A conversa com aquele jovem de dezoito anos estava interessante. Ele estava empolgado com as oportunidades e com o próprio futuro que se mostrava promissor.
Numa das intervenções eu fiz um comentário:
– Que bom! É importante também que se goste do que se faz, não é?
Ele franziu a cara e disse:
– Não sei se concordo com isso. Acho que o negócio que eu fizer tem que dar dinheiro. Isso que importa.
Ele continuou se justificando de que seria muito mais importante que a atividade dele fosse rentável do que prazerosa. Dizia com prazer e com orgulho que com dinheiro ele poderia comprar isso e aquilo, além de ter uma qualidade de vida melhor. Fiquei um pouco impactado com a crueza e a ambição desmedida presentes na resposta do jovem.
Depois de suas argumentações, surgiu um espaço em que eu comentei:
– Muito bem. Então para você em primeiro lugar deve vir o dinheiro, certo?
Ele disse que sim e voltou a argumentar que na vida a gente tem que se preocupar em ganhar dinheiro, por que senão o que será da gente na velhice?
Novo intervalo.
Eu aproveitei para comentar:
– Interessante a tua abordagem. Agora vamos pensar juntos. Imaginemos que você vá a um dentista para tratar os seus dentes. O que você acharia de ser tratado por um dentista que pensasse da mesma forma que você. Antes dos seus dentes, antes do dentista se preocupar em resolver o seu problema ele estaria preocupado com o seu dinheiro?
Fiz silêncio. O jovem também ficou. Nesse momento ele não disse nada.
Continuei a reflexão:
– O que você acharia de ser atendido por um médico que pensasse primeiro no dinheiro? E se você pensasse em programar as suas férias e fosse procurar uma agência de viagens que agisse da mesma forma que você me diz que pensa? Já imaginou o pessoal lá organizando a tua viagem, mas na verdade eles não estão nem aí para a tua comodidade ou conforto?
Outra vez veio o silêncio. A expressão do jovem mudou.
Continuei indagando sobre outras atividades:
– O que você pensaria de comprar carnes de um açougueiro que coloca em primeiro lugar o dinheiro? O que passaria pela sua cabeça de entrar numa farmácia que somente pensa no dinheiro? O que lhe parece se uma companhia aérea pensar sempre no dinheiro em primeiro lugar?
O jovem finalmente disse:
– Pois é, eu não tinha pensado nisso. Não tinha pensado desse jeito.
Depois eu disse:
– Provavelmente, qualquer cliente teu que souber que você pensa desse jeito não vai entrar no teu negócio. Não importa a atividade. Talvez ele entre uma vez, mas assim que ele perceber que está sendo atendido pelo dinheiro em primeiro lugar ele não voltará mais.
– Sabe que eu acho que você tem razão, disse o jovem.
Ainda conversamos sobre o tema. Por fim concordamos que o dinheiro é importante, inclusive para que a atividade seja viável econômica, social e ambientalmente. As pessoas que trabalham precisam do dinheiro para a manutenção da própria vida. Entretanto, também concordamos que o foco de qualquer atividade deve ser o atendimento do objetivo a que ela se propõe, sendo o dinheiro uma consequência natural do processo do trabalho realizado com competência. Por isso, acredito que o dinheiro é simplesmente o resultado do trabalho bem realizado e não deve ser o objetivo principal de se realizar o trabalho.
Você quer ganhar dinheiro? Eu também, mas como resultado de minhas competências.