O que esperar de um país assim?
Fomos ao supermercado como sempre fazemos. Começamos por um lado e terminamos no espaço dos frios, das verduras e das frutas. Minha esposa e eu olhávamos as uvas que estavam expostas buscando localizar o preço. Afastamo-nos um pouco para ver melhor. Nesse momento, passa em nossa frente uma mulher com seus trinta e poucos anos acompanhada de um menino de mais ou menos sete, provavelmente seu filho. Ele derruba uma caixinha de meio quilo que se abre. Pensamos que a mãe ajudaria o filho a recolocar o produto no seu devido lugar, porém o diálogo nos mostrou uma atitude diferente. Ela disse:
– Come uma uva, fecha a caixinha e depois coloca no lugar. Ninguém vai notar…
E seguiu abrindo outras caixinhas e mostrando ao filho como fazer para comer uvas sem levar e nem pagar pelo produto. Por isso a pergunta: o que esperar de um país assim, em que pais ensinam aos filhos a arte da esperteza? Não se pode esperar nada. Muito se fala dos políticos corruptos que estão no congresso nacional, assim como dos deputados estaduais e vereadores. Igualmente se comenta sobre a falta de honestidade de muitos dos ocupantes do executivo nacional, estadual e municipal. Outros tantos comentários são dirigidos aos empresários e potenciais corruptores dos políticos. Nesse caminho de condenar a corrupção, sequer escapam os magistrados componentes da suprema corte brasileira. Parece que assim seguimos nos afundando num caminho de corrupção que se constata no dia a dia das mais altas esferas do poder político, judiciário e empresarial. Entretanto, há que se lembrar que o presidente, os deputados, os senadores, os vereadores, os prefeitos, os governadores e os magistrados, antes de mais nada, são gente como a gente. Eles têm origem numa família e numa comunidade. E isso se aplica aos empresários, aos trabalhadores da iniciativa privada ou aos funcionários públicos, sejam eles ricos ou pobres. Por isso, ao ver uma mulher mostrar a uma criança de sete ou oito anos como roubar uvas num supermercado percebi que não se pode esperar nada de um país assim. Há que se fazer algo. Alguém poderia dizer, Ahh, mas foi somente uma uvinha!!! Não se trata do tamanho do furto ou do roubo, o ponto é a corrupção endêmica que surge de comportamentos assim. A mulher que vi furtando uvas poderá ser a próxima vereadora da minha ou da sua cidade. O menino em sua vida adulta poderá ser um prefeito, governador, presidente do país ou simplesmente um funcionário corrupto. Por isso me pergunto: o que poderíamos esperar de pessoas com essa postura frente a vida compartilhada com outras pessoas? Não podemos esperar nada, precisamos fazer algo.
Portanto, ao ver a situação do furto das uvas em andamento a minha obrigação como cidadão e como cliente é fazer algo, porque senão alguém levará uma caixinha de uvas com menos quantidade para casa. Enfim, não podemos esperar nada de um país como o nosso, porém temos a responsabilidade de fazer a nossa parte. Entendo que não é o Brasil que não é honesto, íntegro, eficiente, produtivo, pontual, empreendedor ou outra qualidade qualquer. Somos nós como pessoas e indivíduos que ao adotar comportamentos íntegros podemos criar um entorno que se refletirá em famílias, escolas, bairros, cidades, estados e num país honesto. Só assim para reverter a preocupação de Martin Luther King que disse: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons.”
Não esperemos nada de um país assim. Cumpramos com os acordos feitos na família; desempenhemos o papel para o qual fomos contratados nas empresas; participemos ativamente das associações de bairro, cuidemos dos espaços públicos e fiscalizemos o trabalho de funcionários públicos e dos representantes populares.
Não esperemos, façamos a nossa parte honesta e integramente que teremos um país melhor!
Moacir Rauber
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