Muitas vezes, ao terminar uma das conversas que tenho conduzido em empresas, universidades ou escolas em que abordo a importância de olhar para dentro de si mesmo para identificar e prender os próprios ladrões, peço para que as pessoas se deem as mãos. Digo para que elas se cumprimentem, dando um bom dia, boa tarde ou boa noite, conforme o período do dia. As pessoas, entusiasmadas pelo conteúdo abordado anteriormente, dão efusivos apertos de mãos e abraços. Depois eu digo o seguinte:
– Mantenham o cumprimento. Fiquem de mãos apertadas e olhem-se nos olhos. Agora, levantem os seus polegares de forma a que o polegar de cada um se oponha ao polegar do outro. Force um pouco o polegar do outro. Testem a força um do outro…
As pessoas fazem o que é pedido. Algumas ficam constrangidas ao perceber que a pessoa a sua frente tem mais força no polegar do que ela. Outras ficam constrangidas justamente porque sabem que tem mais força do que o outro. Aparecem os sorrisos amarelos. Também aparecem os sorrisos espontâneos daqueles que pouco se importam se tem mais ou menos força do que aquele que está a sua frente. Eles se divertem pelo fato de estarem com o outro.
Na sequência eu chamo a atenção de todos para dizer o seguinte:
– Eu vou contar até três e cada um terá que fazer com que o outro abaixe o polegar o mais rápido possível. Combinado?
A tensão aumenta. Muitos presentes sentem a proximidade da competição e apertam mais fortemente as mãos. Eu começo a contagem:
– Um, dois, três. Valendo!
A competição começa. As pessoas fazem força para abaixar o polegar do outro. Cada um empurra para o outro lado. Os derrotados sorriem. Os vencedores inflam o peito. Entretanto, todos sabem que é uma brincadeira e terminam em abraços de confraternização. É um alvoroço. Logo que os ânimos se acalmam eu indago sobre quem venceu e quem perdeu. As manifestações são as mais variadas. Por fim, eu peço para a pessoa de quem eu havia apertado a mão para explicar aos demais o que eu havia lhe dito após o comando valendo:
– Ele falou, “olha, eu vou abaixar o meu dedo polegar, assim você poderá abaixar o seu. Com isso, ambos alcançamos os nossos objetivos.”
Depois da explicação todos exclamam, Ahh bom, percebendo que muitas vezes nós não entendemos o espírito das relações.
A vida pode ser competitiva, mas nós não estamos em competição. As competições, normalmente, não são justas porque são contra os outros. A competitividade normalmente é sadia porque ocorre a partir de mim em que demonstro a capacidade de fazer o meu melhor.
E nesse exemplo, em nenhum momento eu havia falado para que as pessoas derrubassem o dedo do outro à força. Para fazer o meu melhor e alcançar o objetivo de que o outro abaixasse o seu dedo, bastava eu abaixar o meu. Porém, essa postura e esse novo olhar exige que nós, além do dedo, abaixemos as nossas guardas e passemos a confiar em nós mesmos e nos outros. Que deixemos de competir e passemos a cooperar e colaborar. Com isso, nós, indivíduos sociais, passaremos a entender que nós estamos com os outros e não contra os outros. Enfim, é fundamental que entendamos que a nossa vida somente tem sentido com os outros e que a nossa alegria de viver somente ocorre na presença dos outros. Assim, ao alcançar os nossos objetivos devemos proporcionar a que outras pessoas possam alcançar os seus.
Por fim,
Viver em sociedade deve se basear em relações em que nós estamos com os outros e não contra os outros. Temos que reconhecer que deve ser bom estar com os outros.
É bom estar com você?
Moacir Rauber
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