
Quem é você no espaço que ocupa?
O aluguel de temporada é uma atividade bastante intensa no verão em grande parte da região litorânea e aqui em Florianópolis não é diferente. Faz mais de vinte anos que moro na cidade e nos últimos três anos, minha esposa e eu, nos dedicamos a esse trabalho ao alugar por meio das plataformas virtuais. Dessa forma, as festas de Natal e de final de ano, assim como o tempo das férias, são vividas entre a recepção e a acolhida de novos inquilinos e a limpeza, a organização e a despedida daqueles que terminaram suas férias para que outros cheguem. A experiência é gratificante, porque as interações são boas e conhecemos pessoas de todas as partes do mundo, como de Portugal, Estados Unidos, Uruguai, Chile, Argentina e das diferentes regiões do Brasil. Por outro lado, é uma atividade desafiante, porque o estado em que as pessoas deixam o espaço alugado, muitas vezes, é lamentável. As toalhas ficam jogadas no chão, o banheiro imundo, os sofás cheios de areia, as almofadas com manchas de todos os tipos, a geladeira com produtos apodrecidos, as louças encardidas e os lixeiros cheios de restos de comidas com mau cheiro, entre outras surpresas inimagináveis para períodos tão curtos de uso de um espaço.
Por vezes, nos perguntamos:
o que um espaço que foi ocupado por alguém pode ensinar sobre a pessoa?
Resposta exata não há, porém tudo o que fazemos ou deixamos de fazer ensina algo a alguém.
Uma pessoa poderia dizer, “eu estou pagando, assim deixo o espaço como eu quero”. É uma forma de pensar, principalmente considerando que os espaços alugados por intermédio das plataformas virtuais, em geral, incluem uma taxa de limpeza, assim como os hotéis cobram por esse serviço. Porém, acredito que o fato de se pagar não nos dá o direito de não cuidar do espaço. Talvez, o reflexo desse pensamento possa ser visto nos bairros, nas organizações, nas cidades e no nosso país.
Por meio dos impostos pagamos por todos os serviços de que dispomos, como o recolhimento do lixo, a limpeza das ruas ou a iluminação pública, contudo isso não nos permite dispor o lixo em horários não programados, de jogar sujeira nas ruas ou de quebrar as lâmpadas da iluminação que atende a todos os transeuntes.
Nas nossas organizações pagamos tudo do que dispomos por intermédio do nosso trabalho e da mesma maneira isso não nos dá o direito de desperdiçar os recursos, assim como de negligenciar os cuidados com as máquinas e os equipamentos usados no processo produtivo.
A predominância do pensamento “eu estou pagando” se traduz em desleixo e descuido e o país que vivemos é a prova disso. Muitas vezes, simplesmente porque tenho o direito a saúde pública e gratuita, marco uma consulta e não compareço, ainda que isso implique em que outra pessoa deixe de ser atendida. Enfim, vivemos num país em que se acredita porque “estou pagando” nos dá o direito de sujar e descuidar e o reflexo disso é uma sociedade suja e descuidada.
Voltemos aos desafios dos aluguéis por temporada e o que eles nos ensinam. Quando nós encontramos o espaço descuidado e bagunçado sabemos que isso fala mais das pessoas que aí estiveram do que elas poderiam imaginar. O comportamento humano é uma ciência não exata, entretanto entendemos que as condições em que uma pessoa deixa o espaço que usou nos ensina muito, porque se aplica o ditado “quando Pedro fala de Paulo ouço mais de Pedro do que de Paulo”. O espaço que ocupa fala sobre você!
Quem é você na sua casa, seja ela própria ou alugada?
Quem é você no bairro e na cidade?
Quem é você na organização?
Certamente como você deixa o espaço vai responder parte da pergunta.
Moacir Rauber
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