
Gerações diferentes, comportamentos repetidos!
Pai e filho conversavam sobre os amores. O filho de vinte anos comentava que havia encontrado a mulher da sua vida. Queria se casar o mais rapidamente possível, deixaria a faculdade e encontraria um emprego para se sustentar. O pai o escutava, entretanto estava reticente. Disse que havia passado por uma situação semelhante que se revelou como fogo de palha.
O filho respondeu:
– Comigo é diferente… porque eu não sou você, pai.
O que o diálogo nos mostra? Que em termos comportamentais seguimos repetindo padrões sem, muitas vezes, aprender com eles, dando voltas ao tropeçar nas mesmas pedras que gerações anteriores já tropeçaram. Por outro lado, a tecnologia avança de maneira linear e geométrica usando os erros do passado para evoluir no presente. Assim, não precisa percorrer um caminho já feito.
A roda foi inventada e não foi preciso reinventá-la, embora a sua aplicabilidade possa ser repensada. A energia elétrica foi um marco evolutivo que mudou a história humana. O trem, o avião, o carro, os drones, a internet e toda tecnologia disponível serve de base para novas tecnologias. Para o bem ou para o mal, dependendo de quem a usa. Desse modo, todas as tecnologias podem ser mudadas, recriadas ou repensadas, sempre usando as experiências do caminho percorrido para construir algo novo e, quem sabe, melhor.
As questões comportamentais não seguem o mesmo caminho. Geração após geração são cometidos erros equivalentes que, inclusive, geram tragédias. Saímos da primeira guerra mundial para a segunda em que o holocausto parecia ser o máximo de horror que seríamos capazes de produzir. Entretanto, os genocídios e as guerras não pararam e usamos a tecnologia para provocar mais tragédias. E isso é comportamental.
Por isso, a própria literatura se baseia em dilemas pessoais, explora as mesmas dores e sofrimentos parecidos que geram tragédias ao longo da história. A filosofia igualmente reflete isso. Muitas vezes quando imaginamos que pensamos algo diferente, podemos voltar na história para saber que alguém já o havia proposto antes. A psicologia igualmente se propõe a resolver algo que de maneiras diferentes já fora tratado, seja dentro de correntes filosóficas ou de uma vertente espiritual.
Desse modo, o comportamento humano parece girar em espiral, repetindo padrões e tropeçando nas mesmas pedras em diferentes áreas relacionais.
No ambiente corporativo os mais jovens têm dificuldades de aprender com os mais velhos, porque creem que eles estão ultrapassados. Basta imaginar o conselho de um sênior para um jovem diminuir um pouco o ímpeto na abordagem ao cliente para escutar algo como “os tempos mudaram, hoje tudo é mais rápido…”. Entretanto, é essencial se lembrar que as pessoas continuam sendo pessoas com os dilemas que nos acompanham por toda a história. Assim, aprender com os conselhos e com os erros dos demais é uma das maneiras mais inteligentes, eficazes e eficientes de avançar, uma vez que você economiza tempo, dores e cicatrizes.
Na sala de aula não é diferente. Um professor já foi um aluno, porém um aluno ainda não foi um professor. Por isso, enquanto a maioria insiste em cometer os próprios erros impulsivamente, apesar de haver uma infinidade de oportunidades de aprendizagem, há um pequeno grupo que observa, escuta, estuda, aprende e avança com coragem. Note-se, há uma diferença entre impulso e coragem, assim como entre pausa e inércia. A inércia é a não-ação com os resultados que não queremos, enquanto a pausa é a coragem para buscar o discernimento de dar rumo ao impulso.
Acredito que somos seres singulares que devem experienciar um caminho único e irrepetível, entretanto aquele que desenvolve a capacidade de escutar com genuíno interesse, provavelmente vai trilhar um caminho de transformação na direção pretendida usando o aprendizado acumulado por outras gerações.
Era isso que o pai queria dizer ao filho. Era isso que o filho ainda não havia aprendido. Ao escutar que “eu não sou você” do filho ele concordou e disse:
– Sim, eu sei, você pode ser melhor…
Para isso é preciso aprender a escutar. Não é nada novo. É humano. É bíblico.
Moacir Rauber
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