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REFORMAR A CASA OU OS HÁBITOS?

Fonte: https://blocosarcanjo.com.br/

Reformar a casa ou os hábitos?

Começar e terminar uma reforma na casa e permanecer vivendo nela é um exercício de equilíbrio, paciência e bom humor, além de ser uma experiência para praticar a Comunicação Não-Violenta e resgatar qualquer traço de sabedoria que se tenha. Acompanhei a experiência da vizinha que confirma uma prática comum no segmento, embora haja exceções.

Na contratação do serviço o prazo é estipulado, o orçamento é combinado e os pagamentos são programados. Enquanto nos trabalhos formais você trabalha um mês inteiro para depois receber, no segmento da construção civil, pelo menos nas pequenas obras, o processo está invertido. Normalmente, os construtores pedem um adiantamento como sinal de negócio.

Escutava a minha vizinha que se propôs a dividir a casa criando dois ambientes mais para poder alugar e incrementar a sua renda. Na comunidade que frequenta ela recebeu a indicação de mão de obra de “confiança”. Estabelecidas as condições de prazo e orçamento, pediram o adiantamento e começaram as obras. Na segunda e na terça-feira os pedreiros vieram cedo e pararam tarde, trabalhando com um vigor que entusiasmou a senhora. Derrubaram as paredes que precisavam ser removidas, arrancaram duas janelas e uma porta. Ela estava feliz porque acreditava que nesse ritmo o prazo de 21 dias úteis seria cumprido. Porém, na quarta e na quinta-feira eles não vieram. O seu quarto estava fechado, mas a casa estava aberta, porque parte das aberturas não estavam. Menos mal que não choveu naquela semana, mas os morcegos entraram na sua casa. Na sexta-feira apareceram dois pedreiros que chegaram um pouco mais tarde e saíram mais cedo, não sem antes pedir um pouco mais de dinheiro:

– Será que a senhora poderia me arrumar um dinheirinho… com variadas justificativas.

Alguém já viveu uma situação semelhante? Se sim, tenho a certeza de que exercitaram a paciência, fizeram exercícios de equilíbrio e manter o bom humor não é tão simples assim.

São Tomás Moro propõe a Oração do Bom Humor para ajudar na paciência e no equilíbrio. Ele começa com o pedido bem humorado Senhor, dai-me uma boa digestão, mas também algo para digerir. Acredito que a maioria daqueles que venham a ler este texto, tem mais para digerir do que capacidade de digestão. Entretanto, o que sobrecarrega o nosso sistema se refere a digestão emocional daquilo que não está em conformidade com o acordado ou com o que nós acreditamos. O que é preciso para reformar uma casa vivendo nela? Exercitar a paciência e resgatar o equilíbrio é indispensável, assim como rever hábitos, entre eles o exercício do bom humor, é essencial.

Como não ser violento e ser positivo de maneira inteligente quando alguém não cumpre com o prometido? Creio que o bom humor possa nos trazer o equilíbrio frente as dificuldades e que a partir do exercício da paciência possamos nos comunicar com sabedoria e sem agressividade, com firmeza e sem violência. O bom humor pode ser uma chave para acessar os recursos da Comunicação Não-Violenta e da Inteligência Positiva que nos levem ao discernimento do real problema, capacitando-nos a dizer “sim” quando é conveniente; a dizer “não” quando é a melhor resposta; e a dar um “basta” quando a opção é interromper uma relação. Um prejuízo financeiro? Provável, por isso é necessário resgatar o bom humor!

Pode parecer um exemplo superficial, contudo traz em si a complexidade das relações humanas. A reforma da vizinha se prolongou dos vinte e um dias úteis pedidos para um período de dois meses. Ela passou por momentos de dor, sofrimento, angústia, lamentações e suspiros ao perder a sua privacidade.  Entretanto, ela não se resignou. Mudou hábitos ao aprender a dizer “sim”, “não” e “basta”, mantendo o equilíbrio num exercício de paciência que só quem tem bom humor consegue.

Por fim, a obra terminou. Ela reformou a casa e os hábitos!

Moacir Rauber

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