
Ecos da Presença: a esperança!
O meu compromisso era de apresentar algumas ferramentas conversacionais ligadas à Comunicação Não-Violenta e à Inteligência Positiva dando aos voluntários alguns recursos a mais no seu trabalho. Eles trabalhavam como apoio às crianças com doenças graves e seus familiares, atuando no ambiente hospitalar e na casa de acolhimento que funciona ao lado. Na visita que fizemos ao ambiente, ficamos impressionados com a força emocional das crianças que exibem uma luz inspiradora, ainda que enfrentem uma enfermidade grave. Por outro lado, os pais, muitas vezes, se dobram emocionalmente com reflexos físicos visíveis ante a dor dos filhos e, acredito, a sensação de impotência. É um ambiente em que se vê dor e sofrimento, porém é incontestável a presença do amor e da solidariedade. Os voluntários se esmeram no cuidado daqueles que estão fragilizados. Eles acolhem as pessoas com as suas feridas, porém cada voluntário igualmente tem as suas feridas. Isso ficou claro numa conversa logo após o encerramento da oficina em que uma voluntária se aproximou para compartilhar a sua história:
– Perdi meu filho aos 18 anos. Isso faz trinta e três anos. Agora faz 32 anos que atuo com voluntária…
Ela estava visivelmente emocionada com as lembranças do filho que perdera. A perda não estava no seu controle, mas ela mostrava uma força descomunal na sua postura frente à vida que estava no seu controle. Ela tinha feridas, mas havia escolhido a cura.
Há uma frase de José María Escrivá que diz “Se a dor acompanha o ser humano, o que é senão tolice desperdiçá-la?” era uma prática daquela senhora. Ela havia entendido que a dor e o sofrimento são inerentes ao ser humano e não há como evitá-los, contudo, podemos escolher o que fazer com eles. Da mesma forma, entende-se que todos nós trazemos em nós as feridas de uma vida e que cada um de nós, igualmente, traz dentro de si a capacidade de cura. Trata-se de uma ação deliberada de transformar a dor e o sofrimento em atos de amor. E esta senhora, que compartilhava parte de sua vida comigo, mostrou-me como fazê-lo. Ela escolheu estar presente para aqueles que necessitavam. Ela despertava nos demais o seu poder de cura e isso era uma forma de comunicação não-violenta e de prática da inteligência positiva.
Quando perdeu o seu filho, ela era ainda bastante jovem. Assim, seguiu sua vida profissional, contribuindo na renda familiar e dando uma vida digna para os dois filhos menores. Entretanto, ela fez uma escolha importante: reservou uma tarde de sua agenda para estar junto aos filhos de outras mães que estavam assustadas e com medo. Desse modo, nos trinta e dois anos que se dedicava ao trabalho voluntário, ela comentou que entregava a sua presença, dava a acolhida e companhia, criava confiança e, muitas vezes, escutava em silêncio. E era nesse silêncio que ela mais transformava dor e sofrimento em amor.
Ao final da nossa conversa ela revelou, Sempre que estou aqui junto de mães e pais que estão lutando pela vida de seus filhos, eu posso escutar o meu filho. Fiquei emocionado. A situação confirma que nós ensinamos com aquilo que fazemos e deixamos de fazer, por isso ela me ensina com aquilo que ela faz. E com a sua atividade ela praticava a comunicação não-violenta ao observar sem julgar as famílias com seus filhos enfermos; ela agia empaticamente ao sentir com genuíno interesse pelos acolhidos na casa; ela entendia e atendia as necessidades suas e dos demais com a sua presença; e ela se comunicava sem violência no silêncio da presença ou na fala calma, tranquila e serena que despertava nas pessoas o poder da cura. Assim, ela dominou os seus sabotadores e resgatou a sua sabedoria ao viver uma vida plena.
Enfim, no seu trabalho voluntário ela escutava os ecos da presença do seu filho e despertava nas demais famílias os Ecos da Esperança dos atos de amor.
Moacir Rauber
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Dedicado a AVOS é a Associação de Voluntários de Apoio e Assistência a Criança e aos seus voluntários anônimos e aos seus voluntários anônimos
Inspiração: Maria Helena Krueger – produz Ecos de Esperança!