No último domingo fui à missa. Entrei acompanhado por minha esposa e minha sogra, que disse haver um lugar especial para os cadeirantes. Vamos ver… pensei. Fui até o lugar. Logo sorri, porque ele era tão especial que eu ficaria em evidência para a igreja inteira. Havia um espaço bem em frente ao altar, em que foi posto um banco sem o assento. Deixaram somente a sua parte detrás, o encosto das costas, como um delimitador para a outra fileira. Assim, eu “estacionaria” a minha cadeira por ali, mas ninguém poderia se sentar ao meu lado. Nem minha esposa. Uma pena! Nem minha sogra. Que sorte! Olhei, enquanto era olhado por quem já estava na igreja, analisei, girei e voltei. Nisso, vi um local que poderia ser um espaço mais discreto para ficar e que ao mesmo tempo não “atrapalharia” o fluxo das demais pessoas. Posicionamo-nos ali, próximo a uma das portas laterais e assistimos a cerimônia. Um pouco antes do final da celebração o padre perguntou se havia visitantes entre os assistentes. Minha esposa se manifestou e nominou a cidade. Assim ocorreu também com outras pessoas. Saudações, sinal da cruz e fim da missa. Como eu já estava próximo da porta de saída foi fácil para deixar a igreja. Minha sogra, que era da comunidade, foi falar com algumas pessoas conhecidas. Minha esposa e eu ficamos aguardando-a no pátio da igreja. Nisso se aproxima uma senhora que se dirige até a minha esposa e diz, Ah, você é da cidade tal e tal? Ela respondeu que sim e que estávamos de passeio pela cidade. Ao responder minha esposa tocou-me no ombro, o que fez com que a senhora me percebesse ao seu lado. Até então eu estava invisível. Logo que me viu a sua curiosidade desviou-se da cidade de onde vínhamos. Os seus olhos se avivaram e a curiosidade foi dirigida a mim, ou melhor, a cadeira. Ela deu-me aquela olhada completamente indiscreta de cima a baixo. Provavelmente me havia deixado nu, porque foi assim que me senti. Já não me restavam mais dúvidas que viria alguma pergunta mexeriqueira. E não deu outra. O que foi que aconteceu? Perguntou-me ela a queima-roupa. Deixei o silêncio tomar conta do espaço por alguns segundos. Ele, por vezes, incomoda. Foi o tempo necessário para que ela percebesse que havia sido indiscreta. Assim, ela emendou, Desculpe-me, se é que posso lhe perguntar… Como ela já havia se tocado um pouco da indelizadeza, respondi-lhe, educadamente com um sorriso, Não, não foi nada de mais. Foi um acidente de carro há muitos anos… E ampliei o sorriso. Ela imediatamente olhou para o lado, dirigindo-se à minha esposa e a alguns curiosos que se haviam aproximado e disse, Pois é, essa gente, apontando-me o dedo, muitas vezes é muito mais feliz do que nós … Essa gente… era eu hehehe. Ela continuou com mais alguns comentários sem sentido, como se os cadeirantes fossem uma categoria distinta, uma classe profissional ou algo do gênero. Isso acontece na rua, nas empresas e nas organizações quando as pessoas, sejam eles colaboradores, gestores ou diretores classificam aos demais como integrantes de uma massa que se pode rotular como iguais, sem entender que o único que um cadeirante tem em comum com outro, é a cadeira; que o único que um careca tem em comum com outro, é a falta de cabelo; que o único que uma loira tem em comum com outra, é a cor do cabelo; que o único que um colaborador tem em comum com outro, talvez seja o posto de trabalho.
Eis um grande desafio para as pessoas e principalmente para os gestores. Entender que o outro é tão único quanto ele.
E assim tratá-lo!