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Dia de Finados: ninguém pode morrer por nós (02-11)

Ninguém pode nascer por nós…

Ontem foi dia de finados, um dia para homenagear aqueles que já partiram. Meus pais e muitas outras pessoas que me eram queridas não estão mais por aqui. Acredito que a melhor homenagem que se pode fazer a eles é viver a vida na sua plenitude.

Porém, ao observar muitas pessoas percebo que elas têm aberto mão da prerrogativa de apropriar-se da própria vida, quase que terceirizando a beleza presente na autonomia das escolhas que permitem que cada um evolua na direção pretendida.

Vive-se um mundo de oportunidades para explorar cada minuto da vida. O conhecimento e a possibilidade de aprendizagem nunca estiveram tão disponíveis, porém as pessoas optam por nada fazer. Numa linguagem mais religiosa, as pessoas não exercem o livre arbítrio preferindo deixar o conhecimento e a aprendizagem com os outros que passam a determinar o que é melhor para si mesmo.

Outro dia acompanhei o diálogo de duas pessoas:

– Não, eu não tenho tempo para ler um livro. É muito demorado…

E a resposta recebida em concordância dizia:

– Ahh, eu também não. Leio no máximo as frases curtas que me mandam. Não dá. É perda de tempo.

Não é perda de tempo, é o reflexo de um tempo. A leitura cansa. Cada vez menos se encontram pessoas que leem um livro, uma revista ou um texto mais longo, refletindo a pobreza de espírito de nosso tempo. Estudar cansa. Cada vez menos os alunos, sejam eles crianças, jovens ou adultos, dedicam-se a estudar com afinco, porque se distraem com as tecnologias presentes nas escolas, nas faculdades e nos lares. Praticar esporte cansa. Cada vez menos as pessoas têm praticado esportes individuais ou coletivos, porque estão entretidas com os celulares ou jogos virtuais. Trabalhar cansa. Cada vez menos se encontram pessoas dispostas a fazer trabalhos que exijam esforço físico, porque as atividades podem ser automatizadas. Participar da comunidade cansa. Cada vez menos as pessoas participam da comunidade onde vivem, preferindo ficar no conforto das suas pequenas fortalezas. As atividades rotineiras cansam. Cada vez menos as pessoas realizam as atividades rotineiras com cuidado e zelo, preferindo a improvisação da desorganização.

A disciplina cansa. Cada vez menos as pessoas são capazes de manter a disciplina das escolhas conscientes, deixando-se levar pelas consequências de não fazer nada. É a inércia frente a vida que reflete a não ação com resultados.

As pessoas preferem a não escolha, que tem como resultados a realidade que não querem, porque elas não entendem que a disciplina de dominar a mente é o exercício pleno da liberdade que permite que cada um seja protagonista da própria vida.

Para muitos, até parece que a vida cansa.

Por isso, entendo que muitas pessoas estão terceirizando a capacidade de estudar, de aprender e de se desenvolver e, com isso, delegam a vida. Não querem se comprometer nem se envolver demais. Preferem a inconstância do descompromisso e terminam por transferir para os outros as próprias escolhas. Por fim, estão tão ocupadas com o descompromisso e com as distrações que não encontram tempo para viver. Ou talvez seja por não se comprometerem e somente se distraírem que não vivem…

No dia de finados é um bom momento para se pensar na vida e assumir as rédeas das próprias escolhas. Penso ser um momento de refletir como não se eximir do privilégio de assumir o protagonismo da própria vida,

Porque ninguém pode nascer por nós; ninguém pode viver por nós; e ninguém pode morrer por nós.

Aquele que podia, já o fez.

Moacir Rauber

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