QUAL A TUA RESPONSABILIDADE COM AQUILO QUE VOCÊ NÃO PAGA?

Fonte: BING IA

Gratuidade e Responsabilidade

Ao atingir a meta estabelecida para o ano de trabalho remunerado, busco oferecer uma ou duas oficinas gratuitas. Para manter a qualidade, as vagas são limitadas e respeitam a ordem de inscrição. Assim fiz no último mês. As vagas foram abertas e em pouco tempo foram preenchidas. Recebi pedidos de informações sobre novas oportunidades, respondendo que somente seriam ofertadas no próximo ano. Frustração para aqueles que não conseguiram mais vaga. Para mim, a alegria de poder compartilhar conteúdos e experiências para transformar e ser transformado pelo mundo ao qual pertencemos.  Comecei a preparação do conteúdo dedicando horas de pesquisa e elaboração de novas atividades com uma sequência de reuniões de trabalho com a minha colega facilitadora da oficina. Duas pessoas comprometidas em entregar o melhor. A minha expectativa aumentava com a proximidade da data de início da oficina. Enviamos mensagens com material preparatório. Finalmente chegou o dia e abrimos a sala virtual trinta minutos antes do horário marcado para receber os participantes. A expectativa nos gerava a alegria. O horário de início chegou e nenhuma das pessoas que se haviam inscrito compareu. Em mim, sentimento de frustração. Cinco minutos depois do horário marcado entrou a primeira pessoa e começamos a oficina com trinta minutos de atraso contando com a presença de apenas vinte por cento dos inscritos. Pergunto: quanto vale um evento gratuito? Qual é a responsabilidade daquele que se dispõe a receber?

Para a pergunta quanto vale um evento gratuito se deve considerar que não há nada que seja gratuito. Ainda que não se pague por algo que se está usufruindo, alguém está pagando. Esse pagar pode ser em dinheiro, recursos, tempo ou outra forma de comprometimento com aquilo que é oferecido de graça. A oficina não teria cobrança aos participantes, contudo, houve o custo de tempo para a preparação e os recursos tecnológicos usados pelos facilitadores. Além disso, ao oferecer a oficina quem a ministra deixa de usufruir de outras possibilidades para estar onde se comprometeu estar. Portanto, posso não pagar pelo almoço, porém alguém o paga.

Não havendo nada que seja gratuito, isso nos leva para a questão da responsabilidade de quem se dispõe a receber. Aqueles que se inscreveram ocuparam as vagas e impediram que outros se inscrevessem. Ao não participarem efetivamente da oficina, privaram a outras pessoas de receber gratuitamente algo a que eles se candidataram. Eis a responsabilidade com aquilo que é “gratuito”. Escolher não receber o que é disponibilizado gratuitamente não é problema, entretanto, quando a minha escolha priva o outro temos um problema.

Tomemos como exemplo o sistema de saúde brasileiro, gratuito. Muitas pessoas tem seus horários agendados com médicos ou laboratórios e não comparecem. Deixaram de receber um benefício por sua escolha, porém roubaram de outra pessoa a possibilidade de fazer uma consulta ou os exames que seriam importantes. Qual é a tua responsabilidade sobre aquilo que você não paga? Quem está pagando? Creio ser importante responder.

Voltando à oficina, confesso que a minha frustração inicial se havia alimentado da expectativa pela presença das pessoas que se inscreveram que não se concretizou. Em seguida, ao me desvincular da expectativa a frustração se transformou em entrega, porque o meu compromisso era com a minha presença e com a presença daqueles que escolheram estar. A ausência dos inscritos era de sua responsabilidade.

Enfim, naquele dia começamos a oficina na qual, inicialmente, sentia o gosto amargo da frustração pela não presença de muitos que não compareceram, porém terminamos a noite com o sabor da satisfação presente no sorriso e no reconhecimento daqueles que estavam presentes. Por isso, o exercício de resgatar a frustração pela expectativa não cumprida com o foco na responsabilidade do compromisso nos traz satisfação. O compromisso está no nosso controle e ele sempre é remunerado.

Na manhã seguinte a mensagem de uma das presentes: “Bom dia a todos! Ontem foi maravilhoso!!!”. O compromisso está pago!

