
O QUE ESTÁ DEBAIXO DO SEU GUARDA-CHUVA?
O menino com seus quatro ou cinco anos acompanha o pai de mãos dadas. Caminham entre as árvores com folhas amarelas indicando que é outono. Chove e as roupas denunciam o frio, mas mesmo assim o menino saltita alegremente nas poças de água, brincando e exibindo a confiança plena naquele que o deveria proteger. Caminhando aproximam-se do alpendre de uma casa. O pai envolve o pescoço do menino com um xale, abraça-o num gesto de proteção, de despedida e com tristeza nos olhos. Em seguida, o pai se levanta, abre o seu guarda-chuva amarelo e se afasta pelo caminho. O menino fica parado olhando, enquanto as lágrimas escorrem de seus olhos.
A cena descrita é parte de um curta-metragem chamado Umbrella (https://www.youtube.com/watch?v=Bl1FOKpFY2Q), que sem dizer nenhuma palavra, em sete minutos, diz muito mais do que a maioria dos longas metragens ou de livros inteiros. O curta metragem fala de confiança, de esperança e de proteção em tempos de desconfiança, desesperança e de carência de presença.
Entendo que as relações se estabelecem com base na confiança, sejam elas pessoais, profissionais ou empresariais. A palavra confiança provém de confidere em sua origem latina, composta por con que estabelece uma relação de presença, mais fidere que tem o sentido de fé e de acreditar. Portanto, trata-se de uma das palavras mais profundas nos acordos de negócios, nos contatos profissionais e no estabelecimento das relações pessoais. As relações podem ser descritas como empresariais, mas por trás de cada negócio há pessoas. Portanto sem confiança não há negócios. Os contatos podem ser tratados como profissionais, porém cada um deles exige confiança para que alcancem bons resultados. E as relações pessoais, essencialmente, são baseadas na confiança, porque as pessoas deveriam se relacionar não para obter algo do outro, como num negócio ou numa tratativa profissional, mas para oferecer algo. O que você oferece nas suas relações?
Enfim, confiar é um verbo de ação que se reflete no ato de fiar juntos e confiança é um substantivo que traz em si um sentimento e uma convicção de acreditar. É algo que está em mim em relação ao outro, mas que o outro deve ver em mim na sua relação comigo. Pode-se pensar num matrimônio ou nas amizades que se baseiam na confiança e exigem a reciprocidade de confiar. É essa convicção que fundamenta a relação estabelecida entre pais e filhos desde o seu início.
Aqui volto a atenção para a responsabilidade que nós, adultos, temos para com as crianças. Isso pode ser no papel de pais, professores, vizinhos, tios ou ídolos em que não podemos defraudar a imagem construída de ser adulto que gera confiança nas crianças. Essa confiança é exibida por uma criança de maneira intensa, legítima e convicta com a fé de quem acredita com todo o coração, sendo um dos sentimentos mais lindos de um ser humano. A confiança no peito de uma criança se traduz em esperança de proteção para poder amar.
Naquele dia, o menino viu seu pai se afastar com tristeza, mas ele tinha a convicção de quem confia de que o pai fazia o que fazia para a sua proteção. A confiança que gerava a esperança e acreditava que um dia veria o pai voltar com aquele seu guarda-chuva amarelo. Era justamente debaixo desse guarda-chuva que estava a confiança do filho no pai, com a esperança da proteção que alimentava o seu amor.
O que está debaixo do seu guarda-chuva de sentimentos?
Vale a pena assistir ao curta-metragem Umbrella!
Moacir Rauber
Blog: www.facetas.com.br
E-mail: mjrauber@gmail.com