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SÁBIO OU SABOTADOR 2?

Sábio ou sabotador?

Conversava com um jovem de 20 anos sobre como estava a relação em casa, especialmente com o seu pai. Ele me disse:

– O pai é um chato. Ele sempre reclama de tudo!

Perguntei sobre quais eram as queixas de seu pai e o jovem disse:

– Ahh, de qualquer coisa. Diz que não limpo as coisas, que não apago as luzes e até quando deixo uma gaveta aberta. A bronca maior vem quando uso as ferramentas dele, “Guarda esse martelo, você sempre deixa tudo fora do lugar, seu desorganizado!”

– E isso é verdade?

O jovem admitiu que, muitas vezes, o pai tinha razão, porque ele saía do seu quarto e esquecia a luz ligada; ao passar pela cozinha, por vezes, deixava os armários abertos; e, igualmente, acontecia que arrumava algo em sua bicicleta e saía com ela antes de guardar as ferramentas, deixando sujo o lugar. Ao relembrar tais situações a sua expressão se suavizou um pouco e admitiu que tampouco era “sempre” que o pai reclamava. Em seguida, o jovem voltou a ficar sisudo, porque havia outras questões que o incomodavam.  Comentou sobre as discordâncias para sair de casa para festas, os horários de estudo e a rigidez para levantar, almoçar e jantar.

Ao falar com o pai sobre o filho, ficava evidente o amor e a admiração existente.Ele tinha a consciência de que seu filho era um bom rapaz e com bons valores, além de ser trabalhador e estudioso. Entretanto, ao falar do convívio diário a irritação apareceu em seus olhos. Ele disse que o filho “sempre deixava tudo sujo e tudo fora do lugar”, além de não respeitar os horários da casa. Ao ser indagado se era sempre, o pai se pôs a pensar e sabia que não era “sempre” que não guardava as ferramentas, assim como não era “sempre” que não apagava as luzes, que não limpava os lugares que sujava ou que não cumpria os horários da casa. Ao entender a diferença a irritação em seus olhos diminuiu.

O que se pode aprender com a situação desse pai e seu filho? Alguém de nós já experimentou algo semelhante, seja como pai ou como filho? E como situações semelhantes se manifestam na vida cotidiana?

No relacionamento entre pai e filho, ou em qualquer outro que surja um conflito, provavelmente uma (0) Pausa, a escolha de quem tem audomínio,contribuirá para poder (1) Observar e se ater aos fatos com a clareza de que uma interpretação acontece na mente. Com os fatos em mente, a violência interior diminui para então registrar quais os (2) Sentimentos surgem no coração  frente a situação em função de (3) Necessidades que não estão sendo atendidas. Até aqui estamos no ambiente interno de quem se defronta com a situação. A partir daí, o comportamento de cada um pode ser sábio, não-violento, ou sabotador, violento (Rosenberg, 2006, Chamine, 2012). É importante indagar: quais eram necessidades do pai e do filho ocultas nas suas reclamações? Existiam necessidades comuns?

Por último, vem (4) a expressão que pode ser feita com a sabedoria da não-violência ou com a agressividade dos sabotadores: quem vai se manifestar, o sábio ou o sabotador? Posso fazer a pausa e ainda assim entrar em conflito, entretanto, com a pausa, mais facilmente, posso evitar as palavras avaliativas que julgam, apontam e rotulam. O pai ao dizer que o filho “sempre deixa tudo fora do lugar, seu desorganizado” se manifesta a partir de uma interpretação da realidade que rotula o outro, ainda que dentre as últimas cinco vezes que ele tenha usado uma ferramenta as tenha guardado três vezes. É uma comunicação violenta e interpretativa que sabota a relação, desconetando as pessoas. O pai, igualmente, pode dizer:

– Quando vejo o martelo fora da caixa de ferramentas, fico frustrado porque necessito de ordem. Será possível que depois de usá-lo você o guarde novamente?

Assim, o pai fala de fatos, responsabiliza-se pelos sentimentos, aponta as necessidades e sugere uma estratégia.

Qual é a manifestação da sabedoria e da não-violência?

Moacir Rauber

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