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NÃO BATA A PORTA AO SAIR!

Não bata a porta ao sair!

O projeto fala de atribuições e responsabilidades desafiadoras; pede requisitos e qualificações específicas; apresenta um ambiente amigável e, uma remuneração tentadora que chamou a atenção da minha amiga acima de sessenta anos. Escolhida, ingressa na organização com entusiasmo para contribuir com os resultados, esforçando-se para se integrar. O ambiente esperado, porém, não se concretiza. A minha amiga encontrava contradições nas linhas de comando e os problemas de comunicação interferiram nos processos operacionais do dia-a-dia, o que geravam frustração e ansiedade, além do questionamento: será que sou competente o bastante para atingir os resultados? As competências estratégicas do profissional experiente, maduro e com conhecimento para contribuir e agregar reveladas na entrevista, não eram usadas. A ansiedade estava acompanhada da frustração. Ainda que fosse uma empresa de grande porte, e que oferecesse uma boa remuneração para um profissional terceirizado, passados três meses, ela estava convicta de que sairia. Entretanto, como sair a organização sem bater a porta?

Além da ansiedade e da frustração, ela desenvolvera outros sentimentos, como a irritação, o estresse e o esgotamento que predominavam frente a alegria, a energia e o entusiasmo iniciais. A ideia de ter pessoas com iniciativa se contrapunha ao cerceamento de qualquer movimento não previsto. A resiliência para as situações desafiadoras se resumia a falta de tempo para cumprir com as atividades operacionais. A decisão de sair estava tomada, faltava decidir como comunicaria a sua saída sem fechar as portas. Ela procurou ajuda. Um amigo meu e eu a escutamos. Ela escreveu o que queria dizer para a sua gestora na saída. A sua escrita estava carregada de julgamentos, sinônimo de bater à porta. “Me escutaram… mas sem nada possível de ser mudado”, “…fui sub utilizada”, “… Me frustraram”, entre outras expressões que revelavam ressentimentos. Na conversa que ela teve conosco perguntamos como ela se sentiria ao ouvir o que ela tinha para dizer. Ela entendeu que poderia dizer a mesma coisa de outra forma, porque é diferente o que alguém fala e o que o outro ouve, assim como é distinto o que alguém faz e como o outro percebe o que foi feito. O sentimento era de desconforto. A partir desse ponto, a Pausa que ela fez ao pedir ajuda resgatou o Sábio de quem tem inteligência emocional para poder observar sem julgar; sentir com interesse pelo outro; identificar as necessidades das partes; para, por fim, expressar-se com a sabedoria que se espera de alguém com potencial e experiência acima de sessenta anos que poderia ter contribuído muito mais com a organização. Ela reescreveu a sua fala com a ajuda do meu amigo.

Começava dizendo “… após muita reflexão, gostaria de comunicar que eu decidi me desligar da empresa. Não a deixarei na mão, assim vou cumprir o acordado no contrato previsto para que você possa fazer minha reposição, se assim você quiser. Agradeço a oportunidade”.

Caso houvesse perguntas sobre as razões da saída, ela iria emocionalmente preparada para responder com a clareza de quem tem os recursos internos para isso com a liberdade emocional de um ser humano emancipado. E as perguntas vieram e ela pode dizer que o trabalho era “muito operacional e que competia com as tarefas estratégicas para a qual estou preparada, assim me senti sobrecarregada…”. Ela assume a responsabilidade sobre os seus sentimentos e revela as necessidades de que as atividades estratégicas fossem o foco. Ela não acusa nem se escusa, porque se comunicou com a sabedoria de quem sabe dos recursos que tem ao usar ferramentas vindas do conhecimento: a Inteligência Positiva com a Comunicação Não-Violenta a partir da Pausa.

Enfim, a entrevista com a gestora terminou com a troca de informações importantes para as partes. O acordo foi cumprido e a minha amiga se despediu sendo homenageada pelos colegas de empresa. Destaque-se, porém, a humildade de pedir ajuda como a virtude que a levou a sair sem bater a porta. Isso demonstra a mentalidade de crescimento numa pessoa com maturidade e experiência de carreira e de vida.

Moacir Rauber

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