Moacir Rauber

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COMUNICACIÓN NO-VIOLENTA

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O QUE ESTÁ NA TUA LUVA?

O que está na ponta da tua luva?

Ela é uma profissional da área de Recursos Humanos que dedicou os últimos catorze anos de sua vida a uma empresa que fecha as portas em seu país. Para continuar na organização teria que mudar para o país sede da empresa, sendo esse preço muito alto. Assim, ela se demitiu. Começou uma nova jornada e numa das atividades ela teve que entrevistar uma pessoa idosa. Dirigiu-se a uma casa de anciãos onde encontrou uma senhora de 86 anos com uma vitalidade impressionante, uma lucidez admirável e uma alegria maravilhosa. Ao comentar a entrevista, ela disse:

– Eu quero envelhecer assim! Não sei de onde vem tanta força?

Não há uma só resposta para a pergunta de onde vem tanta força, porém uma história contada pelo Pe. Nardi traz várias reflexões.

Ele contou que havia um homem que vivia numa região em que o calor era predominante. Um dia recebeu de presente um par de luvas de couro forradas, apropriada para regiões frias. O homem agradeceu e como não viu serventia guardou as luvas numa caixa de bugigangas. Tempos depois, ele foi transferido para uma região fria. Ao organizar a mudança encontrou as luvas esquecidas e fez o movimento de calçá-las, mas os dedos não chegavam ao final de seus espaços. Pressionou um pouco mais e doeu. Ele não desistiu e descobriu uma pedra na ponta de cada um dos dedos das luvas. Para tirá-las dali teve que fazer esforço e ter cuidado. No final valeu a pena, porque as pedras eram diamantes.

A fábula nos leva a perguntar: quais são os teus recursos internos? Qual o esforço que você faz para alcançá-los? Onde estão os teus diamantes?

No momento vivido, muito tem-se falado, divulgado e vendido cursos de autoconhecimento. É importante no caminho para a redescoberta de nossos recursos internos presentes nas forças e virtudes individuais. Contudo, exige esforço.

Da perspectiva científica, a psicologia positiva tem ajudado ao mapear as virtudes humanas compartilhadas ao longo do tempo em toda a humanidade, sendo elas: sabedoria, coragem, humanidade, justiça, temperança e transcendência. Cada virtude traz um grupo de forças, igualmente transversais aos seres humanos de diferentes culturas, etnias e regiões. Porém, cabe a cada um de nós descobrir as suas virtudes e forças para trazê-las a luz do dia. Tirá-las da ponta das luvas requer esforço.

Destaco, porém, que a perspectiva da psicologia positiva não é nova. Ao voltarmos no tempo, encontramos na filosofia e na espiritualidade conhecimento semelhante ao propagado pela psicologia. Na esfera religiosa há uma descrição semelhante aquilo que hoje é tratado como científico: as virtudes morais, as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo. As virtudes morais ou humanas são muitas que podem ser agrupadas em torno da prudência, da justiça, da temperança e da fortaleza, trazendo em si os indicadores que regulam nossa conduta segundo a razão. As virtudes teologais são três, sendo elas a , a esperança e a caridade, levando-nos a respeitar o mistério da vida tratando o próximo como irmão, filhos de um mesmo Deus. Por fim, existem os dons do Espírito Santo: a sabedoria, a inteligência, o conselho, a fortaleza, a ciência, a piedade e o temor de Deus. Dessa perspectiva, entende-se que ao exibir as virtudes presentes nos dons do Espírito Santo, mais facilmente se desenvolvem as demais forças e virtudes humanas anteriores. Destaque-se que temor a Deus não se refere a medo, mas sim a respeito ao desconhecido. De todas as formas, para acessar os recursos internos há que se propor a tirá-los das pontas das luvas.

Voltando a vitalidade, lucidez e alegria da senhora de 86, certamente elas vêm da força de alguém que conseguiu acessar os seus recursos internos ao descobrir os diamantes nas pontas dos dedos das suas luvas recebidas como presente. Ela não deixou o presente recebido abandonado no fundo de uma gaveta. A entrevistadora citada está buscando o caminho para encontrar o presente em suas luvas, sendo a psicologia, a filosofia e a espiritualidade possibilidades de caminhos.

