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“TODOS SENTADOS!” UMA AÇÃO DE LIDERANÇA

“Todos sentados!” Uma ação de liderança

Há quarenta anos uso uma cadeira de rodas olhando o mundo de uma perspectiva diferente daqueles que estão em pé. Quando interajo com as pessoas, quase sempre, tenho que olhar para cima, com as exceções de outros cadeirantes ou pessoas de baixa estatura. Em eventos e celebrações há os momentos em que todos se põe de pé, mas eu continuo, obviamente, sentado. Na última sexta-feira fui a uma missa no seminário aqui perto de casa, em que estiveram presentes doze pessoas. A missa começou e todos se puseram de pé, exceto minha esposa e eu. Ela sempre permanece sentada em solidariedade a mim. O padre que celebrava recém havia chegado na comunidade e nos observou. A celebração seguiu e no momento de sentar todos sentaram. Em seguida, segundo o ritual, as pessoas deveriam ficar em pé, foi quando o padre disse:

– Não se levantem. Fiquem sentados.

Todos ficaram sentados, inclusive o padre.

A cena gerou em mim alegria, porque foi a primeira vez desde que sou usuário de cadeira de rodas que participei de uma missa em que estive na mesma altura dos demais. O exemplo se repete em reuniões sociais, em eventos de formação e na maioria dos encontros entre as pessoas que em sua maioria caminham. Por isso, não se trata de pedir que o mundo ande sentado, mas de analisar como um simples gesto, por vezes, pode ser representativo para o outro. Estar de pé é um estado de espirito!

Ao observarmos o ocorrido sob outras perspectivas podemos ver um gesto de inclusão, ou melhor, de não exclusão, assim como podemos detectar na cena uma atitude de humildade, de coerência e de empatia, qualidades de um líder.

Primeiro pergunto: qual a diferença entre inclusão e não exclusão? Entenda-se inclusão como o movimento que permite que as diferentes pessoas que integram a sociedade possam participar das várias dimensões do ambiente de maneira igualitária. Independentemente da condição física, intelectual ou social a pessoa faz parte da sociedade, portanto basta não excluir para que se participe nas diferentes dimensões sociais, seja na família, nas organizações ou na igreja. Entender e viver dessa maneira é uma característica da liderança que foi expressa no momento em que todos permaneceram sentados. Eu estava presente sem ser excluído. Pergunte-se: o que você pode fazer na sua organização para não excluir ninguém? Quais os ponto de acessibilidade podem ser melhorados? Há alguma prática excludente?

Em seguida falo de liderança, porque as ciências comportamentais mostram que um líder deve exibir traços de humildade, coerência e empatia, sendo essas as características mais valorizadas entre os liderados. Nas mais variadas organizações, o sucesso ou o insucesso está associado ao papel do líder, assim: a (1) humildade é uma virtude exibida por quem tem consciência das próprias limitações, produzindo comportamentos modestos e simples, essenciais para o líder. Muitas vezes, a humildade é confundida com baixa autoestima ou mesmo timidez, entretanto ela permite que a pessoa se coloque no mesmo nível dos demais, independentemente do papel social exercido. Desse modo, o verdadeiro líder está nivelado com os seus liderados. Lembre-se, líder ou liderado é circunstancial. A (2) coerência é essencial que os liderados a possam identificar nos comportamentos do líder para que o tenham em consideração, porque mostra a harmonia entre as intenções e as ações. Por fim, a (3) empatia, capacidade de colocar-se no lugar da outra pessoa, somente pode ser praticada por alguém que seja humilde e coerente. Portanto, pude ver no celebrante as ações de um líder ao exibir a humildade de colocar-se no nível dos liderados; ao mostrar-se coerente com as ações alinhadas com as intenções verbalizadas na fala; e com a empatia sendo o resultado das duas competências anteriores. Um verdadeiro líder também é um liderado!

Naquele dia, mantivemo-nos sentados num gesto de humildade ao reconhecer as limitações que nos igualam; fomos coerentes ao entender que os papéis que exercemos são circunstanciais, assim como a empatia se manifestou ao não excluir ninguém. Por fim, o gesto do padre de pedir para que ficássemos sentado nos colocou verdadeiramente de pé como seres humanos, porque estar de pé é um estado de espírito. Finalmente, foi uma real comunhão entre os presentes em que pude olhar a todos nos olhos de igual para igual. Não foi preciso incluir ninguém, porque não houve excluídos.

Moacir Rauber

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