Ter preconceito é normal! Olhe mais uma vez…

Moacir Rauber

Imagine você ler uma manchete de jornal que diz, “As melancias são colhidas em árvores na Tasmânia”. Naturalmente a sua mente formularia uma explicação para esse fenômeno, mesmo não o conhecendo. Isso é preconceito. Uma ideia formada sem conhecer o assunto. É natural que ele surja em nossas mentes quando somos confrontados com situações desconhecidas. Não há nada de errado nisso. Pode ser errado aquilo que nós fazemos com essas explicações preconcebidas. Quando nós não as esclarecemos, quando não as elucidamos, tornando-as superstições, gerando intolerância e fixando-as em nossas mentes sem fundamentação séria ou imparcial tem-se o preconceito como comumente é conhecido. No caso das melancias eu posso elucidar o fato e saber que se trata de um embuste. Pelo menos por enquanto… Também posso aceitar a notícia como verdadeira e passar a reproduzi-la, criando um círculo vicioso de conceitos errôneos sobre um fato sem a mínima comprovação. Assim, uma ideia ou um conceito formado antecipadamente se cristaliza em nossa sociedade gerando o preconceito que pode ferir e machucar pessoas.

Criar e disseminar um preconceito como o da melancia, possivelmente, não geraria nenhum tipo de mal maior. O preconceito também é natural no mundo das ideias. Aquele insight brilhante, muitas vezes, não passa de um preconceito. As pessoas imaginam uma solução para algo que não conhecem em sua totalidade. O que você fará com essa ideia é que determinará se continuará sendo um empecilho para o desenvolvimento ou uma oportunidade de crescimento. Caso você consiga atualizá-lo concernente a realidade você está no caminho do aperfeiçoamento. Por outro lado, caso você prefira ficar se alimentando do conceito formado antecipadamente a partir de ideias sem fundamentação, aí sim adentra-se no mundo do preconceito pejorativo, com toda a carga negativa que se conhece. Ao se avançar para as preconcepções sobre pessoas com determinadas características físicas ou intelectuais entra-se numa área sensível, embora também seja normal que se criem em nossas mentes conceitos sobre quem nós não conhecemos. Ao ouvir um locutor de rádio com aquele vozeirão todo, muitas vezes, nós imaginamos um homenzarrão por trás de um microfone. Todavia, quantas vezes ao nos encontrarmos com o locutor nos deparamos com uma pessoa muito diferente daquela inicialmente imaginada. Até aí tudo bem… O malefício do preconceito não advém de tê-lo, porque isso é natural, mas do que cada um faz com ele.

Quando as pessoas usam essas ideias preconcebidas sem aclará-las, as suas manifestações terminam por exibir atitudes discriminatórias frente a pessoas, sentimentos, convicções e tendências comportamentais. Trata-se de algo, ainda, comum frente as pessoas com deficiência. Ao tratar desse assunto me lembro de uma situação vivida na minha juventude em que um amigo meu sofreu de uma enfermidade que o deixou paraplégico. O meu preconceito com relação as pessoas com deficiência, na época, era o de que a vida não valeria a pena sob estas condições. Eram pessoas que, na minha errônea concepção, obrigatoriamente seriam incapazes e infelizes. Não procurei esclarecer tal pensamento. Não fiz nenhum movimento para saber se tratava-se de uma verdade ou de uma ideia minha, sem comprovação. Perdi a oportunidade de ampliar o meu conhecimento ao não elucidar um preconceito. Vim a descobrir que uma pessoa continua sendo um ser humano integral, independentemente de ter alguma deficiência ou não, da pior maneira. Adquiri uma deficiência… Como um amigo certa feita me fez a pergunta, Desde quando você fez a opção pela cadeira de rodas? E riu… Sim, parece que a vida me deu uma nova oportunidade de elucidar o meu preconceito, permitindo-me perceber de que o que eu pensava sobre as pessoas com algum tipo de deficiência era falso. Pude me reposicionar. Pude ampliar meu entendimento. Pude olhar mais uma vez!

E você? Como estão os seus preconceitos? Sim, acredito que eles sejam normais… Porém, não é normal pautar a própria vida e a de outros sem esclarecê-los ou elucidá-los. Não é normal acreditar que as melancias são colhidas em árvores sem tentar saber se é possível ou não. Não é normal discriminar alguém pela sua condição física. Use o preconceito como uma oportunidade para crescer e melhorar como pessoa. Não há necessidade de ficar em uma cadeira de rodas para saber que o seu usuário continua sendo uma pessoa como qualquer outra. E isso se aplica a tudo sobre o que nós formamos nossos preconceitos. Olhe mais uma vez!

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