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SEM A SUA PRESENÇA…

Imagem: IA COPILOT

SEM A SUA PRESENÇA…

Cheguei naquele dia para conversar com a coordenadora sobre uma palestra que abordasse a responsabilidade no trânsito. Não a conhecia. Fui levado até a sua sala e a pessoa que me acompanhava abriu a porta. Assim, pude vê-la em sua escrivaninha com o chimarrão ao seu lado. Ao perceber que a porta se abriu ela me olhou e rapidamente se levantou para me cumprimentar. Cumprimentos feitos, fiz uma alusão ao chimarrão e ela me ofereceu um. Em seguida, saímos para conhecer a estrutura, as salas de aula e as propostas dos cursos. Por onde passávamos ela me apresentava aos professores e, por fim, à diretora. Depois retornamos a sua sala e, entre um mate e outro, acertamos os detalhes da palestra. O evento foi organizado e repetido em outros momentos. Todas as vezes que retornava à instituição lá estava ela com o chimarrão e a disposição de fazer o que tinha de ser feito com o sentido de quem sabe o que, para quem e como faz.

Numa de nossas conversas, ela destacou a importância de ter em mente os projetos em andamento de maneira que possam seguir, ainda que não se esteja mais presente, Porque um dia não estaremos aqui… disse,

Falou o óbvio, como a flecha lançada que não retorna, mas reflete um comportamento não tão óbvio.

Em muitos lugares nós encontramos as mesmas pessoas por tanto tempo que parecem perpétuas, que se transforma em problema quando as pessoas acreditam nisso. Podemos citar o porteiro identificado como patrimônio da empresa, o gestor de RH, o Diretor Financeiro, o Dono da Empresa, o Presidente do Clube ou o Coordenador pedagógico que acredita que o projeto é ele. Depois de muito tempo no mesmo lugar, algumas pessoas desenvolvem a crença de que as coisas somente funcionam porque “eu estou aqui”.

Nada é tão falso como isso, porque basta morrer para entender que a vida segue comigo ou “sem migo”. Pode parecer caricato, mas é uma realidade em que se manifesta a mediocridade de quem acredita que aquilo que se faz tem a ver consigo mesmo. São pessoas que ainda não entenderam que fazer algo somente tem sentido se o outro estiver no centro da ação.

Ela tinha a clareza de que o foco é o outro, assim como sabia que somos “eternos aprendizes”, mas que não somos perpétuos.

Com essa consciência, se assume a condição de temporalidade, afastando-nos da mediocridade e levando-nos rumo a sabedoria presente no saber de conhecer e no saber de saborear.

T. S. Eliot indagava: onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? A pergunta nos provoca e nos desperta para a humildade de que é importante o saber de conhecer, mas é essencial saber fazer; é fundamental querer fazer; é indispensável saber ser e estar com o outro, porque é no outro que validamos o conhecimento. E ao saber ser e estar com outro, permitimo-nos saborear.

A etimologia das palavras nos mostra que saber e sabor se originam em sapere. Basta olha para Portugal que usa a palavra saber no dia a dia com o sentido de saber, conhecer, e de saber, sabor. Portanto, ao ter claro o sentido daquilo que se faz tendo o outro em foco, caminhamos rumo a sabedoria em que o sábio que sabe saboreia de verdade o seu trabalho e a sua temporalidade.

A primeira conversa aconteceu em agosto de 2018. Seguiram-se outras conversas e mates com a clareza de que nada é perpétuo. Cada vez eu saía entusiasmado por alguém que escolhia se arriscar, afastando-se da mediocridade escolhendo a sabedoria de quem lança as flechas do conhecimento, da motivação e da inspiração.

Ela sabe que sem a sua presença o mundo segue, mas eu sei que com a sua presença o mundo é melhor, porque em cada flecha lançada por ela há amor. Como é o mundo com a sua presença?

Moacir Rauber

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Inspirado em Dilaite Andreatta