Falar com pessoas como pessoa…

Moacir Rauber
Iniciar o ano com um evento falando das expectativas das pessoas é uma ação apropriada. O evento estava programado naquela grande empresa. Tudo organizado. O público já havia chegado. Tratava-se de uma das líderes de seu setor, sendo composta por inúmeras unidades. O evento contava com a presença de mais ou menos 200 pessoas. Um pouco antes de seu início chega uma notícia extraordinária, o executivo maior da organização estaria na sua abertura. Um leve frisson toma conta do ambiente. As pessoas da comissão organizadora ficam em polvorosa. A responsável pelo cerimonial estava nitidamente nervosa. Ela se aproxima de mim e diz, Eu sempre fico nervosa na abertura de qualquer evento. Meu Deus, agora imagina como estou sabendo da presença do nosso CEO… Olhei para ela e disse, Fica tranquila. Ele é apenas uma pessoa como você e como eu… Pode até ser, mas sabe-se muito bem que o que ele representa é muito mais do que isso, pois carrega uma imagem de responsabilidade que impacta cada componente da organização por ele comandada. Ali não era diferente. A ansiedade era geral. Era um evento que tinha como foco as pessoas que de repente se transformou num acontecimento. Seria a primeira vez que o CEO visitava aquela unidade. Os organizadores estavam amontoados num dos cantos do palco. Eu, que seria o palestrante do dia, entre eles. Começou o burburinho na entrada do auditório… Logo em seguida o chefe maior da organização irrompe no auditório. Dirigiu-se diretamente até a primeira fileira, sentando-se no canto do lado oposto de onde nós estávamos. Pronto…  Ele havia chegado. O evento podia começar. A moça do cerimonial pegou o microfone e começou a falar. A sua voz tremia, mas manteve o controle. Conseguiu fazer até uma brincadeira. Apresentou o CEO. Este pegou o microfone e passou a falar sobre a importância da realização daquele evento. Destacou que a organização somente era uma líder em seu segmento porque ela era composta por pessoas. Também afirmou que ele gostaria que aqueles que estivessem nela trabalhando o fizessem por livre e espontânea vontade e não porque não tivessem outra opção. Continuou a falar por uns 20 minutos sobre a empresa, os desafios, as vitórias e as conquistas, reafirmando a importância das pessoas nessa construção coletiva. Eu observava tudo e concordava em gênero, número e grau com aquilo que ele dizia. Por fim, terminou a sua fala. Entregou o microfone para a responsável pelo cerimonial. Virou-se e foi embora… Sequer viu que havia uma pessoa por trás do microfone. Da mesma forma como entrou, saiu. Não estendeu a mão para nenhum dos presentes. Assim que ele deixou o local parece que o evento se esvaziou. Inicialmente instalou-se um silêncio absoluto. Pairava no ar uma certa perturbação. Estavam todos perplexos.  Creio que se indagavam, Será mesmo que o nosso CEO esteve aqui? Depois começaram alguns sussurros e comentários. Por fim, os organizadores se recuperaram do baque e deram sequência a programação.

Se por um lado concordei com o conteúdo da fala do CEO, em que destacou a importância das pessoas numa organização, afirmando que uma não existe sem as outras, por outro lado as suas atitudes desfizeram a elo entre o discurso e a prática. As pessoas da comissão organizadora que ali estavam esperavam a deferência de um aperto de mão. Ou no mínimo que ele as tivesse visto, feito uma saudação. Não se trata de bajulação. Trata-se de respeito. Ninguém questiona o fato de que o CEO não tenha permanecido no evento, porque afinal ele precisa fazer a máquina girar. Questiona-se a distância entre falar de pessoas e interagir com as pessoas. Ele representa a todos, sim, mas sem os representados que importância ele tem? Falar de pessoas é fácil, porém agir como um simples ser humano parece ser um pouco mais difícil, embora ninguém seja mais do que isso. 

Por isso, se for falar de pessoas para pessoas há que se comportar como tal. Caso contrário é melhor não aparecer…

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