Quais os presentes que você ainda não abriu?

Qual será o seu caminho?

Moacir Rauber

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REMAR EM OUTRAS ÁGUAS…

Da esquerda para a direita: Antônio Schuster, Wagner Rauber, Oguener Tissot (In memorian) e Moacir Rauber

Remando em outras águas…

A equipe estava composta por quatro pessoas e a proposta era remar 220km em seis dias na Lagoa dos Patos-RS. Tudo estava meticulosamente planejado, como o percurso, o tempo, a alimentação, as paradas e os recursos necessários. Somente faltou combinar com o “imponderável” (Seu Antônio). Ao final do primeiro dia, todo o planejado havia ido por água abaixo. O horário para finalizar a jornada deveria ser às 18h e já passavam das 22h sem concluir. A remada deveria ser desafiante sem ser dolorosa, porém agora estavam todos próximos da exaustão. Na escuridão da noite na lagoa o cansaço pedia passagem, levando-nos quase ao desespero. As águas internas se agitavam na ansiedade, no medo e no desassossego de cada um. Entretanto, um entre nós, que era técnico de remo olímpico, manteve o espírito elevado com a sua capacidade de extrair o melhor de cada atleta. As águas internas dos companheiros podiam estar agitadas, mas ele refletia a calma, o equilíbrio e a serenidade. Quando ele sentia que o clima ficava pesado com o silêncio reinando entre os integrantes da equipe, falava algo que nos animava. Num momento, ele disse:

– Falta menos!!!

Com isso, voltávamos a remar com a confiança de cumprir com a meta do dia.

Quem era o técnico de remo olímpico de que falo? Meu amigo Oguener Tissot que, lamentavelmente, foi remar em outras águas no acidente ocorrido no dia 20-10-24 na serra do Paraná. O que é o remo olímpico? É uma modalidade de velocidade que usa embarcações estreitas e leves em que cada atleta rema de costas. O atleta vê de onde veio, porém não sabe para onde está indo, analogamente à vida. No remo, realiza-se um movimento perfeito em que se trabalham todos os grupamentos musculares do corpo simetricamente, sendo mais efetivo em águas calmas.

O meu amigo técnico havia desenvolvido a capacidade de ensinar os seus alunos e atletas praticantes de remo, aclarando-os sobre as regras, os princípios e os valores da modalidade. Assim, ele sabia conduzir e preparar fisicamente cada um dos integrantes de sua escola, entre jovens, adultos e pessoas da terceira idade. Ele organizava, acompanhava e supervisionava todas as atividades propostas para os treinamentos, independentemente do objetivo. Para alguns o objetivo eram as competições, para outros o lazer e para outros mais podia ser o condicionamento físico. Sobretudo, o meu amigo ensinava os valores da lealdade e da amizade, muito mais do que a busca por resultados num campeonato local, estadual, nacional ou internacional de remo. E considere-se que ele foi a pessoa que mais atletas competitivos promoveu na história recente do esporte no Brasil. Porém, o mais importante que ele fazia era resgatar o melhor de cada um a partir de dentro de si mesmo. As águas do rio, da lagoa ou do mar podiam estar agitadas, mas ele conseguia transmitir a calma, a serenidade e o equilíbrio a partir de sua força emocional. Ele havia se especializado em acalmar as águas emocionais de seus atletas e comandados.

Voltando ao nosso desafio de remar os 220km na Lagoa dos Patos, nós o cumprimos mudando o planejado em conformidade com a realidade. Ressalte-se que naquele momento de exaustão, cansaço e quase desespero relatado no início, o meu amigo era um atleta como todos nós. Por isso, certamente ele também estava cansado. Entretanto, ele conseguia encontrar forças para se manter calmo, sereno e equilibrado para incentivar aos demais como o técnico que foi. Porém, muito mais do que isso, ele era um amigo especializado na lealdade, na confiança, na paz e na serenidade com que viveu a sua vida. Sim, ele foi chamado para remar em outras águas onde vai seguir sua jornada de levar a calma, o equilíbrio e a serenidade que sempre promoveu na sua curta jornada aqui na terra.

Fique em Paz, meu Amigo!

Moacir Rauber

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In Memorian: Oguener Tissot

AFETAR COM AFETO…

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AFETO NÃO SE COBRA,

AFETO SE DÁ!

