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A MORTE DO OUTRO NÃO É SOBRE VOCÊ!

Fonte: IA COPILOT

A MORTE DO OUTRO NÃO É SOBRE VOCÊ!

A vida vai passando e a morte vai se aproximando. Ela envia sinais no nosso corpo que envelhece e pelas vidas a nossa volta que vão desaparecendo. Assim, já se foram meus pais, muitos tios, tias, amigos e amigas. No último mês mais dois amigos se despediram sem dizer adeus. Conversa com um e conversa com outro e os comentários vão desde “vai fazer muita falta”, “era um sujeito trabalhador”, “sempre estava de bom humor”, entre outros. Um dos amigos mais próximos disse:

– Vamos sofrer muito com a sua morte!

 São comentários espontâneos e naturais, entretanto carregam a perspectiva de quem segue vivo. Por isso, cabe destacar que a morte do outro é sobre o outro, não é sobre quem não morreu. Por que então, muitas vezes, comentamos sobre a nossa perda se quem perdeu a vida foi o outro?

Não se trata de uma crítica sobre sofrer com a partida do outro, que é natural, apenas uma observação sobre quem perdeu.

Lembro-me da morte da minha mãe e a dor que ela produziu em mim pela sua ausência. Porém, devo lembrar que era ela que não poderia mais desfrutar da alegria de abraçar os seus filhos, de ver os seus netos crescerem e de envelhecer junto ao meu pai. Foi ela quem teve sua vida interrompida precocemente. Igualmente, a morte do meu pai causou em mim um sentimento de desamparo típico da orfandade, entretanto foi ele que partiu deixando sem realizar uma série de planos. Hoje me pergunto: para onde foram as suas aspirações, as suas ideias e os seus projetos? Não tenho uma resposta, mas tenho a esperança de quem tem fé.

Ao lembrar dos meus amigos que partiram, primeiro me veio à mente a perda minha, porque a presença deles vai fazer falta. Entretanto, agora penso que a perda quem a teve foram eles que tinham seus filhos, suas esposas, seus pais e seus amigos. Serão os meus amigos que não poderão ver seus filhos crescerem ou ficar na expectativa de conhecer os netos. Serão eles que não poderão acompanhar as suas esposas até a velhice como haviam feito a promessa no altar. Serão os meus amigos que não poderão estar presentes na despedida dos seus pais. Enfim, serão os meus amigos que não estarão mais presentes nas confraternizações. Por isso, quem perdeu?

Dessa forma, fica o convite para que a vida de cada um seja uma perda para que aquele que parte ou para quem fica. Para os meus pais, que antes de tudo eram filhos, tenho a consciência de que nem sempre fui motivo para a sua felicidade, mas sim a razão de noites de insônia. Assim, pergunto: o que posso fazer para que aqueles que estão em minha presença possam sentir a minha ausência? Quais os comportamentos devo exibir para que eu seja uma perda para meus pais, meus filhos e meu cônjuge? Independentemente de quem parta primeiro.

Acredito que começa com o discernimento da importância do outro na sua vida, assim da sua vida na vida do outro. Quem é a pessoa mais importante do mundo para você? Quase sempre, a resposta é “eu mesmo”. Em parte, é verdade, porém essa importância por si só não basta, porque ela precisa vir acompanhada do “outro”, porque sem o outro não sou nada. Em tempos em que somos ensinados a desenvolver um amor-próprio egoísta, quando o outro morre eu fico com dó de mim. É natural sofrer com a morte de alguém querido, mas quem perdeu a vida não foi você, foi o outro.

Para aqueles que não creem em nada o que sobra é o sofrimento de quem vive somente na terra. Para aqueles que creem numa vida espiritual, resgatar as práticas do luto comedido pelo sofrimento da ausência de quem foi é um exercício para seguir em frente. Afinal, se sou cristão acredito que quem morreu não perdeu nada… ganhou a vida eterna.

A transcendência nos dá a esperança!

Moacir Rauber

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