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Como respeitar quem não te respeita?

 

O evento era sobre segurança no trânsito com um grupo de trabalhadores do transporte coletivo, entre eles motoristas e cobradores. Porém, a questão a ser respondida se voltava para a relação de respeito entre os usuários e os trabalhadores. Um deles, depois de relatar um caso de flagrante desrespeito por parte de um usuário para com um cobrador, perguntou:

– Como respeitar quem não te respeita?

Acredito ser um grande desafio, porque, para mim, o respeito é um dos valores fundamentais das relações humanas. Entendo que cada ser humano é o centro do seu próprio universo, sendo esse reconhecimento a premissa para que cada um reconheça o outro como o centro do seu universo. Não se trata de uma visão egoísta em que cada um se preocupa somente consigo mesmo. É justamente o inverso.

Ao ter a exata noção de que eu sou a pessoa mais importante para mim tenho as condições de reconhecer que o outro é a pessoa mais importante para ele.

Com isso em mente, posso me dar o direito de ter a minha opinião reconhecendo que o outro terá a sua. Podem ser opiniões diferentes? Sim, justamente porque ele é um outro, provavelmente, terá uma visão diferente de mundo com uma opinião que tende a ser divergente da minha. Da mesma forma, ao ocupar-me de mim em primeiro lugar não se trata de um ato egoísta, mas simplesmente natural e humano.

É esse entendimento ampliado da unicidade do indivíduo que vai me levar as relações de respeito para com o outro. Entretanto, isso não é sinônimo de desrespeito ou de falta de educação nas relações com o outro, independentemente de quem seja o outro. Exatamente como no caso relatado pelo trabalhador que citou as inúmeras vezes em que eles são desrespeitados por usuários que usam a irritação com a própria condição como justificativa para serem mal-educados. Por isso, a pergunta do trabalhador dos transportes coletivos faz todo o sentido: como respeitar quem não te respeita?

Acredito que cada um de nós deve respeitar o seu próximo, embora eu saiba que isso nem sempre se reflita na realidade. Entretanto, entendo que não se deve cair na tentação de revidar a altura quando alguém é desrespeitoso ou mal-educado. Caso o desrespeito ou a falta de educação ultrapassem o nível da razoabilidade o caminho é outro: faça um boletim de ocorrência ou recorra a legalidade da nossa sociedade que existe para solucionar tais problemas. Porém, a reflexão aqui é como se relacionar com quem não te respeita mantendo o respeito? Entendo ser simples, não digo fácil. Se eu trato o outro com o devido respeito e a recíproca não ocorre, quem está com a razão? Aquele que respeitou ou aquele que desrespeitou? Quando eu trato o meu interlocutor educadamente e a resposta é mal-educada, quem está correto? O educado ou o mal-educado? Exatamente. Não é quem respeita o outro ou aquele que trata o outro com educação que está agindo equivocadamente, mas sim aquele que desrespeita e que é mal-educado. Desse modo, o problema é de quem não respeita e de quem é mal-educado. Não é o fato de que eu me encontre com alguém que é desrespeitoso e mal-educado que deve fazer-me ser desrespeitoso e mal-educado. Caso eu seja vencido pela tentação de retrucar da mesma forma como o meu interlocutor faz, eu estarei me nivelando a ele. Por isso que digo ser simples o raciocínio, embora eu saiba que nem sempre seja fácil a execução.

Ao final do evento, todos concordaram que talvez esse seja o melhor raciocínio. Sempre e quando alguém se deparar com alguém desrespeitoso ou mal-educado o melhor caminho é o de manter o respeito e a educação. Porque, certamente, o mal-educado e o desrespeitoso é ele e não eu.

Como tratar alguém que não te respeita? Respeitando-o.

Moacir Rauber

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