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Seres humanos: somos ou não somos insanos?
Insanidade orgulhosa
Para muitas pessoas há um orgulho insano no fato de viver numa cidade grande. Quantas vezes você já se confrontou com o “importante” morador de uma capital dizendo para o “pouco importante” morador de uma cidade do interior:
– Mas lá não existe nada para se fazer?
Essa relação se dá frente a praticamente todas as grandes cidades, supostamente mais “desenvolvidas”, com relação as pequenas cidades, supostamente “menos desenvolvidas”. São muitos dos habitantes de São Paulo ou Rio que não se imaginam vivendo fora da “loucura” da vida moderna que esses centros lhes proporcionam; são muitos dos habitantes de Curitiba que não se imaginam vivendo em cidades com cem, cinquenta ou dez mil habitantes. E assim sucessivamente até se chegar ao morador rural. E, sempre a principal argumentação de um com relação ao outro continua sendo que nas povoações menores não há nada para se fazer.
Muitos dos habitantes de cidades grandes vivem em bairros mal iluminados, violentos e, muitas vezes, com pouca infraestrutura básica. Além disso, estão distantes do trabalho, entre uma e duas horas, que os obriga a se levantar praticamente de madrugada. A partir desse momento, começa toda a movimentação. Toma-se um banho rápido, pega-se um ônibus, enfrenta-se um engarrafamento e depois de toda essa agitação chega-se ao trabalho, muitas vezes atrasado. Depois de um dia tumultuado, no qual não se tem tempo sequer para pensar nos familiares e amigos, retorna-se para casa. Logicamente, depois de enfrentar novo engarrafamento, completamente exausto. Em função da “importância que a pessoa tem para o sistema”, cada vez menos se tem noção do que seja um final de semana ou domingo completamente sem nada para fazer. E cada cidadão tem a impressão de continuar sendo imprescindível para que todo o sistema continue funcionando.
Essa rotina se repete em cidades como Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte entre outras tantas capitais brasileiras, onde as pessoas são apenas mais uma no meio da multidão. Quando, por fim essas pessoas têm uma semana de folga ou mesmo um mês de férias, vão buscar suas origens nos parentes das cidades pequenas. Nesse passeio os encontram morando na mesma rua, na mesma casa ou no mesmo sítio, com a mesma rotina de 10, 15 ou 20 anos atrás.
Após o importante morador da cidade grande explicar com orgulho a sua rotina enlouquecida, vem a pergunta:
– E aqui, o que vocês fazem?
A melhor e mais prazerosa resposta somente poderia ser, Nada! Isso porque nas cidades menores e no campo ainda se tem tempo para não se fazer Nada. Ainda se tem tempo para admirar uma linda paisagem, ouvir o canto de um pássaro ou para tirar o leite de uma vaca sabendo que ele vai servir de alimento. Tudo isso porque nas cidades pequenas ainda resta tempo para não fazer Nada. Na vida no interior ainda se reserva tempo para lembrar que as atividades de qualquer pessoa são perfeitamente substituíveis por qualquer outra pessoa que as execute da mesma forma, mas que as pessoas são únicas e insubstituíveis. Somos ou não somos insanos? E ainda nos orgulhamos disso.
Moacir Rauber