Muito tem se ensinado a falar. São cursos e mais cursos de oratória para expor os argumentos de uma maneira tal que se consiga persuadir e convencer os outros. Pouco, muito pouco tem se ensinado a escutar. Por isso a pergunta: o que você está escutando?
Analise o seguinte exemplo extraído do livro de Daniel Pink (2013, To sell is human): você se envolveu num projeto de arrecadação de recursos para uma campanha de caridade em prol de uma instituição beneficente. Logo, começa a manter contato com os seus amigos, colegas e familiares para angariá-los. Contata o seu cunhado e lhe pede uma contribuição de R$ 50,00. A resposta, porém, não é aquela que você queria. Ele lhe diz: Desculpe, eu não tenho R$ 50,00. Você se frustra, até se irrita. Mas preste atenção. O que você ouviu na fala dele? Uma negativa? Pode ser, mas se você se concentrar um pouco você verá que o seu cunhado não está negando, mas sim, oferecendo… Como assim? Na resposta ele diz que não tem os R$ 50,00 que você pediu, mas ele não disse que não quer colaborar. Quem sabe ele não tenha R$ 10,00 ou 20,00? Ou até poderia colaborar de outra maneira… Ele também poderia ter respondido, Não, eu não posso dar agora. Outra resposta que não é uma negativa, mas uma oferta. Onde? Naquilo que ele não verbalizou, mas deixou como hipótese de dar a contribuição em outro momento. O problema é que nós apenas ouvimos. Nós não sabemos escutar.
O ato de ouvir ocupa somente um quarto de nosso tempo, determinando o quanto negligenciamos essa habilidade. Nós nos preocupamos em falar e falar… Considerando que ouvir é a capacidade de distinguir os sons e escutar é a habilidade de interpretá-los adequadamente, a nossa escuta é bem inferior aos 25% de tempo que dedicamos a ouvir. Apesar de termos dois “orelhões” e uma só boca não se tem notícia de alguma escola ou universidade que nos ensine a escutar. Por outro lado, os cursos de oratória são oferecidos em grande número e estão sempre lotados. Professores e palestrantes de oratária ganham fortunas. Mas onde estão os cursos de “escutatória”? Timidamente tem surgido e tem sido destacada a necessidade de que se desenvolva a habilidade da escuta nas relações interpessoais. Embora a ideia dominante ainda seja de que o processo de comunicação se dá na fala e não na escuta. Muitos ainda acreditam que o oposto de escutar é calar e esperar a vez de falar. As pessoas veem o outro falando e ouvem os sons, mas não escutam a mensagem. Não interpretam aquilo que se fala. Não escutam. Com isso, não se escutam as ofertas nas falas do interlocutor. Estão preocupadas com o que vão responder. Em muitos casos sequer respeitam o tempo de falar do outro, porque as pessoas simplesmente as interrompem, ancoradas na arrogância de que aquilo que tem para falar é mais importante. Segundo Pink (2013), uma pesquisa mostrou que a maioria dos médicos não deixam os seus pacientes falar nem por 18 segundos sem os interromper. Não escutam aquilo que o paciente tem para falar sobre um problema que ninguém melhor do que ele para descrever. Certamente a probabilidade de se errar o diagnóstico aumenta na falta da escuta.
Por isso, a necessidade de se aprender a ouvir intimamente para se começar a escutar as ofertas que antes se perdiam é fundamental. Assim, pode-se fazer o diagnóstico adequado das falas de nossos interlocutores. Ao se desenvolver essa habilidade em nossas relações passaremos a ver ofertas e oportunidades onde antes apenas víamos rejeição e negativas.
E você, está apenas ouvindo ou está escutando?