SE TODOS VIVESSEM COMO EU 3?

Se todos vivessem como eu 3?

Ir ao supermercado é uma experiência que se repete pela necessidade de comprar os produtos de subsistência inerentes ao ser humano. Vou com minha esposa, às vezes a contragosto, outras vezes porque gosto de observar e, muitas vezes, fazer meus juízos de valor. Somos humanos, somos estranhos. Observo um casal em que o homem abre uma das geladeiras para escolher um pedaço de carne congelada. Ele revira todos os pedaços e segue em frente sem levar nada deixando o freezer aberto. Mais adiante vejo uma mulher idosa que se aproxima da pilha de papel higiênico, apalpa um pacote e com o dedo perfura o plástico para sentir a textura. Aproximo-me da mulher e pergunto:

– Perdão, senhora, não se pode fazer isso. Imagina se todos fizessem o que você fez, como seria?

Ela me olha entre desafiada e ofendida. Logo responde com raiva:

– Você não tem nada a ver com isso! E eu não sou como todos! Que se danem todos!

Foi uma senhora, mas poderia ter sido qualquer um.

Discordo dela quando me diz que não tenho nada a ver com isso, porque tenho a ver com a sua atitude, assim como todos os clientes. Ela furou e tocou um produto que posteriormente poderia ter sido comprado por mim ou por qualquer outra pessoa. Assim, aqui quero ressaltar a dificuldade que temos de viver em sociedade exercendo a nossa liberdade, respeitando o espaço e o direito à liberdade do outro. As situações relatadas são exemplos extraídos da realidade ordinária que podem pouco importantes por serem de baixo impacto, porém creio que elas se repetem em situações de maior impacto em que pessoas com o mesmo entendimento da realidade como as acima citadas estejam presentes.

A questão proposta “se todos vivessem como eu…” leva o indivíduo a resgatar os seus valores e princípios éticos refletidos em seu comportamento. Entenda-se ética como o campo do comportamento humano que estuda os princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam as ações individuais que se refletem em normas e valores presentes na vida e no dia a dia das pessoas. Com isso, constituem-se um conjunto de regras que carregam em si determinados valores morais das pessoas que terminam por ser representativos da sociedade. A partir desse conceito pergunto: o que se pode esperar de uma sociedade composta por indivíduos que não conseguem entender que o seu comportamento impacta a vida de outras pessoas? Acredito que ainda temos um longo caminho de retorno evolutivo para resgatar determinados comportamentos que eram valorizados em tempos passados para que possamos construir uma melhor sociedade no presente e no futuro. Trata-se de voltar a incorporar valores de colaboração, cooperação e consciência ética de saber que aquilo que faço, ainda que ninguém veja, deveria poder ser feito por qualquer um sem que isso represente um dano ou produza um impacto negativo na vida das demais pessoas. O que você faz poderia ser feito por qualquer pessoa?

Enfim, aquela senhora me respondeu com agressividade ao ser interpelada por mim frente ao seu comportamento. Furar um pacote de papel higiênico é grave? Pode parecer que não, entretanto reflete a nossa falta de pensamento coletivo em que as minhas ações impactam a vida das outras pessoas. Como ela acertadamente disse “eu não sou como todos”, ainda bem, porque ninguém é como ninguém. Porém, o exemplo dado por um deveria poder ser seguido por todos. Da mesma forma, eu não quero viver como todos e provavelmente todos não querem viver como você ou como eu, contudo, há a possibilidade de que outros copiem aquilo que você faz. Desse modo, cada um de nós deveria ter isso em mente. Por isso a importância da pergunta: e se todos vivessem como eu?

Na sequência vi uma menininha que tinha sete ou oito anos colocar novamente em seu lugar um pacote de bolachas que alguém havia derrubado por distração. Ainda há esperança!

Moacir Rauber

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E SE FOSSEM AS TUAS ÚLTIMAS PALAVRAS?

Fonte: IA BING

E se fossem as últimas palavras 2?

