Para que facilitar se eu posso complicar?

Havia terminado o trabalho. Restava-me emitir a nota fiscal, juntar as certidões que a acompanham e encaminhar a cobrança. Dei uma última olhada nos documentos e vi que a certidão municipal estava vencida. Terei que solicitar outra…, pensei. Menos mal que a prefeitura onde tenho a inscrição oferece o serviço online… Naquele momento eu estava a mais de 800km da minha cidade, mas a tecnologia resolveria o problema. Entrei no site e solicitei a certidão. Deveria ser negativa, mas saiu positiva. O que será que aconteceu? Imediatamente telefonei para o plantão fiscal da cidade e logo fui atendido:
– Boa tarde, em que posso ajudá-lo?
– Olha, fui solicitar uma certidão negativa online, mas ela acusa alguma pendência? Eu poderia saber do que se trata?

Passei as informações da empresa. A atendente respondeu:
– Não posso dar informações mais detalhadas, mas essa empresa não recolheu o ISS entre os meses de maio e dezembro de 2012.

Fiquei espantado, porque sempre recolhi os tributos religiosamente. Lembrei-me imediatamente de um amigo meu, coletor de impostos, que tinha pendurado um quadro sobre a sua escrivaninha com os dizeres:
Nada é tão garantido quanto os impostos e a morte!

Simples e verdadeiro. É plenamente justificável pagar impostos, mas pagar o mesmo duas vezes não é justo. Respondi:
– Estranho… Tenho todas as guias aqui comigo. Elas estão em pdf no meu computador. Poderia enviar por e-mail, assim você faria uma conferência…

Expliquei-lhe que eu estava longe da cidade e que se eu não apresentasse a certidão naquele dia o meu pagamento não seria realizado. Ela, gentil e ineficazmente, respondeu:
– Desculpe-me, mas nós não adotamos esse expediente de trabalho. O senhor terá que enviar alguém aqui com os comprovantes de pagamento para que nós analisemos o caso…

Não teve nada que eu alegasse ou dissesse que pudesse mudar as coisas. Tive que ligar para a minha cidade, falar com um amigo, enviar-lhe os comprovantes de pagamento dos impostos, pedir para ele os imprimisse e que fosse até o plantão fiscal da prefeitura. Ele foi, mas lamentavelmente naquele dia o responsável não estava lá. Faltavam 30 minutos para encerrar o expediente quando o meu amigo chegou na prefeitura, mas era uma sexta-feira… Perdi o prazo para receber o pagamento. Teria que esperar para o mês seguinte. Na segunda-feira pela manhã ele voltou a prefeitura. O atendente entrou no sistema e emitiu a certidão. Ele não precisou apresentar documento nenhum. Não havia mais pendência nenhuma. Entre sexta e segunda as pendências, que nunca existiram, desapareceram. Não sei o que aconteceu.

O que sei é que normalmente culpamos o sistema para tudo aquilo que não funciona. Mas não se trata do sistema. Falamos de pessoas. Era uma pessoa do outro lado da linha com quem eu havia falado. Provavelmente alguém com marido, filhos e amigos. Amigos que podem ser outros funcionários ou mesmo donos de pequenas ou grandes empresas. Pessoas que estão no sistema. As pessoas são o sistema. Você. Eu. Nós fazemos o sistema. Quantas vezes poderíamos resolver algo e não o fazemos? A tecnologia teria resolvido a situação. As pessoas não deixaram. Quantas vezes, o simples uso do bom senso pelas pessoas poderia agilizar, resolver e melhorar o sistema?

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