Não confunda alhos com bugalhos e nem compare pessoas!

O navio estava em meio à tempestade. O capitão fez de tudo, mas o naufrágio era inevitável. Logo que ele avisou a tripulação, todos começaram a rezar fervorosamente. Das mil pessoas que estavam no navio apenas sete sobreviveram. Eles foram indagados:

– O que vocês fizeram para sobreviver…

– Nós rezamos, responderam os sobreviventes.

Nicholas Nassim Taleb em seu livro “O Cisne Negro” relata o caso com a premissa dos sobreviventes de que a oração os havia salvado. Porém, o autor questiona o poder da oração, porque aqueles que morreram também haviam rezado. O que aconteceu com a reza daqueles que morreram? Nunca saberemos. Um paralelo pode ser feito com o RH no processo de recrutamento e de seleção. Muitas vezes são usados testes de perfil para determinar os candidatos que devem ser contratados. Depois, são dados positivos sobre os contratados são computados para confirmar que a contratação foi acertada. Porém, quais seriam os resultados se os contratados fossem aqueles que foram dispensados? Nunca saberemos…

Na área de RH, o uso dos testes de perfil psicológico tem como objetivo auxiliar os recrutadores a tomarem uma decisão sobre o candidato ideal para uma determinada vaga. Um dos testes pode revelar perfis como o influenciador, o estável, o consciencioso ou o dominante. Outros testes podem identificar perfis como o planejador, o analista, o executor ou o comunicador, além de líder, seguidor, criativo ou ouvinte. Tem teste que classifica a pessoa como introvertida ou extrovertida, racional ou emocional, além de posicioná-la de acordo com o humor, temperamento e produtividade. E assim seguem os testes de identificação dos perfis dos candidatos com diferentes fontes de orientação teórica e conceitual. Com uma escolha mais acertada, pretende-se diminuir a rotatividade dos novos contratados, alocar os recursos humanos com mais efetividade, otimizar os custos do processo de recrutamento e de seleção, identificar e reter talentos e, consequentemente, criar um melhor clima organizacional com mais produtividade e maior competitividade. Entretanto, volta-se a pergunta: quais seriam os resultados se os contratados fossem aqueles que foram dispensados? E se os contratados não fossem classificados pelo seu perfil, qual seria o resultado?

Não se sabe. Sabe-se, entretanto, que…

…quando se classifica alguém, cria-se um rótulo e reduz-se o indivíduo àquilo que se imagina que ele seja.

Tem um ditado popular que diz, “não confunda alhos com bugalhos”, alertando que a semelhança não os torna iguais. Alhos e bugalhos têm aparência semelhante, mas são muito diferentes. Desse modo, entendo que premissa análoga deveria ser usada na gestão de pessoas, ampliando a perspectiva e sequer comparar alhos com alhos. Caso efetivamente se acredite que cada ser humano é diferente não se deveria propor uma classificação excludente. Da mesma forma, acreditando-se nas constatações da neurociência de que a plasticidade do cérebro é uma realidade e que cada indivíduo é o que é até o momento em que decida deixar de ser, está se classificando o que não é classificável. Por isso,

…além de não confundir alhos com bugalhos ou alhos com alhos, não se deveria comparar pessoa com pessoa.

Não há como classificar como iguais os diferentes.

Você está dizendo para não usar e não fazer os testes de identificação de perfil? Não, claro que não. Particularmente acho importante o uso dos testes de identificação de perfil como forma de autoconhecimento e para o desenvolvimento pessoal. Com isso em mente, os resultados de uma determinada classificação podem servir como estímulo ao desenvolvimento de outras qualidades e não como uma limitação. Incentiva-se a que a pessoa reconheça quem ela é, onde ela está, o que ela cria e como ela se manifesta para poder fazer diferente, caso queira. Penso que

…o RH deveria usar os testes para poder auxiliar as pessoas a se desenvolverem com o cuidado de não as limitar por meio de uma classificação que rotula.

Qual o uso que está sendo dado ao processo de identificação de perfil psicológico? Não confunda alhos com bugalhos, alhos com alhos e muito menos classifique pessoas.

Moacir Rauber

Blog: www.facetas.com.br

E-mail: mjrauber@gmail.com

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