A irmã mais velha e o irmão de oito anos estavam no trem rumo ao campo de concentração de Auschwitz. Estavam assustados e sozinhos, porque os pais haviam desaparecido e, provavelmente, não estavam mais vivos. O vagão estava abarrotado de gente e, ainda assim, o frio era tremendo. A irmã olhou para o seu irmão e viu que ele estava descalço. Ela se irritou:

– Como pode ser tão burro, será que você não consegue fazer nada direito? Onde estão os teus sapatos?

E seguiu criticando, culpando e acusando o irmão por ter perdido os sapatos.

Essa foi a história contada por Benjamin Zander na palestra “O poder da transformação da música clássica” (https://encurtador.com.br/OIA8H) sobre liderança, exemplificando que os maestros conduzem e dirigem os componentes da orquestra sem dizer nenhuma palavra. Com palavras e sem palavras se pode criticar, culpar e acusar, assim é possível incentivar e desanimar; estimular e desmotivar; afetar com ou sem afeto. Depende da intenção. Desse modo, entende-se que quando nos deparamos com uma situação, ela é um estímulo para os nossos pensamentos e emoções. A boa notícia é que os sentimentos, as intenções e as ações são resultados da nossa escolha.

Entretanto, a nossa conduta frente aos estímulos a que somos expostos, muitas vezes, nos leva a criticar a nós mesmos, aos outros ou a situação, com isso culpamo-nos, culpamos o outro ou a situação por meio da auto acusação, da acusação ao outro ou da situação. Nesse cenário, seguimos um caminho de violência interna que se revela na forma como nos comunicamos com palavras, gestos e comportamentos no ambiente externo. Por fim a pergunta: o que fazer frente a estímulos que nos levam a dizer palavras, a fazer gestos e a adotar comportamentos, por vezes, violentos? E se fossem as últimas palavras, gestos e comportamentos?

Frente a essas perguntas, a Inteligência Positiva (Shirzad Chamine) nos convida a conhecer os nossos sabotadores internos liderados pelo crítico, para resgatar o sábio que está dentro de nós. Para isso, inicialmente faça uma pausa para se conectar com a realidade e se indagar: o que é fato aqui? Uma simples parada muda tudo, porque ela nos permite tomar consciência da diferença entre o que é fato e aquilo que é a interpretação dele (Passo 1 da Comunicação Não-Violenta de Rosenberg). Esse momento, fará com que se possa observar sem julgar para entender a emoção e mudar os pensamentos para escolher os sentimentos. A pausa nos permite identificar as necessidades que podem ser expressadas de forma trágica e violenta, com palavras, gestos ou comportamentos ao criticar a si mesmo, o outro ou a situação. Qual era a situação da irmã com o seu irmãozinho no caminho do campo de concentração?

A situação vivida pelos irmãos exigia que cada um dos poucos recursos disponíveis fosse preservado, porque não haveriam outros. Por isso, a reprimenda da irmã revelava as emoções que se transformaram em sentimentos que ela não conseguiu evitar, como o medo pela necessidade de segurança não atendida. Assim, os sabotadores sequestraram a sabedoria da garota e ela se expressou com violência. Ao contar a história, o maestro Benjamin Zander relembrou que a irmã conseguiu sair com vida dos campos de concentração de Auschwitz, porém o irmãozinho não. E aquela bronca foram suas últimas palavras ao irmão o que fez com que ela tomasse a decisão, “Eu nunca mais vou falar algo que não poderiam ser minhas últimas palavras”. É possível? Provavelmente não, porém com os recursos oferecidos pela Inteligência Positiva e pela Comunicação Não-Violenta é uma busca a ser vivida.

Respeitando as diferenças, no nosso dia a dia como líder, liderado, professor ou aprendiz, cabe a nós escolher as palavras, os gestos e os comportamentos como se fossem os últimos, porque um dia eles serão. Pode ser clichê, mas é real.

Finalmente, as palavras, os gestos e os comportamentos afetam o mundo, fazê-lo com afeto é a escolha de cada um!

Da esquerda para a direita: Wagner Rauber, Moacir Rauber e Oguener Tissot – De Boa na Lagoa remando por 220km (Janeiro de 2013),

O texto foi escrito para ser publicado no sábado (19-10-24), mas por alguma razão simplesmente esqueci. Hoje, num dia muito triste, publico em homenagem ao meu amigo Oguener Tissot que deixou lindas palavras para todas as pessoas com as quais compartilhou parte de sua breve vida.

