Não nos perdemos mais…

Olhamos para à direita e ali estava o majestoso hotel onde teríamos uma reunião com o nosso contato. Deu uma sensação de alívio, porque a cidade era desconhecida e o trânsito caótico e nós chegávamos ao local com trinta minutos de antecedência. Ufa! pensei e logo exclamei:
– Não nos perdemos mais! Sorrindo feliz da vida para a Maria Alice que conduzia o veículo.

Porém, estávamos nos fundos do hotel. Avançamos um pouco para contornar a rua e chegar na entrada principal, entretanto a rua estava interrompida. Bem, teremos que dar a volta, pensamos. Foi o que fizemos. Retornamos pela rua que havíamos chegado, mas não poderíamos dobrar à esquerda para ir em direção ao lado onde deveria estar a porta principal do hotel, porque o sentido da rua não o permitia. Dobramos à direita e acreditávamos que apenas teríamos que dar uma volta um pouco maior, mas logo estaríamos no hotel. Por via das dúvidas reprogramei o GPS e lá fomos nós. Contornamos uma esquina e tivemos que avançar um pouco mais. Fomos até a próxima rua e finalmente pudemos entrar na avenida na qual deveria estar a entrada principal do hotel. Para nossa surpresa, a avenida estava uma confusão. A pista do lado do hotel era um canteiro de obras. Seguimos devagarinho e vimos uma passagem por entre os buracos e as obras e conseguimos entrar no pátio do magnífico hotel. O GPS acusava uma pequena diferença de localização, mas não havia dúvidas de que estávamos no nosso destino. Os GPSs também erram, pensei.

Conversamos com o recepcionista e dissemos que terímos uma reunião com um cliente deles. Ele nos abriu a garagem e deixamos o carro das dependências do hotel. Aproximei-me da recepção e perguntei:
– Tenho uma reunião com … e dei-lhe o nome.
O rapaz olhou a lista de hóspedes e disse que não havia ninguém com esse nome. Estranho, muito estranho, pensei. Mas nós combinamos às 17h nesse hotel… Ainda faltavam alguns minutos e então perguntei:
– Podemos aguardar aqui no café do hotel?
O rapaz de forma muito solícita disse que sim. A Maria Alice e eu dirigimo-nos ao café, porém ela estava um pouco desconfiada de que algo não estava bem. Enquanto eu buscava uma mesa a Maria Alice dirigiu-se ao balcão do café e perguntou o nome do hotel. Ela rapidamente voltou até mim e disse:
– Estamos no hotel errado.
– Como?
– Não é esse o nosso hotel. Ele está um pouco mais abaixo e está com a entrada interrompida.
Saímos para buscar o carro na garagem e fomos em busca do hotel outra vez. Não nos perdemos mais, pensei eu um pouco irritado com a situação. A partir de agora começávamos a estar atrasados. Demos uma volta enorme para poder encontrar um acesso ao hotel. Não conseguimos nada. Nesse momento tocou o meu telefone. Era o cliente preocupado em saber o porquê do nosso atraso. Expliquei-lhe. Víamos o hotel ao longe, mas não conseguíamos achar um caminho até ele. Finalmente, voltamos ao ponto de partida. Os fundos do hotel. Paramos ali mesmo. A rua estava interrompida, mas a calçada não. Assim, desembarquei, dei a volta em toda a quadra e fui encontrar-me com o cliente, agora já com vinte minutos de atraso.

No caminho de retorno a Maria Alice e eu ríamos do momento em que chegamos em que eu disse, Não nos perdemos mais!, mas nos perdemos. Às vezes, a certeza de que já alcançamos algo ou de que já conquistamos o nosso prêmio nos induz ao erro. A convicção de que uma pessoa, um amigo, um amor ou um cliente já foi conquistado faz com que não lhe dediquemos a devida atenção e o percamos, ainda que nos pareça impossível acontecer. O convencimento de que algo nos pertence, seja por mérito ou como direito adquirido, não existe. Tudo é uma construção. Nós estamos constantemente em obras. As pessoas com as quais convivemos também. Alguns mudam a fachada. Outros reformam a parte interior. E nós, nas nossas relações, temos que estar atentos e perceber como os outros estão se construindo, sabendo que isso é um processo inevitável, porque nós também o fazemos. Se não nos dermos conta que todos nós estamos constantemente em obras, podemos perder a porta de acesso àqueles que nos são mais caros.



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