidadão, uma pessoa existe sem um Estado, país. Um Estado não existe sem pessoas. Se o Estado não serve para servir as pessoas eu quero ser uma pessoa sem Estado.
Moacir Rauber
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