Vai em paz, meu amigo, um dia nos encontraremos!

Moacir Rauber

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O PIOR ENTRE OS MELHORES OU O MELHOR ENTRE OS PIORES?

O pior entre os melhores ou o melhor entre os piores?

Ele era a estrela do time do bairro, uma equipe competitiva para a realidade onde atuava. Ali ele se sentia feliz com o reconhecimento dos companheiros e com os elogios recebidos das pessoas que o viam jogar. O jovem tinha muita habilidade, por isso, muitas pessoas o incentivavam a buscar equipes mais fortes para jogar. Um dia um senhor o elogiou e o convidou para se apresentar numa equipe mais poderosa, porém, o jovem respondeu:

– Prefiro ser titular em time pequeno do que reserva em time grande…

O que a visão de mundo presente na resposta do jovem pode nos revelar?

Antes de responder à questão, cabe ressaltar que a vida não é uma competição em que você se compara com os outros, porque a comparação entre o incomparável é a chave da infelicidade. Entretanto, cada pessoa pode ser competitiva ao transformar o seu potencial em talento, entendendo-se potencial como tudo aquilo que alguém imagina que possa ser e fazer e talento como a capacidade de colocar em prática esse potencial.

Voltando a questão sobre a visão de mundo do jovem futebolista, pode-se propor pelo menos dois pontos: o melhor entre os piores não tem espaço para evolução, enquanto o pior entre os melhores tem todas as possibilidades à sua frente.

Desse modo, a resposta do jovem futebolista vista da perspectiva da Inteligência Positiva pode ocultar alguns sabotadores internos que temos, entre eles o crítico. Para Chamine, autor da teoria, o crítico é o sabotador mais poderoso ao criticar a si mesmo, aos outros e a situação. Na fala de preferir ser titular em equipe pequena está implícita uma crítica às equipes grandes, assim como uma autocrítica numa possível falta de autoconfiança. Além do mais, essa resposta reflete a aliança do crítico com sabotadores cúmplices. Um deles poderia ser o prestativo, que necessita da aceitação dos demais de maneira quase irrestrita, algo disponível onde o jovem está e que expõe a falta de autoestima. Igualmente, o crítico se alia ao controlador, que deseja que as pessoas atuem em conformidade com a sua vontade, algo existente na sua equipe e exibe arrogância. E, a aliança entre o crítico e o esquivo, evidenciada na busca por fugir de desafios maiores, algo que teria que enfrentar ao migrar para uma equipe mais poderosa e indica covardia. Portanto, da perspectiva da Inteligência Positiva os sabotadores estão no controle das ações do jovem, ao levá-lo a acreditar que está satisfeito onde se encontra.

A dominância dos sabotadores na resposta do jovem, igualmente evidencia uma violência interna não manifestada diretamente na resposta. O jovem carrega em si a necessidade de reconhecimento, supostamente atendida. Entretanto, ao responder fazendo uma comparação entre a equipe em que está com equipes “grandes”, ele revela a expectativa de avançar para novos desafios, sufocados pelo medo imposto pelos sabotadores no sutil diálogo interno ao mantê-lo onde está. Aí está a disfarçada violência dele para com ele mesmo.

Enfim, no fato de ter recebido um convite, como ele poderia ter respondido fugindo do domínio dos sabotadores sem ser violento consigo mesmo e permitindo um caminho evolutivo?

Primeiro, uma Pausa.

Em seguida, escutar o convite, receber o elogio e agradecer com naturalidade, reconhecendo em si a alegria como um Sentimento de bem estar resultado da Necessidade de reconhecimento atendida. Na pausa, resgatar o sábio diante da situação. Assim, ele poderia receber a empatia oferecida no elogio e no convite, além de explorar com autêntica curiosidade a situação. Ainda na Pausa, indagar-se quais as dádivas no elogio e no convite para poder se abrir para recebê-las. Nesse momento, navegar com a segurança e a confiança de quem reconhece que as habilidades individuais nos abrem para um mundo de oportunidades. Por fim, sem medo responder com assertividade e humildade ativando o sábio com os seus poderes.

Como sair de ser o melhor entre os piores para estar entre os melhores?

Onde você está?

