
O DOMESTICADOR: A FELICIDADE ESTÁ NA JORNADA
Ele cumpria cinquenta anos de trabalho e em todos esses anos sempre esteve disponível para as demandas da sua organização e de seus clientes. Igualmente, era o dia em que completava oitenta anos de idade com um sorriso de menino, a disposição de um adulto e a sabedoria de quem alcançou a maturidade, o que nem sempre acontece com a idade. Era chegada a hora de que mais uma vez ele se mudasse de lugar, porque a sua organização havia designado que ele voltasse para a matriz. Ainda assim, a felicidade estava expressa em sua face. Ele comentou:
– Deixarei aqui muitos amigos, mas estou feliz. É que a jornada foi boa. Ainda é… riu.
Ao vê-lo, veio-me à mente o diálogo de um Abade com um jovem monge.
“O abade perguntou ao monge:
– O que você fez hoje?
– Oh, hoje tive que domar dois falcões, aprisionar a dois servos, adestrar dois gaviões, vencer um verme, dominar um urso e cuidar de um doente.
– Como assim? Não há como fazer tudo isso no mosteiro.
– Não é no mosteiro, Abade, é em mim.
E prosseguiu:
– Os dois falcões são meus olhos que muitas vezes se fixam na maldade. Preciso vigiá-los!
– Os dois veados são as minhas pernas que se não controladas me levam para onde não quero ir…
– Os dois gaviões são minhas mãos que devo educá-las para fazer boas obras.
– Minha língua é o verme que se não dominado lastima, machuca e envenena outras pessoas.
– O urso é o meu coração com quem devo lutar constantemente para não viver centrado em mim num auto amor vaidoso.
– E o doente é todo o meu corpo…do qual devo cuidar para não ser dominado pela luxúria.”
É uma analogia que mostra o exercício de caráter que pode nos levar a que nos afastemos de uma vida instintiva para assumir o seu controle, aproximando-nos da felicidade. E isso se aplica a qualquer um de nós em nossas lutas pessoais para aprender a domesticar-nos internamente para ter êxito nas relações com as pessoas ou organizações.
Voltemos a observar o nosso amigo que se despedia. Ele estava alinhado com os valores da sua organização e com os votos feitos: obediência, pobreza e castidade, além do compromisso de viver em comunidade.
Ele é um sacerdote e pela obediência arrumou os seus pertences. Olhamos o que ele havia acumulado nos últimos catorze anos em que esteve na casa: uma mala de roupas, uma mala de livros, um computador e mais algumas coisinhas. Na realidade, era o acumulado durante toda uma vida. Era espantoso para a nossa (minha) visão de mundo ver na prática o voto de pobreza, em que se usam os bens materiais e intelectuais sem se apegar a eles.
Pelo voto de castidade, os padres aprendem a se sobrepor aos instintos mais fortes dos seres humanos, como a energia sexual. Eles se abstêm, mas nós poderíamos aprender a cuidar de nossos desejos para não precisar abortar crianças.
Pelo voto de obediência, os padres conseguem manter os dois votos anteriores cumprindo com a sua missão numa jornada que é marcada pelo profundo sentido da vida a partir da espiritualidade.
Talvez nesse caminho é que as pesquisas científicas mostram que os padres, assim como outras pessoas que desenvolvem uma espiritualidade profunda, são as pessoas mais felizes do mundo.
Enfim, são pessoas que aprenderam a ver o mundo sob uma perspectiva de amor, assim como têm a convicção de que sabem de onde vieram, onde estão e para onde vão. Além disso, as suas atividades sempre se voltam para o bem do outro, fazendo que esse bem volte para si mesmo em forma de felicidade. Por fim, os padres e as pessoas mais felizes do mundo não julgam, apenas perdoam.
Portanto, é essencial entender que a felicidade está na jornada e que ela passa por domesticar os nossos bichos internos.
Desejo uma boa Jornada ao aprender a ser Domesticador de Si Mesmo!
Moacir Rauber
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Fonte da Analogia: Palabras de Aliento – Pe. Jorge Nardi
Dedicado ao Pe. Bertrand De Vetter