Os estatísticos classificam como outliers, ou ponto fora da curva, os dados que se afastam muito daquilo que representa a média de um determinado grupo. Um ponto fora da curva se distancia da normalidade, podendo prejudicar os resultados de uma pesquisa e afetar negativamente um algoritmo pensado para resolver problemas de forma mais automatizada. Desse modo, é importante reconhecer um potencial ponto fora da curva ao analisar o seu conjunto de dados. Ele se diferencia muito dos demais dados recolhidos no mesmo processo? É possível que seja um ponto fora da curva. Na sequência organize os dados do menor até o maior para em seguida calcular a mediana do seu conjunto de dados. Com essa análise você poderá encontrar as barreiras internas e as barreiras externas do seu conjunto de dados e todos aqueles que não estiverem dentro delas serão um ponto fora da curva. Com os dados em mãos você pode descartá-los, para que não comprometam o resultado da sua pesquisa, ou analisá-los, indagando-se por que ele é um ponto fora da curva. A questão que coloco é o que fazer com os pontos fora da curva quando se fala em Gestão de Pessoas?
Normalmente, o ponto fora da curva é tratado como um dado discrepante, anomalia, anormalidade, exceção ou falha. Em dados quantitativos os pontos fora da curva podem ser um erro de digitação ou uma amostra mal coletada, tornando-se relevante descartá-los antes mesmo de se calcular as médias caso se tenha como objetivo estipular parâmetros. Porém, causa-me espanto ver decisões sobre pessoas serem tomadas usando-se técnicas estatísticas, inclusive ao se descartar os pontos fora da curva. Os dados, ou melhor, as pessoas são agrupadas em gráficos e planilhas que indicam as estatísticas que são usadas para tomar uma decisão. Um gráfico com as respostas de mais de cem candidatos tem lá dois ou três pontos fora da curva que não se alinham com as respostas que se esperava para uma determinada situação ou perfil. Sem saber quem são os pontos fora da curva eles são descartados.
No meu ponto de vista, usar informações estatísticas sobre pessoas para então classificá-las e criar uma taxonomia pode ser um desserviço para aquilo que se entende como Gestão com Pessoas. Os dados agrupados de um determinado grupo de pessoas podem indicar uma tendência, mas não podem classificar os indivíduos. Entendo que todos nós, indivíduos plurais, únicos e singulares, somos naturalmente um ponto fora da curva. Não há como ser igual sendo diferente. Não vejo possibilidade de que uma determinada resposta possa levar a que a pessoa seja classificada como resistente à mudança, reacionária, pouco criativa ou sem capacidade de liderança. A pessoa pode ser tudo isso até o dia em ela deixa de ser. A neurociência confirma que o ser humano tem a capacidade de se desenvolver, aprimorar e modificar os comportamentos em qualquer fase de sua vida. Olhando para trás, e também nos dias de hoje, muitos gestores de RH insistem em classificar e rotular as pessoas considerando a sua data de nascimento ou a sua origem social. Entendo perfeitamente que pode haver uma tendência comportamental entre os nascidos em determinado período pela idade que tem e pelo convívio que tiveram, porém não concordo em classificar as pessoas dessa maneira, porque simplesmente são cometidas injustiças. E as injustiças atingem pessoas que não são meros dados. Como dizer que alguém com cinquenta anos é menos criativo do que alguém que tenha 20 anos simplesmente pela sua data de nascimento? Por que validar a ideia de que uma pessoa abaixo dos trinta anos busque menos a estabilidade do que alguém acima dos quarenta?
Usar informações estatísticas sobre as pessoas e os seus comportamentos para validar competências é um risco. Não somos iguais. Não somos estáticos. Não vejo que seja possível classificar os seres humanos, porque não há estatística que abarque todas as variáveis a que um ser humano está sujeito num dia, imagine então numa vida. Entendo que apesar da aparente racionalidade humana, o ser humano não é lógico. Por isso, todo ser humano sempre será um Ponto Fora da Curva. Desse modo, sempre que olho para um gráfico que apresenta um ponto fora da curva penso que esse ponto poderia ser uma pessoa. Essa pessoa certamente é filho de alguém e pode ser o pai de outrem. E esse ponto fora da curva poderia ser você. Você gostaria de ser descartado por ser um ponto fora da curva?
Moacir Rauber
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