“Pois eu declaro a vocês que a todo o que tem será dado ainda mais;mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado” .

(Mateus 25, 29)

Moacir Rauber

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VIDA: OPORTUNIDADE PARA EXERCER A PACIÊNCIA!

Vida: oportunidades para exercer a paciência

Naquele dia, segundo a sua agenda, a palestra virtual estava marcada para começar às 20h. O palestrante, para quem a pontualidade era importante, tentava entrar na sala virtual 20 minutos antes para revisar equipamentos, tela de compartilhamento, áudio e receber os participantes. Entretanto, a abertura da sala estava sob responsabilidade do diretor da empresa. Assim, conforme os minutos passavam, a impaciência tomava conta dele. O relógio já marcava 20h e ele tentou ligar para o diretor, que não atendeu. O diálogo interno ficava agressivo, “Me irrita essa falta de pontualidade!”. Finalmente, decidiu respirar fundo e aceitar que essa ação não estava no seu controle. Um minuto depois a sala foi aberta:

– Boa noite, meu amigo, saudou o diretor.

– Boa noite, respondeu o palestrante incomodado.

– Estamos em tempo, o pessoal deve começar a entrar agora. A reunião vai começar às 20h15min.

Logo, o palestrante relaxou.

Aqui há algumas questões para serem analisadas, entre elas as oportunidades para exercer a paciência, a força para atuar naquilo que está no seu controle e a diferença entre as estratégias e as necessidades. Dessa perspectiva, acredito que a paciência é a chave que permite esclarecer os pontos seguintes.

Entenda-se paciência como a virtude do resultado da força emocional para o autocontrole que conduz o indivíduo a suportar a pressão de situações que não estão no seu controle. Inclusive, a paciência se revela na capacidade de escutar injúrias, supostas ofensas ou aceitar comportamentos dissonantes mantendo a calma, e ainda tolerar erros de terceiros. A palavra paciência tem origem latina patientĭa,ae entendida como a ‘capacidade de suportar, de resistir’. Destaque-se, porém, que paciência não é passividade e tampouco o ato de não escolher. Muito pelo contrário. A paciência é a virtude que permite refletir para atuar no momento apropriado sobre aquilo que está no seu controle, assim como reassumir o controle emocional para fazer o efetivo discernimento sobre as escolhas possíveis.

Assim, com paciência se pode avançar para os outros pontos: (1) o que estava no controle do palestrante? Não estava no seu controle abrir a sala virtual, contudo ligar para o diretor estava e ele o fez. Porém, o diretor não atendeu ao telefone. Assim, somente restava ao palestrante exercer a paciência. (2) Quais eram as suas necessidades e a quais eram as estratégias adotadas pelo palestrante? O palestrante adotava a estratégia da pontualidade para cuidar das necessidades suas, possivelmente de respeito, coerência ou consideração. Porém, a estratégia não funcionaria mais na situação descrita, porque não estava no seu controle iniciar a reunião. Desse modo, somente restava ao palestrante exercer a paciência.

Aqui, cabe resgatar que ser paciente não se refere a permitir que os outros o maltratem ou que o desrespeitem. A virtude da paciência, que exige muita força emocional, nos leva a ser tolerantes conosco e com os outros ao não exigir a perfeição nas relações segundo as nossas expectativas. Volta-se para a capacidade de avaliar o que está sob o meu controle, assim como para o exercício do discernimento de escolher uma das tantas estratégias disponíveis para cuidar das necessidades e atuar. E se os resultados não forem os esperados? Paciência, porque quando somos impacientes abrimos as portas para os comportamentos agressivos e antissociais, com as justificativas internas para os impulsos reativos que nos levam a ser violentos.

Enfim, após a entrada do diretor na sala virtual e a informação de que estavam no horário, o palestrante relaxou e lembrou-se: ele adotava a estratégia de agendar os compromissos com quinze minutos de antecedência para poder ser sempre pontual. Com isso, ele atendia a sua necessidade de respeito para com os participantes; de coerência para consigo mesmo; e de consideração para com a empresa que o contratara. Estava tudo certo, porque ele havia esquecido da estratégia adotada.

Quais as oportunidades que a vida lhe dá para exercer a paciência?

Na paciência está a verdadeira alegria!

