Está pesado? A escolha é sua…
Outro dia, escutei um voluntário que participa da “pastoral social” de uma comunidade em que ajudam pessoas e famílias em estado de vulnerabilidade social. O trabalho consiste em cadastrar, acompanhar e orientar as pessoas para sair do estado de dependência para a independência por meio da qualificação e da recolocação profissional daqueles que podem. Porém, também é feito um trabalho assistencial com a doação mensal de cestas básicas considerando as necessidades de cada família ou grupo de pessoas atendidas. Desse modo, no primeiro final de semana de cada mês as pessoas são acolhidas e recebem os alimentos. O voluntário contou que, numa das vezes, o pai que buscaria a cesta básica não pode ir. O pai, além de desempregado, estava doente e mandou o seu filho de dez anos. O menino, ao receber a cesta básica foi ajudado pelo voluntário que perguntou:
– Tá pesado? Com ar de tristeza.
O menino voltou o seu rosto para ele e respondeu:
– Ainda bem que tá pesado. Quer dizer que tem muita comida!!! Com um sorriso de alegria.
Fiquei impressionado com a resposta e a analogia possível a partir dela. Por isso, pergunto: a sua jornada parece pesada? Os desafios são assustadores? Acredito que a alegria ou a tristeza pelo peso que cada um carrega depende daquilo que se escolhe carregar. Portanto, faça uma pausa e se pergunte: o que escolho carregar?
Ao escolher uma carga podemos agir frente a ela com alegria ou com tristeza, isso depende de cada um.
Entenda-se alegria como um sentimento de satisfação e de contentamento, comumente expressa por meio de sorrisos. Por outro lado, a tristeza pode ser entendida como um sentimento típico de quem não tem alegria ou ânimo, revelando-se na insatisfação. Ambos os sentimentos são essenciais ao ser humano, entretanto cada um pode escolher com qual deles mais tempo vai viver.
Entendo que a alegria pelo peso que se carrega está relacionada com a coragem de que se pode desenvolver as capacidades necessárias para os desafios que nos são propostos, enquanto a tristeza surge do medo de não ter forças para superá-los. A alegria frente a jornada surge pela disposição de poder fazer algo que está ao meu alcance, enquanto a tristeza tem sua fonte na preguiça em realizar o esforço exigido. A alegria diante de situações injustas me leva à ação, enquanto a indignação traz a tristeza que paralisa. A alegria perante atitudes das quais divirjo se fundamenta na confiança no outro como um verdadeiro outro que me conecta, enquanto a tristeza fomenta o ciúme e a desconfiança que desconectam. A alegria ante a realização e as conquistas de amigos e colegas se traduz em vínculos verdadeiros, enquanto a tristeza revela a inveja. Por fim, a alegria, ainda que se esteja enfrentando situações difíceis, brinda-me com a paciência, enquanto a tristeza ao não ter tudo sob o meu controle produz a impaciência.
Não se trata de não reconhecer a tristeza como um sentimento verdadeiro e necessário, mas de saber a sua origem para escolher enfrentar a realidade com a consciência das escolhas que posso fazer. Nenhuma tristeza é permanente, a menos que eu escolha que seja. Toda alegria é uma escolha, ainda que pareça que não tenha motivos.
Por fim, o menino de dez anos teria razões para estar triste com a condição de vulnerabilidade social vivida pela família e a doença do pai. Assim, muitos de nós escolhemos estar tristes pelo peso da jornada e alimentamos o medo; deixamo-nos levar pela preguiça; nutrimos a indignação; promovemos o ciúme; estimulamos a inveja; e exibimos a impaciência com aquilo que não temos. Com isso, esquecemos de desfrutar a jornada de escolher aquilo que vamos carregar. Voltando ao menino de dez anos, ele escolheu o sorriso da alegria que expressa a gratidão pelo que se tem, caminho para uma vida plena.
Escolha a sua carga e o sentimento será o indicativo de que a jornada está valendo a pena.
Moacir Rauber
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