Vida: oportunidades para exercer a paciência
Naquele dia, segundo a sua agenda, a palestra virtual estava marcada para começar às 20h. O palestrante, para quem a pontualidade era importante, tentava entrar na sala virtual 20 minutos antes para revisar equipamentos, tela de compartilhamento, áudio e receber os participantes. Entretanto, a abertura da sala estava sob responsabilidade do diretor da empresa. Assim, conforme os minutos passavam, a impaciência tomava conta dele. O relógio já marcava 20h e ele tentou ligar para o diretor, que não atendeu. O diálogo interno ficava agressivo, “Me irrita essa falta de pontualidade!”. Finalmente, decidiu respirar fundo e aceitar que essa ação não estava no seu controle. Um minuto depois a sala foi aberta:
– Boa noite, meu amigo, saudou o diretor.
– Boa noite, respondeu o palestrante incomodado.
– Estamos em tempo, o pessoal deve começar a entrar agora. A reunião vai começar às 20h15min.
Logo, o palestrante relaxou.
Aqui há algumas questões para serem analisadas, entre elas as oportunidades para exercer a paciência, a força para atuar naquilo que está no seu controle e a diferença entre as estratégias e as necessidades. Dessa perspectiva, acredito que a paciência é a chave que permite esclarecer os pontos seguintes.
Entenda-se paciência como a virtude do resultado da força emocional para o autocontrole que conduz o indivíduo a suportar a pressão de situações que não estão no seu controle. Inclusive, a paciência se revela na capacidade de escutar injúrias, supostas ofensas ou aceitar comportamentos dissonantes mantendo a calma, e ainda tolerar erros de terceiros. A palavra paciência tem origem latina patientĭa,ae entendida como a ‘capacidade de suportar, de resistir’. Destaque-se, porém, que paciência não é passividade e tampouco o ato de não escolher. Muito pelo contrário. A paciência é a virtude que permite refletir para atuar no momento apropriado sobre aquilo que está no seu controle, assim como reassumir o controle emocional para fazer o efetivo discernimento sobre as escolhas possíveis.
Assim, com paciência se pode avançar para os outros pontos: (1) o que estava no controle do palestrante? Não estava no seu controle abrir a sala virtual, contudo ligar para o diretor estava e ele o fez. Porém, o diretor não atendeu ao telefone. Assim, somente restava ao palestrante exercer a paciência. (2) Quais eram as suas necessidades e a quais eram as estratégias adotadas pelo palestrante? O palestrante adotava a estratégia da pontualidade para cuidar das necessidades suas, possivelmente de respeito, coerência ou consideração. Porém, a estratégia não funcionaria mais na situação descrita, porque não estava no seu controle iniciar a reunião. Desse modo, somente restava ao palestrante exercer a paciência.
Aqui, cabe resgatar que ser paciente não se refere a permitir que os outros o maltratem ou que o desrespeitem. A virtude da paciência, que exige muita força emocional, nos leva a ser tolerantes conosco e com os outros ao não exigir a perfeição nas relações segundo as nossas expectativas. Volta-se para a capacidade de avaliar o que está sob o meu controle, assim como para o exercício do discernimento de escolher uma das tantas estratégias disponíveis para cuidar das necessidades e atuar. E se os resultados não forem os esperados? Paciência, porque quando somos impacientes abrimos as portas para os comportamentos agressivos e antissociais, com as justificativas internas para os impulsos reativos que nos levam a ser violentos.
Enfim, após a entrada do diretor na sala virtual e a informação de que estavam no horário, o palestrante relaxou e lembrou-se: ele adotava a estratégia de agendar os compromissos com quinze minutos de antecedência para poder ser sempre pontual. Com isso, ele atendia a sua necessidade de respeito para com os participantes; de coerência para consigo mesmo; e de consideração para com a empresa que o contratara. Estava tudo certo, porque ele havia esquecido da estratégia adotada.
Quais as oportunidades que a vida lhe dá para exercer a paciência?
Na paciência está a verdadeira alegria!
(Francisco de Assis)
Moacir Rauber
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