(Francisco de Assis)

Moacir Rauber

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SE TODOS VIVESSEM COMO ELA?

Se todos vivessem como ela?

Numa de suas muitas interações com as pessoas que atendia, enfermos e carentes, a Madre Teresa de Calcutá ouviu uma das pessoas que a observava dizer:

– Não faria isso por dinheiro nenhum.

Ela respondeu:

– Nem eu.

Ela não o fazia por dinheiro, fazia por sentido. A história é conhecida e dela se podem extrair reflexões, entre elas indagar-se: eu faria o que faço se não fosse por dinheiro? Qual é o sentido para mim e para outro daquilo que faço? São perguntas que podem nos dar um norte num momento da história em que buscamos a sustentabilidade ambiental, social e econômica. Falamos muito de atividades “mais sustentáveis”, orientando o desenvolvimento tecnológico centrado nas pessoas e com soluções que contribuam de alguma maneira para a manutenção da vida no nosso planeta.

Entende-se que houve um caminho percorrido pela humanidade começando com a Sociedade 1.0, da caça, passando para a Sociedade 2.0, da agricultura, seguindo para a Sociedade 3.0, da indústria, avançando para a Sociedade 4.0, da informação, e, finalmente, chegando a Sociedade 5.0, da hiper conexão. Nessa sociedade há uma convergência entre o virtual e o físico fazendo com que ambas sejam reais, com a geração de alegria e tristeza; vitórias e derrotas; conquistas e fracassos; e amores e desamores em qualquer dos ambientes. Acredita-se que a Sociedade 5.0 pode nos levar a um modo de vida mais sustentável, mais eficiente e mais inteligente. Entretanto, qual é o sentido daquilo que se faz?

Assim, a Sociedade 5.0 aprofunda as possibilidades a partir da Inteligência Artificial, em que homens e máquinas são mais inteligentes; com a internet das coisas em que a tecnologia facilita a nossa vida; com a computação em nuvem que provê soluções a partir do compartilhamento de dados em escala global e por aí segue. Desse modo, a tecnologia está integrada no nosso dia a dia de maneira que já não se consegue viver sem ela. Entretanto, as perguntas existenciais, como, quem sou?”, “de onde vim?”, “para onde vou?, se é que vou…” continuam a angustiar os seres humanos, porque não têm uma resposta que possa ser fornecida pela tecnologia. Creio que a tecnologia, por vezes, contribui para que se gere ainda mais ansiedade pelos estímulos externos a que somos expostos, mantendo-nos conectados num mundo virtual, desconectando-nos do mundo físico. Entende-se que o virtual não é antônimo de real, mas sim de físico. Entretanto, o mundo físico exige a presença real. Por isso, acredito que a Sociedade 5.0, muito mais do que hiper conexão nos deveria levar a entender o sentido daquilo que fazemos para contribuir nas respostas de nossas perguntas existenciais.

Enfim, responder as perguntas iniciais para saber se você faria o que faz se não fosse por dinheiro e qual é o sentido daquilo que faz para si mesmo e para os outros, nos levaria a um verdadeiro estado evolutivo, para Sociedade do Sentido. Com isso, passaríamos a ser uma sociedade sustentável, não apenas mais sustentável, porque não há espaço para destruirmos somente “um pouco o ambiente” ou para sermos “um pouco responsáveis” com atividades que não são viáveis. Igualmente, temos recursos tecnológicos e humanos para sermos uma sociedade eficiente e sem desperdícios. Assim, finalmente construiríamos uma sociedade inteligente e nela somente se faria aquilo que faz sentido. Senão, para que fazer?

Desse modo, entendo que é essencial que olhemos para trás e aproveitemos os exemplos de pessoas que, com sua forma de agir, trabalhar e viver, afetaram o mundo positivamente. É importante ser remunerado pelo que se faz? Sim, entretanto é indispensável que aquilo que se faz contribua para que a vida seja melhor para todos.

Relembrando o que disse Madre Teresa de Calcutá que não fazia o que fazia pelo dinheiro, porque acreditava que “se você não vive para servir não serve para viver”. Certamente, se todos vivessem como ela o mundo seria um lugar melhor para se viver, em todos os sentidos!

Moacir Rauber

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