Por que tem tantos velhos aqui?
A família foi ao seu compromisso semanal com a espiritualidade. Os pais convenceram um dos jovens filhos a acompanhá-los. O filho olha para os lados e se sente desconfortável. Ele está com seus cabelos coloridos, enquanto a maioria dos presentes tem cabelos brancos. Ele carrega piercings nas orelhas e no nariz que parecem destoar das rugas que a maioria das pessoas exibiam no rosto e no pescoço. Ele pensou, definitivamente, aqui não é o meu lugar. Entre incomodado e irritado, aproximou-se do ouvido da mãe e disse:
– Por que tem tantos velhos aqui?
– Uma boa pergunta…
A mãe pensou, Fico feliz de estar entre tantas pessoas maduras. Ao observar lugares como templos, igrejas, sinagogas ou outros espaços dedicados a vida espiritual é muito comum ver mais pessoas idosas do que jovens. Ao pensar sobre a maturidade, creio que nesses lugares se encontram um grande número de sábios.
Desse modo, para parte dos idosos que são vistos em espaços contemplativos ou que exibem comportamentos compassivos o CRÍTICO, sabotador principal, PERDEU (Inteligência Positiva). Com isso, ele não tem força de atração para criticar a si ou aos outros, bem como não faz sentido criticar as situações que não pode afetar. Ao escolher afetar, o ancião afeta com afeto. Assim sendo, o INSISTENTE perde força e se o cabelo está azul ou branco não faz diferença. O PRESTATIVO se torna autêntico ao atender as próprias necessidades sem se descuidar das do outro. O HIPER-REALIZADOR volta ao seu tamanho normal, porque somente faz o que pode fazer. A VÍTIMA não encontra mais ressonância porque o final chegará para todos. O HIPER-RACIONAL não tem relevância porque a vida passou e ainda assim não se sabe de onde viemos e para onde vamos. Ansiedade para quê? Dessa maneira, o HIPERVIGILANTE pode descansar e o INQUIETO já não está mais tão agitado, porque a experiência que verdadeiramente importa está nas pessoas e nas relações que se mantêm. Igualmente, o ESQUIVO diminuiu pelo caminho em que tarefas e conflitos não agradáveis foram superados que já não há nada que possa exasperar a um velhinho, sábio. Enfim, CONTROLADOR do quê? Sim, a vida passou e cada um vai percebendo que as escolhas que fazemos podem nos levar para situações que não queríamos. Desse modo, o que está em nosso controle? Se nos aproximamos da Comunicação Não violenta (Marshall Rosenberg), está no nosso controle PAUSAR para OBSERVAR um jovem e não o julgar. Está em nosso controle PAUSAR e registrar o próprio SENTIMENTO, sabendo que fui jovem com medos que me acompanham até hoje. Está em nosso controle identificar as próprias NECESSIDADES que podem ser diferente da do jovem nesse momento, mas que no final são as mesmas. Enfim, está no meu controle EXPRESSAR-ME de maneira autêntica com a consciência do AFETO. O passo a passo da CNV faz com que o SÁBIO emerja e os sabotadores submerjam. E o piercing no nariz? Pouco importa.
Uma opção é buscar no conhecimento as ferramentas que nos permitam viver com a sabedoria do AFETO. A idade ajuda, entretanto não é garantia.
“Por que há tantos velhos aqui?” foi a pergunta do jovem. Creio que nos templos, nas igrejas, nas sinagogas e nos demais espaços dedicados à espiritualidade a presença dos idosos aumenta a probabilidade de se encontrar pessoas que já não veem a importância nos sintomas, uma vez que resolveram as causas; cresce a possibilidade de se ver pessoas que estão no comando das escolhas internas, muito mais do que aquelas que fazem escolhas dadas por comandos externos; e, certamente, sobe a proporção de pessoas que conseguiram aceitar e converter todas as situações difíceis em presentes de uma vida vivida com a consciência de sua finitude. Por isso,
…nos espaços dedicados a busca espiritual se veem os anciãos que dobram os joelhos diante do desconhecido para agradecer o privilégio da vida. São SÁBIOS!
Moacir Rauber
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