Nós todos temos os nossos conceitos. Muitos desses conceitos nos fornecem elementos que nos levam a criar estereótipos. Esses estereótipos, por sua vez, alimentam muitos dos preconceitos que também nós carregamos. Não estou dizendo nem que é bom ou que é ruim, apenas que assim é. Até pode ser bom o preconceito surgido de um estereótipo, como por exemplo de que todo brasileiro é alegre e divertido. Porém, pode ser muito ruim o preconceito surgido de um estereótipo, como por exemplo de que todo usuário de cadeira de rodas é um coitadinho. Assim, creio que nós como cidadãos deveríamos detectar situações ruins e trabalhar para diminui-las. Por isso considero que a participação nas demonstrações esportivas da Associação Portuguesa de Pessoas com Deficiência – APD Braga tem sido o que de mais gratificante tenho feito ultimamente. Na semana passada participamos de uma atividade no CLIP, um colégio na cidade do Porto.
A APD Braga é uma instituição que tem trabalhado para mudar conceitos, visando apequenar estereótipos que vão reduzir os preconceitos por meio dos esportes. Como assim? A APD Braga tem recebido convites de instituições de ensino para realizar apresentações da prática desportiva entre as pessoas com deficiência. Destaca-se no cenário o basquete sobre rodas, considerando-se a equipe competitiva existente em Braga, a agilidade e a competitividade do esporte e a disponibilidade de atletas em participar desses eventos. Convite recebido, a APD desloca-se até o local levando consigo cadeiras para a prática do basquete sobre rodas, bolas, atletas com deficiência e muita disposição para mudar alguns conceitos nos pequeninos que assistem ao evento. Não só assistem, participam ativamente. Sim, acredita-se que se queremos diminuir preconceitos e minimizar estereótipos, o primeiro passo a ser dado é mudar os conceitos. E quais os conceitos que precisam ser mudados nessa realidade? Entendo que há de se mudar a interpretação da relação entre sociedade e cidadão. De que maneira?
Desde que nascemos e até o momento em que morremos somos considerados cidadãos em nossa sociedade. Pode-se entender cidadão como o indivíduo que tem direitos e deveres civis e políticos dentro de uma sociedade livre. Sociedade esta que, por sua vez, deve garantir o exercício desses direitos e cobrar os deveres de cada um dos cidadãos. Nós não precisamos ter determinadas características físicas para que sejamos cidadãos. Não é o fato de usar ou não uma cadeira de rodas que vai me fazer mais ou menos cidadão. A partir desse entendimento a relação entre cidadãos que tem alguma limitação física e a sociedade pode ser mudada. A pessoa com “deficiência” é um cidadão, tendo assim os seus direitos e os seus deveres. Portanto, cabe a sociedade garanti-los e cobrá-los. Não podendo fazê-lo, onde é que está a deficiência? No cidadão ou na sociedade? Mudar essa relação fará com que as pessoas percebam que o cidadão não tem deficiências, pode ter até alguma limitação, mas o indivíduo é um cidadão e ponto final. Se a sociedade não consegue garantir-lhe os direitos de exercer a sua cidadania a deficiência não está no cidadão, mas na sociedade. Entender essa realidade é uma mudança de conceitos que mudará os elementos que criam estereótipos negativos sobre as pessoas que tem lá as suas limitações, diminuindo com isso os preconceitos.

Somos todos cidadãos.
Vamos eliminar a deficiência da sociedade!
- Parabéns à APD e à sua diretoria por investir tempo e recursos nessa estratégia para diminuição de preconceitos.
- Parabéns ao técnico Ricardo pela disponibilidade em sempre partilhar a sua experiência com os jovens nas escolas.
- Parabéns ao CLIP e aos seus professores e colaboradores pela iniciativa de dar a oportunidade aos seus alunos para uma experiência transformadora.