Ao embarcar em Foz do Iguaçu tive uma experiência diferente. Logo que passei pela alfândega dei de cara com um sebo em que os livros tinham preço único. Os livros custavam vinte reais. Para alguns era um preço atraente. Para outros era um preço normal. Entretanto, o que chamou a atenção foi a não presença de um caixa humano. Ninguém estava lá para cobrar pelos livros comprados. Havia uma caixa de papelão como uma urna para se deixar o dinheiro. O nome do sebo era Peg Pag com o Auto Caixa. Ao fundo um cartaz com os dizeres, (1) Escolha seus livros; (2) Coloque o dinheiro no caixa; (3) Coloque os seus livros na sacola; e (4) Boa leitura. O cartaz encerrava com a frase, “Nós acreditamos nas pessoas”. Interessante, não é? Cada vez mais tem se observado iniciativas similares.
Parece-me que as pessoas estão voltando a se orgulhar de exibir a sua honestidade. E por que? Porque é bom ser honesto e, além de tudo, a honestidade dá lucro.
Como muitos outros transeuntes observei a iniciativa e não pude deixar de registrar o fato. Também entrei na livraria e escolhi um livro. Orgulhosamente, pus meus vinte reais no caixa. Deu-me a sensação de estar fazendo algo extraordinário, quando na verdade era o mínimo que eu deveria fazer, assim como todos. Conversei com um e outro. Todos exibiam a satisfação de estar num ambiente seguro e não controlado que é a expressão da liberdade. Depois segui para o portão de embarque. Confesso que nunca vi um lugar no Brasil em que havia tanta gente com um livro na mão. Pareciam todos realizados com o fato de que também estavam demonstrando a própria honestidade. Estar com um livro na mão naquele ambiente informava a todos que ele havia passado pelo sebo e que estava seguro de ter feito a coisa certa. Não era só isso. Demonstrava-se com a leitura a ânsia por um mundo seguro em que as pessoas podiam confiar porque todos são confiáveis. Estava expresso na atitude dessas pessoas o desejo de que esse exemplo se espalhe por toda a sociedade em todos os setores da vida coletiva que está fundamentada em bons valores, entre eles a honestidade. Pressuponho que aquele seja o sebo mais lucrativo do Brasil.
Porém, poderia ser questionado o comportamento das pessoas. Nós não deveríamos nos comportar em público da mesma maneira como nos comportamos quando ninguém nos vê? Concordo. A situação descrita poderia ser interpretada como a de muitas pessoas querendo apenas parecerem honestas. Prefiro ver pelo lado positivo. Acredito que aqueles que fizeram a sua compra sabendo que estavam sendo vistos também o fariam se ninguém os estivesse observando. Mais do que isso. Penso que a compra é uma compra de protesto. A compra era exibida de uma forma a mostrar que nós precisamos mudar ou resgatar a vivência dos valores que dizemos que defendemos.
A honestidade é um valor, verbalmente, defendido pela grande maioria, mas, muitas vezes, não exibido na prática.
Enfim, parece-me ser um bom momento para resgatar a honestidade como um valor social, assim como a confiança, a lealdade, a cooperação, entre outros. Além de tornar a vida de todos mais segura, a adoção de tais valores deixa a vida mais barata e mais fácil. Precisaremos de menos investimentos em segurança, que podem ser canalizados para o lazer, a educação e a saúde. Portanto, é bom ser honesto porque também dá lucro ser honesto.
Moacir Rauber
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